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1 de janeiro, Dia Mundial da Paz
Amanhã é o primeiro dia do ano que, desde 1967, assinala o Dia Mundial da Paz. É uma data que convida à reflexão, mas que em 2026 surge envolta numa inquietação difícil de ignorar. Vivemos tempos de guerra ativa e de temor real quanto à sua expansão, designadamente no espaço europeu.
Conflitos prolongados, tensões geopolíticas, ameaças híbridas e um clima global de desconfiança levam vários países a reforçar medidas de segurança, a preparar cenários de contingência e a relembrar que a paz nunca é um dado adquirido.
Também entre nós, portugueses e europeus, se sente essa apreensão. Não se trata de alarmismo, mas de lucidez histórica. A Europa conhece bem o preço da guerra e a fragilidade das conquistas civilizacionais quando a diplomacia falha e a força se impõe à razão. Ainda assim, este Dia Mundial da Paz – e este início de ano – não pode ser apenas um inventário de receios. Tem de ser, como é tradição, um momento de esperança responsável.
Portugal tem uma história que nos permite olhar o futuro com algum alento. Como afirmou recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, “Portugueses, para um cenário de guerra não irão, isso é certo. Mas, se houver paz, não é a primeira vez que fazemos parte de forças de paz”. A afirmação é clara e politicamente relevante: Portugal não alimenta aventuras belicistas, mas não se demite das suas responsabilidades internacionais quando está em causa a segurança coletiva e a consolidação da paz.
O trabalho louvável dos militares portugueses em missões na República Centro-Africana, no âmbito das Nações Unidas e da União Europeia, bem como a presença na Eslováquia e na Roménia, sob égide da NATO, são exemplos de um país que escolhe estar do lado do direito internacional, da cooperação e da dissuasão defensiva. A eventual participação futura em missões na Ucrânia, se enquadrada num Tratado de Paz ou num acordo de segurança robusto, inscrever-se-á nessa mesma lógica: prevenir a guerra, estabilizar a paz, proteger civis.
Mas a paz não se constrói apenas com diplomacia e forças no terreno. Constrói-se, sobretudo, com instituições democráticas sólidas, justiça social, igualdade de direitos e uma cultura política de compromisso.
E é aqui que o ano que agora começa ganha um simbolismo especial. Evocamos os 200 anos da Carta Constitucional de 1826, marco fundador do constitucionalismo português, e os 50 anos da Constituição de 1976 e das primeiras eleições democráticas para o poder local. São datas que nos recordam que a paz interna – a paz social e política – foi conquistada com liberdade, participação e respeito pela dignidade humana.
Num mundo instável, estes valores não são relíquias do passado: são âncoras para o futuro.
Que 2026 seja um ano em que os responsáveis políticos, em Portugal, na Europa e no mundo, saibam procurar consensos, reforçar pontes e colocar a vida humana acima de interesses imediatos. A paz exige coragem. E, como a história nos ensina, é sempre possível recomeçar.
Para concluir, A Voz de Ermesinde deseja um Bom Ano Novo de 2026 a todos os seus colaboradores, que mensalmente dão vida a este jornal; aos anunciantes, cujo apoio torna possível o serviço à comunidade; aos leitores fiéis, razão maior da nossa existência; e a todos os habitantes da cidade de Ermesinde e do concelho. Que o novo ano traga saúde, serenidade e confiança no futuro, reforçando os laços de solidariedade e participação cívica que fazem desta terra uma comunidade viva, atenta e comprometida com os valores da paz, da liberdade e da democracia.
Por:
Manuel Augusto Dias
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