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    Arquivo: Edição de 28-02-2009

    SECÇÃO: Psicologia


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    A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL

    O desemprego e o bem-estar psicológico

    Este é um espaço de reflexão e diálogo sobre temas do domínio da Psicologia, que procurarei dinamizar com regularidade, trazendo para aqui os principais problemas do foro psicológico que afectam pessoas de todas as idades.

    Na qualidade de psicóloga estou disponível para os leitores de “A Voz de Ermesinde” me poderem colocar as questões que desejarem ver esclarecidas, através de carta para a redacção deste quinzenário ou para o seguinte “e-mail”: [email protected]

    Ao trabalho humano são atribuídos diversos significados; tal diversidade deve-se, em parte, ao facto de que a tarefa de atribuir significados é carregada de subjectividade; portanto, o trabalho humano comporta uma gama de sentidos que vão desde do individual ao social, referindo-se à subsistência, ao sentido existencial, à estruturação da personalidade e identidade do indivíduo, além de ocupar lugar de centralidade na organização social.

    O trabalho é a actividade humana na qual se reflecte o carácter evolutivo e inovador da espécie. Os modos de produção de bens e serviços estabeleceram-se ao longo do tempo, requerendo processos organizadores e métodos de divisão do trabalho capazes de mantê-los funcionando. E é no modo de produção capitalista que se evidencia melhor a divisão entre a concepção do trabalho e a sua execução, demarcada pela detenção de meios de produção e compra da força de trabalho.

    Portanto, podemos ver o desemprego como a vicissitude do sistema capitalista, a incongruência entre o potencial de recursos materiais e humanos de um país e o seu real desempenho, somada aos flagrantes desrespeitos a direitos básicos dos trabalhadores, agravando ainda mais a situação natural.

    Entre as consequências psicossociais do desemprego, destacam-se a afectação ao bem-estar psicológico do homem, intimamente relacionadas a ocorrências de deterioração do bem-estar físico, bem como de desagregação social.

    As principais afecções ao bem-estar psicológico provocadas pelo desemprego são: transtornos mentais leves (saúde mental geral), depressão, baixa auto-estima, sentimento de insatisfação com a vida, dificuldades cognitivas e dificuldades de relacionamento familiar.

    No entanto, quando se fala nas questões relacionadas com o desemprego, dificilmente a vida do trabalhador e as consequências para o desempregado são levadas em consideração. A primeira coisa que é afectada no desempregado é a auto-estima, e em consequência dela, a sua própria identidade. Muitos desempregados ficam deprimidos e sentem-se desvalorizados. Prejudica o sono, a alimentação, a pessoa sente-se dispersa e ansiosa.

    A pessoa sem trabalho pensa que é inútil e acaba interpretando a situação de desemprego somente como algo particular, não conseguindo ter consciência de que o problema é, infelizmente, uma questão social que atinge milhares de pessoas no país e no planeta. Muitos estudos indicam que o trabalho é um indicador de sobrevivência, de manutenção da própria saúde mental daqueles que vivem no sistema capitalista. Uma maneira para reverter a situação de desequilíbrio vivida é procurar ajuda e realizar um trabalho terapêutico, com a finalidade de fazer com que as próprias pessoas construam instrumentos para enfrentar a situação.

    Se o desemprego e o capitalismo são inseparáveis, os índices actuais de desemprego são alarmantes e afectam toda a população, pois há, por um lado, os que não conseguem arranjar emprego e, por outro, aqueles que temem perder os seus empregos. As consequências do desemprego para o indivíduo estão associadas também a factores como a duração do desemprego, o contexto sócio-económico em que ocorre, a idade do desempregado, entre outros.

    O indivíduo desempregado percebe que a realidade se alterou e inicia um processo de abandono das referências, dando início à existência de um ciclo que vai do choque, passando pela depressão e podendo conduzir ou não à adaptação. Assim, a pessoa desempregada vive um processo de perda e culpa.

    Com o advento do Capitalismo surgiu uma valorização moral da condição de trabalhador. Actualmente, a atribuição moral da categoria de trabalhador assalariado permanece inalterada, ocasionando uma consequente desvalorização dos indivíduos que não se encontram nesta condição.

    Um desempregado “não exerce” o seu ofício (profissão que escolheu para ser a sua actividade remunerada), mas ainda é uma pessoa, ele faz parte de um grupo social, é sujeito activo, apesar de não estar empregado; está também em transformação como toda a espécie humana.

    O problema da dualidade, emprego e desemprego, está na instabilidade psicológica que surge da falta de recursos financeiros, sociais e psicológicos do indivíduo para enfrentar a condição de desemprego; além da valorização moral do trabalhador, que ocasiona a desvalorização de quem não se encontra a trabalhar.

    É evidente que há uma transição nas relações de trabalho; o emprego formal está a desaparecer e a dar lugar a outras formas de trabalho remunerado, porém, o trabalhador permanece com o mesmo significado instituído de emprego. O emprego formal fornecia uma estrutura temporal à vida do trabalhador e um senso de propósito, fornecia uma rotina e salário regulares; já outras formas de trabalho remunerado como o trabalho por conta própria não fornecem necessariamente as mesmas estruturas.

    Cabe à sociedade minimizar o sofrimento ocasionado pelo desemprego, e discutir novas formas de inserção social, principalmente da população menos favorecida, e excluída, do nosso país, pois eles sofrem mais com a crise do emprego e vivem em constante situação de risco social; é preciso debater a construção do novo mercado de trabalho e das novas formas de trabalho.

    Por: Joana Dias

     

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