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  UMA QUESTÃO DE SAÚDE 
 Febre: amiga ou inimiga? 
A febre é um dos mais frequentes motivos de consulta encontrados nos cuidados de saúde, principalmente durante a infância. Culturalmente, foi criada uma “fobia da febre”, graças ao medo das suas consequências. Mas afinal, será a febre assim tão perigosa? Qual a melhor forma de lidar com a febre? Será necessário procurar ajuda médica sempre que surge febre? 
 
O QUE É A FEBRE? 
 
Febre é definida como “uma elevação da temperatura corporal igual ou superior a 1ºC acima da média basal diária individual”. O seu valor depende de alguns fatores como o local e a hora de avaliação. 
Para simplificar e, uma vez que é difícil conhecer a temperatura basal de cada um de nós, consideram-se valores compatíveis com febre, segundo o local de medição: 
• Retal maior ou igual a 38ºC; 
• Axilar maior ou igual a 37,6ºC; 
• Timpânica maior ou igual a 37,8ºC; 
• Oral maior ou igual a 37,6ºC. 
De salientar que estes valores não são rigorosos, mas sim limites aproximados baseados em estudos populacionais. 
 
PORQUE SURGE A FEBRE? 
 
A febre é um sinal clínico e não uma doença em si própria. Esta surge quando existe uma agressão ao normal funcionamento do organismo, sendo a principal causa a invasão de um agente infecioso (vírus, bactérias...). A febre é, assim, um mecanismo de defesa, sendo, em regra, benéfica para o indivíduo. 
 
O QUE FAZER QUANDO OCORRE A FEBRE?
 
1.Quando é identificada febre, a primeira medida a tomar deve ser verificar que a temperatura foi medida corretamente, utilizando um termómetro adequado ao local de medição; 
2.Confirmada a temperatura, deve ser avaliada a existência de sinais e sintomas designados “de alerta” como: 
Irritabilidade/choro inconsolável; 
Sonolência excessiva ou incapacidade de adormecer; 
Convulsão; 
Manchas na pele nas primeiras 24 a 48 horas; 
Dificuldade em respirar; 
Dor incontrolável; 
Vómitos repetidos entre as refeições; 
Recusa alimentar superior a 12h; 
Dor/dificuldade em mobilizar um membro ou alteração da marcha; 
Urina turva ou com mau cheiro. 
Estes são sinais de gravidade e devem motivar uma avaliação médica precoce, independentemente do dia de doença, sendo mais importantes do que o próprio valor da temperatura. 
Assim, os serviços de saúde devem ser procurados precocemente nas seguintes situações: 
Evidência de sinais de alerta; 
Crianças com idade inferior a 3 meses; 
Crianças com idade inferior a 6 meses com temperatura axilar maior ou igual 40ºC ou retal maior ou igual 41ºC; 
Em caso de patologia crónica grave. 
3. Caso se excluam as situações referidas anteriormente, a gestão da febre pode ser iniciada em casa, tendo como único objetivo minimizar o desconforto associado ao aumento da temperatura. Para tal podem ser utilizados fármacos anti-piréticos, como o paracetamol e o ibuprofeno. Medidas físicas de controlo da temperatura, como diminuição das camadas de roupa ou banhos tépidos, devem ser realizados com precaução, uma vez que podem ter o efeito oposto e aumentar ainda mais o desconforto associado ao processo febril. 
Assim, a intervenção no contexto da febre deve ser adequada a cada caso. Importa relembrar que não é obrigatório o uso de antipiréticos sempre que ocorre febre, nem existe um dia mais apropriado para uma observação médica num indivíduo com febre. O importante é avaliar a situação e agir de forma ponderada. Na maioria das vezes, a febre é mais amiga do que inimiga! 
 
Bibliografia: Norma de Orientação Clínica 014/2018: Processo Assistencial Integrado da Febre de Curta Duração em Idade Pediátrica. Direção-Geral da Saúde. 03/08/2018. 
 
Por: Telma Lopes* 
*Médica Interna de Medicina Geral e Familiar 
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