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    Arquivo: Edição de 15-02-2011

    SECÇÃO: Editorial


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    Rosas de Inverno

    Costumo chamar às camélias rosas de Inverno, são elas e as magnólias que vestem de flores a nossa terra nesta época do ano.

    Em Ermesinde existem belos exemplares de japoneiras e magnólias de porte significativo nas velhas quintas, quintais e jardins. Coloridas, carnudas e viçosas ainda nos sorriem neste início de ano tão frio e tão cinzento.

    Às vezes tento acreditar que o Inverno é curto e daqui a pouco é Primavera, mas é difícil, quando temos consciência do número de desempregados que nos rodeiam, da solidão de outros, do desespero dos que procuram um emprego, hoje, amanhã e depois…

    Folheamos os jornais e lemos: «Diplomados precários mais do que duplicaram em dez anos» (1).

    Ou «os diplomados são o principal motor da precariedade» (1).

    Para quem foi professora estas afirmações são extremamente penosas, sentimos que já ninguém acredita que estudar faz falta, que quem estuda é diferente independentemente do emprego que encontra ou não, que mesmo assim é mais fácil encontrar emprego se se tiver uma boa formação…

    Que posso responder a uma jovem, que com muitas dificuldades económicas tirou um curso superior e que no primeiro trabalho que arranjou lhe pagaram 200 euros por mês, a seguir arranjou outro de 500 euros; agora encontrou um estágio na Suíça, e pergunta: que faço?

    Complicado! Não, muito simples, vai!, e lá se vão as teorias da importância da qualificação dos jovens para a renovação da nossa economia.

    Alguém dizia aqui há dias: «Criamos uma geração que não se revê no País e que o País não quer ver» (1).

    Vivemos como novos-ricos deslumbrados, julgamos ter encontrado a árvore das patacas – País, empresas e particulares –, tudo eram facilidades e os bancos a engordar. E de repente tudo se desmoronou e não volta a haver uma nova oportunidade.

    Hoje é tão ridículo e inoperante cruzar os braços e entrar numa infinidade de lamentações como tentar iludir-nos com pseudo-crescimentos, muitas vezes efémeros e pouco sustentados. A preocupação de mostrar o que de positivo se vai fazendo neste país é por vezes tão exagerada que se torna ridícula. Por outro lado são sempre os mesmos e alguns com muitos rabos-de-palha, hoje são os maiores, amanhã estão na falência, vamos nós lá entendê-los!...

    José Reis, ex-secretário de Estado do Ensino Superior considera que «o sistema de emprego não teve capacidade para valorizar as qualificações que somos capazes de gerar» (1).

    É verdade que muitos dos nossos empresários preferem empregados com baixas qualificações, mas mais grave ainda foi o seu desaparecimento, quantas empresas fecharam ou faliram nos últimos tempos!

    Para António Nóvoa a desadequação entre o que o sistema de ensino produziu e o que o mercado absorveu não é culpa da educação, «houve foi economia a menos» (1).

    «Com a economia em recessão os jovens portugueses procuram no estrangeiro as oportunidades que em Portugal escasseiam» (1).

    Entretanto os que por cá ficam continuam a apertar o cinto, a olhar à sua volta e a equacionar: onde vamos parar?

    Os filhos partem, os pais vão envelhecendo longe dos seus e depois ficamos muito admirados com o número de pessoas que vivem e morrem sós.

    Neste Inverno, neste início de 2011, resta-nos a consolação de ver dois ditadores caírem em menos de um mês e de sentirmos que outros devem ter tremido com o exemplo da revolução no Egipto!

    (1) Raquel Martins, “Público”, 13/02/2011

    Por: Fernanda Lage

     

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