Carqueja: A Planta Rústica que Une Natureza e Tradição em Portugal
Em muitas serras do norte e centro de Portugal, há um cheiro que se confunde com a terra e com a memória. Um odor agreste, seco, que se levanta com o calor do sol e parece sair diretamente do chão, dos arbustos e das pedras. Esse cheiro é da carqueja, uma planta rústica, de aspeto espinhoso e pouco vistoso, mas que carrega consigo séculos de ligação à cultura popular, à medicina tradicional e à própria ecologia dos solos portugueses.
A carqueja mais conhecida em território nacional é a Genista tridentata, uma leguminosa autóctone que cresce de forma espontânea em solos pobres, arenosos ou pedregosos, sobretudo em zonas de montanha e baldios. É especialmente abundante nas regiões do interior, como Trás-os-Montes, Beira Alta ou a Serra da Estrela, onde pinta de amarelo vivo grandes manchas da paisagem na primavera. Trata-se de um arbusto resistente, que atinge cerca de um metro de altura, com caules rígidos, folhas pequenas ou ausentes, e florzinhas amarelas que aparecem geralmente entre março e maio, servindo de importante fonte de néctar para abelhas e outros polinizadores.
Mas a importância da carqueja em Portugal vai muito além do seu papel na biodiversidade. A planta está profundamente enraizada na vida quotidiana das populações rurais, especialmente no passado, quando tudo o que vinha da terra era aproveitado. A carqueja era usada como acendalha, por ser extremamente inflamável quando seca, e muitas famílias recolhiam-na para fazer fogo nos fornos de lenha ou nas lareiras. Servia também de cama para os animais, de forragem seca em alturas difíceis, e nalgumas aldeias era queimada nos campos como parte de rituais de proteção ou fertilização da terra. No contexto religioso e simbólico, era comum, por altura da Páscoa, benzer os campos com ramos floridos de carqueja, num gesto que misturava tradição cristã com práticas ancestrais de respeito pela natureza.
Um dos usos mais conhecidos, e que ainda hoje sobrevive, é o da carqueja como planta medicinal. O seu chá, feito a partir dos ramos floridos, tem um sabor amargo muito característico e é usado tradicionalmente como purificador do sangue, estimulante da digestão e remédio natural para problemas de fígado, vesícula e estômago. Há quem o tome também em casos de constipação, febre ou para combater retenção de líquidos. Embora não seja consensual a sua eficácia para todas estas finalidades, a ciência moderna tem vindo a comprovar algumas das propriedades que os saberes populares já intuíram: a carqueja possui compostos com atividade antioxidante, anti-inflamatória e hepatoprotetora, o que justifica o interesse crescente da fitoterapia e da indústria de produtos naturais.
O valor ecológico da carqueja também não pode ser ignorado. Como planta leguminosa, tem a capacidade de fixar azoto atmosférico no solo, enriquecendo terrenos empobrecidos e permitindo que outras espécies vegetais se estabeleçam posteriormente. Funciona como espécie pioneira em áreas degradadas, ajudando à recuperação dos ecossistemas e à retenção do solo em encostas expostas à erosão. Por ser muito resistente à seca, é uma planta particularmente bem-adaptada ao contexto das alterações climáticas. No entanto, também levanta preocupações, sobretudo em relação à sua inflamabilidade. Em muitos terrenos abandonados, a carqueja cresce sem controlo, formando matagais densos e secos que, durante o verão, representam um risco acrescido de propagação de incêndios florestais. Por isso, a sua presença deve ser integrada numa gestão florestal cuidadosa e informada, que equilibre os benefícios ecológicos com a prevenção de riscos.
“A carqueja ajuda a tratar feridas diabéticas e reduz a dor
Uma tese doutoral da Escola de Ciências da Universidade do Minho (UMinho) demonstrou que a carqueja, planta comum nos bosques, é benéfica na cicatrização de feridas em diabéticos e na redução da dor. O estudo piloto confirmou ainda, nos testes em animais, as propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes daquela planta, que pode ser usada em produtos farmacêuticos, alimentares e cosméticos.
Este trabalho de Inês Laranjeira foi orientado por Filipa Pinto Ribeiro e Alberto Dias, no âmbito do doutoramento em Cadeias Produtivas Agrícolas, e realizado no Centro de Biologia Molecular e Ambiental. Teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e a parceria das universidades de Macau (China) e Federal de Juiz de Fora (Brasil). A pesquisa revelou também as mais-valias medicinais das plantas alecrim-do campo e estrela-do-egipto.
Dentre as diversas análises efetuadas, Inês Laranjeira incorporou o extrato de carqueja num creme e aplicou-o em feridas de animais com diabetes tipo 2 e osteoartrose. “Tínhamos três grupos: num aplicámos o creme com extrato, noutro o creme sem extrato e no terceiro não tratámos; concluímos que as feridas cicatrizavam significativamente mais rápido no primeiro grupo”, afirma a cientista, que prossegue os estudos no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da UMinho, com Filipa Pinto Ribeiro.
As autoras acreditam que o creme pode ser igualmente benéfico na cicatrização de queimaduras e na psoríase em humanos ou mesmo em veterinária. “Este creme tópico com extrato de carqueja é fácil de aplicar pelo dono do animal e evita outras
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Por:
Luís Dias
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