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Asteroides: os viajantes rochosos do Sistema Solar
Há milhares de milhões de anos, quando o Sistema Solar ainda era uma massa caótica de poeira e rochas em formação, surgiram os asteroides — pequenos corpos celestes que nunca chegaram a tornar-se planetas. São, em muitos casos, autênticos fósseis espaciais, vestígios do material primitivo que deu origem ao Sol e aos planetas. Embora a maioria tenha dimensões modestas, variando entre alguns metros e centenas de quilómetros de diâmetro, o seu papel na história da Terra — e potencialmente no seu futuro — é tudo menos insignificante.
Os asteroides orbitam maioritariamente entre Marte e Júpiter, numa vasta região conhecida como Cintura de Asteroides. Ali, milhões de fragmentos rochosos giram em torno do Sol, numa dança silenciosa e eterna. Esta cintura formou-se devido à forte influência gravitacional de Júpiter, que impediu que aquele material se unisse para formar um planeta. Para além deste “anel principal”, existem ainda asteroides que seguem trajetórias mais ousadas: alguns acompanham planetas como Marte ou Júpiter, enquanto outros cruzam a órbita da Terra. Estes últimos, conhecidos como NEOs (Near Earth Objects, ou Objetos Próximos da Terra), são os que mais despertam a curiosidade — e o receio — dos cientistas.
A descoberta dos asteroides remonta a 1801, quando o astrónomo italiano Giuseppe Piazzi identificou Ceres, o primeiro deles. Hoje sabemos que é o maior corpo da Cintura de Asteroides e foi mais tarde reclassificado como planeta anão. Após essa descoberta, outros foram sendo encontrados com crescente rapidez, à medida que os telescópios evoluíam. Atualmente, são conhecidos mais de um milhão de asteroides, e novas descobertas são feitas quase diariamente.
Estes corpos celestes são compostos por materiais valiosos como ferro, níquel, platina e até água congelada — recursos que um dia poderão ser extraídos através da mineração espacial. No entanto, antes de pensarmos em explorá-los, é preciso compreendê-los e, sobretudo, vigiá-los.
Ao longo da história da Terra, os asteroides desempenharam um papel dramático. Há cerca de 66 milhões de anos, um deles — com cerca de 10 quilómetros de diâmetro — colidiu com o planeta na região que hoje corresponde à península de Iucatã, no México. O impacto alterou o clima global e provocou uma extinção em massa que eliminou, entre outras espécies, os dinossauros. Este evento lembra-nos que, por mais avançada que seja a civilização humana, continuamos sujeitos às forças imprevisíveis do cosmos.
Além da vigilância, essencial, o estudo dos asteroides é também uma janela para o passado. Missões como a OSIRIS-REx, que trouxe amostras do asteroide Bennu para a Terra, e a Hayabusa2, do Japão, que trazemos este mês, estão a revelar informações preciosas sobre a composição química do Sistema Solar primitivo. Alguns contêm compostos orgânicos e água — ingredientes essenciais à vida — e é possível que colisões semelhantes às que hoje tememos tenham, há biliões de anos, trazido esses elementos à Terra, contribuindo para o surgimento da vida.
Assim, os asteroides são ao mesmo tempo mensageiros do passado e guardiões de potenciais segredos sobre o nosso futuro. Representam o lado imprevisível do universo: podem ser destruidores, mas também portadores de conhecimento e riqueza. No fundo, lembram-nos que vivemos num planeta que, apesar de parecer estável e seguro, continua a fazer parte de um sistema em constante movimento e transformação.
“Conseguirá a Hayabus2 aterrar?
Com o auxílio de observatórios em todo o mundo, incluindo o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), os astrónomos estudaram o asteróide 1998 KY26, descobrindo que este objeto é quase três vezes mais pequeno e gira muito mais depressa do que se pensava anteriormente. Este asteróide é o alvo da missão japonesa Hayabusa2, que foi prolongada até 2031. As novas observações oferecem informações importantes para as operações da missão no asteróide, quando estamos a apenas 6 anos do encontro entre a sonda espacial e o 1998 KY26.
“Descobrimos que este objeto é completamente diferente do que o que tinha sido descrito anteriormente“, diz o astrónomo Toni Santana-Ros, investigador da Universidade de Alicante, Espanha, que liderou um estudo sobre o 1998 KY26 publicado hoje na Nature Communications. As novas observações agora obtidas, combinadas com dados de radar anteriores, revelaram que o asteróide tem apenas 11 metros de largura, o que significa que caberia facilmente dentro da cúpula do Telescópio Principal do VLT que foi usado para o observar. Além disso, este asteróide roda em torno do seu eixo cerca de duas vezes mais depressa do que o que se pensava anteriormente: “Um dia neste asteróide dura apenas 5 minutos!”, diz Santana-Ros. Dados anteriores indicavam que o asteróide tinha cerca de 30 metros de diâmetro e completava uma rotação em cerca de 10 minutos.
“O tamanho mais pequeno e a rotação mais rápida agora medidos tornarão a visita da Hayabusa2 ainda mais interessante, mas também muito mais desafiante“, afirma o coautor do estudo Olivier Hainaut, astrónomo do ESO na Alemanha. Isto porque a manobra de aterragem, em que a sonda espacial “beija” o asteróide, será mais difícil de realizar do que o previsto.
O 1998 KY26 será o último asteróide alvo da sonda espacial Hayabusa2 da Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA, acrónimo do inglês para Japanese Aerospace eXploration Agency). Durante a sua missão original, a Hayabusa2 explorou, em 2018, o asteróide 162173 Ryugu com 900 metros de diâmetro e trouxe para a Terra amostras do asteróide, em 2020. Como ainda lhe restava combustível, a sonda espacial viu a sua missão prolongada até 2031, altura em que deverá encontrar-se com o 1998 KY26, tendo como objetivo compreender melhor asteróides mais pequenos. Trata-se da primeira vez que uma missão espacial irá ao encontro dum asteróide minúsculo — todas as missões anteriores visitaram asteróides com diâmetros de centenas ou
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Por:
Luís Dias
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