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A Tecnologia ao Serviço da Recuperação
Nas últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico tornou-se um dos principais motores de mudança em praticamente todos os sectores da sociedade, e a área da saúde não é exceção. Em particular, os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel determinante na recuperação da saúde da população, oferecendo novas oportunidades de diagnóstico, tratamento e reabilitação que eram impensáveis há apenas uma geração. Do combate ao cancro aos progressos no tratamento de acidentes vasculares cerebrais (AVC), passando pela gestão de doenças neurodegenerativas e pela reabilitação de pessoas amputadas, a tecnologia tem permitido devolver autonomia, dignidade e esperança a milhões de pessoas.
Um dos exemplos mais evidentes desta transformação verifica-se no tratamento do cancro. A tecnologia tem revolucionado tanto o diagnóstico como a terapêutica, com impacto direto na taxa de sobrevivência e na qualidade de vida dos doentes. Os avanços na imagiologia — como a ressonância magnética de alta precisão, a tomografia computorizada de última geração ou a PET-Scan — permitem detetar tumores cada vez mais pequenos, numa fase mais precoce, quando as probabilidades de cura são significativamente superiores. Ao mesmo tempo, novas terapias guiadas por tecnologia, como a radioterapia de intensidade modulada ou a protonterapia, possibilitam atacar apenas as células malignas com alta precisão, preservando as estruturas saudáveis envolventes. Tecnologias emergentes como a medicina personalizada e a sequenciação genética são agora fundamentais para identificar mutações específicas, permitindo que cada doente receba tratamentos adaptados ao seu perfil molecular. Assim, a tecnologia não só melhora a eficácia dos tratamentos, como reduz os efeitos secundários e oferece uma abordagem mais humana e menos agressiva.
No caso dos acidentes vasculares cerebrais, a tecnologia tem também sido decisiva. A rapidez com que um AVC é identificado e tratado é crítica, e hoje os serviços de saúde contam com sistemas digitais de triagem, algoritmos de detecção e equipamentos que permitem intervenções quase imediatas. A telemedicina desempenha aqui um papel importante, sobretudo em regiões onde o acesso a neurologistas é limitado: especialistas conseguem avaliar sinais clínicos em tempo real, orientando equipas locais na administração de tratamentos como a trombólise. Além disso, a reabilitação pós-AVC beneficiou enormemente de novas tecnologias. Equipamentos como exoesqueletos robóticos, plataformas de treino com realidade virtual e softwares de recuperação cognitiva permitem treinar movimentos, estimular áreas cerebrais afetadas e acelerar o processo de recuperação. Estas ferramentas não substituem os profissionais de saúde, mas complementam o seu trabalho, oferecendo ao paciente um acompanhamento mais intensivo, motivador e adaptado ao seu ritmo.
A inteligência artificial, nos últimos anos, tem sido talvez a área mais promissora em termos de impacto futuro na saúde. Sistemas de IA são já utilizados para analisar exames com enorme precisão, auxiliar diagnósticos, prever complicações em doentes internados e identificar padrões que ajudam na prevenção de doenças. Um dos campos mais promissores é o da IA aplicada à reabilitação personalizada. Com base em dados de movimento, força muscular, evolução de sessões anteriores e características individuais, estes sistemas conseguem gerar planos de reabilitação dinâmicos, ajustados diariamente, que maximizam os resultados e motivam o paciente. Em doenças como o cancro, algoritmos avançados ajudam a prever qual o tratamento com maior probabilidade de sucesso, reduzindo tentativas e erros dolorosos e melhorando o prognóstico.
Apesar de todos estes avanços, é fundamental reconhecer que a tecnologia não substitui o papel humano. A relação entre profissional de saúde e paciente continua a ser central, tal como o acompanhamento emocional, o apoio psicológico e o cuidado diário. A tecnologia é, antes de mais, uma ferramenta — poderosa, sim, mas dependente da ética, da sensibilidade e do conhecimento de quem a utiliza. A sua eficácia está intimamente ligada à formação dos profissionais, à acessibilidade para a população e à capacidade dos sistemas de saúde de integrarem estas inovações de forma equitativa.
Ainda assim, o impacto já é inegável. A tecnologia trouxe uma nova era para a recuperação da saúde da população: mais rápida, mais personalizada, mais humana e mais eficaz. Pela primeira vez, estamos a assistir a uma confluência de áreas — robótica, inteligência artificial, genética, impressão 3D, realidade virtual — que juntas estão a redefinir o que significa tratar, reabilitar e cuidar.
A saúde do futuro está a nascer diante dos nossos olhos. E, graças à tecnologia, essa saúde é mais promissora, mais inclusiva e mais capaz de devolver às pessoas aquilo que mais desejam: qualidade de vida, autonomia e esperança.
“Testada tecnologia que traduz sinais cerebrais em movimento físico através de mão robótica e realidade virtual no pós-AVC
O projeto UpReGain, liderado por um grupo de investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), está a testar a utilização de estratégias inovadoras e personalizadas para apoiar a reabilitação de pacientes que sofreram de acidente vascular cerebral (AVC).
Os primeiros ensaios estão a ser realizados com pessoas saudáveis, mas dentro de pouco tempo o projeto avançará para testes com pacientes de AVC. Os resultados preliminares são promissores.
“Neste projeto combinamos uma interface cérebro-computador (BCI) – que estabelece uma ligação direta entre o cérebro e dispositivos externos, sem recorrer a músculos ou nervos –, um exoesqueleto de mão robótica, que oferece feedback físico e somatossensorial, e ambientes de realidade virtual com elementos de gamificação. Esta combinação permite aos pacientes visualizar os movimentos num avatar e executar tarefas em contexto de jogo”, explica Aniana Cruz, investigadora do ISR e coordenadora do projeto UpReGain.
De acordo com a especialista, o objetivo principal é o uso da imaginação motora: ao imaginar abrir ou fechar a mão, o cérebro ativa as mesmas áreas motoras como se o movimento fosse realmente executado. Esse sinal cerebral, captado por electroencefalografia (EEG), é interpretado pelo sistema e transformado em feedback visual (mão virtual), físico (mão robótica) ou em atividades gamificadas (por exemplo: agarrar objetos, espremer frutas, encher um copo).
“O nosso objetivo é comparar abordagens distintas – imaginação motora com feedback robótico, com avatar virtual ou com jogos gamificados – e avaliar o impacto de cada uma em relação à
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Por:
Luís Dias
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