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Edição de 15-12-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Editorial


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Portugal: brilho económico e algumas sombras

Portugal acordou, neste final de 2025, com uma distinção rara e saborosa: o primeiro lugar no ranking anual da The Economist, que avalia o desempenho económico de 36 países maioritariamente desenvolvidos. Crescimento do PIB acima da média europeia, inflação controlada e ganhos expressivos na bolsa foram as razões que levaram este periódico britânico a enaltecer a nossa economia. Um elogio irresistível, sobretudo quando vem de fora e nos devolve uma imagem de país estável, competitivo e capaz de navegar, com algum mérito, a tempestade global feita de guerras comerciais, tensões geopolíticas e incerteza persistente.

Num tempo em que grande parte das economias da OCDE ainda luta para manter a inflação abaixo dos 2%, Portugal destacou-se pela conjugação difícil entre crescimento e estabilidade de preços. O Governo não tardou a reagir. O Primeiro Ministro celebrou, naturalmente, o reconhecimento e sublinhou que será “a reformar com coragem e a tornar o país mais competitivo e produtivo” que se continuarão a criar emprego e aumentar salários. É um voto de confiança que chega como prenda antecipada neste final de ano, reforçando a perceção de que o país tem sabido construir bases mais sólidas do que talvez admitamos no nosso habitual estado de autoflagelação nacional.

Mas a situação real dos portugueses não é de aplausos. E se este ranking nos agrada, não pode, nem deve, servir para encobrir as fragilidades que continuamos a arrastar, muito menos nesta quadra natalícia, quando as luzes que enfeitam as ruas contrastam de forma gritante com as sombras da vida real de tantos.

Como conciliar o elogio internacional com o quotidiano de quem dorme ao relento nas grandes cidades? Como celebrar o bom resultado económico quando milhares de famílias esgotam grande parte do salário em rendas impossíveis? A pobreza persistente, a insuficiência crónica de habitação a preços razoáveis, a insegurança que cresce em vários bairros e a sensação de que o progresso não chega a todos impõem-se como o contraponto necessário a qualquer discurso triunfalista. Não para desvalorizar o mérito, mas para lembrar que o país que sobe nos rankings é o mesmo onde, todos os dias, muitos lutam para sobreviver.

Portugal está, sim, a crescer. Mas um país não se mede apenas pelos indicadores macroeconómicos. Mede-se pela dignidade oferecida aos seus cidadãos, pelo modo como trata os mais vulneráveis, pela capacidade de transformar prosperidade estatística em bem-estar palpável. E é aqui que, apesar dos elogios internacionais, continuamos com muito por fazer.

Nesta época em que se fala tanto de esperança, convém recordar que a solidariedade não se pratica apenas nas palavras ou nas campanhas passageiras. Ela vive nos gestos — os pequenos e os grandes — que têm o poder de fazer a diferença na vida dos que chamamos, com amarga justeza, “filhos da desgraça”. Que este reconhecimento global seja, para todos nós, não só motivo de orgulho, mas também de responsabilidade: a responsabilidade de construir um país onde a prosperidade não seja um privilégio, mas um direito.

A direção e a redação de A Voz de Ermesinde desejam a todos os leitores, colaboradores e anunciantes um Santo e Feliz Natal, repleto de saúde, serenidade e confiança, e marcado por uma renovada vontade de construir, juntos, um futuro melhor para a nossa comunidade.

Por: Manuel Augusto Dias

 

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