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Edição de 30-09-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Ciência


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Granito: A Pedra que Moldou o Norte de Portugal

Poucas matérias-primas estão tão intimamente ligadas à identidade de uma região como o granito ao norte de Portugal. Presente nas ruas, nas casas, nos monumentos e até no imaginário coletivo, o granito é muito mais do que uma rocha ornamental: é um alicerce económico, cultural e social. Portugal é um país rico em rochas graníticas, mas é no Norte que a sua abundância e qualidade se tornam mais visíveis. Distritos como Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Porto são marcados por imponentes afloramentos graníticos que, ao longo de séculos, foram moldando a paisagem e a vida das populações. Formado há milhões de anos, em profundidade, a partir do arrefecimento lento do magma, o granito caracteriza-se pela sua resistência e durabilidade. Essas propriedades justificam a sua escolha para construções que atravessam gerações: pontes medievais, igrejas românicas, muralhas defensivas e, mais recentemente, calçadas e habitações.

Passear por cidades como Guimarães, Braga ou Porto é reencontrar constantemente o granito. Nas fachadas esculpidas das igrejas barrocas, nos largos e escadarias, nas casas senhoriais e até nas pequenas aldeias, a “pedra dura” é protagonista. O granito simboliza não apenas solidez, mas também identidade. No Minho e em Trás-os-Montes, as casas tradicionais construídas em blocos de granito transmitem a sensação de pertença e de ligação à terra. Este material tornou-se uma assinatura estética que diferencia o norte português de outras regiões da Península Ibérica.

Para além da vertente cultural, o granito tem também uma relevância económica significativa. Portugal é um dos principais exportadores europeus de rochas ornamentais, e o granito do Norte é particularmente valorizado pela sua qualidade e variedade cromática. Empresas familiares e industriais, algumas com várias décadas de história, dinamizam o setor da extração e transformação. O granito português chega a países como França, Alemanha, Estados Unidos e até mercados asiáticos, sendo aplicado em pavimentos, fachadas, mobiliário urbano e peças de design contemporâneo. Este setor gera milhares de postos de trabalho diretos e indiretos, sustentando comunidades locais que, de outra forma, teriam dificuldades em fixar população.

Cada bloco de granito carrega uma história. A ponte de Lima sobre o rio homónimo, as muralhas de Valença, a Sé de Braga ou as casas senhoriais de Guimarães não seriam as mesmas sem a robustez desta rocha. Mais do que matéria-prima, o granito é memória cristalizada: testemunha silenciosa de batalhas, de fé, de comércio e de quotidianos passados. No norte de Portugal, o granito é também símbolo de resiliência. À semelhança da pedra que resiste ao tempo e às intempéries, as comunidades que vivem nesta região aprenderam a valorizar a dureza transformando-a em solidez, a resistência convertendo-a em identidade.

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“Sobre o granito e a sua origem, numa conversa terra-a-terra.

Já dissemos que não há um, mas sim, vários tipos de rochas a que o vulgo dá o nome de granito.

Deixando este tema para outras conversas, comecemos agora por dizer que o termo granito, em sentido restrito, designa uma rocha plutónica (gerada em profundidade, na crosta), granular, rica em sílica (mais de 70%), com quartzo essencial, expresso e abundante (20 a 40%), e feldspato alcalino (ortoclase, microclina, albite). Como mineral ferromagnesiano contém, geralmente, biotite, sendo raros os granitos com anfíbolas ou piroxenas. Entre os seus minerais acessórios, destacam-se moscovite, apatite, zircão e magnetite. Esta rocha corresponde ao que, numa linguagem mais rigorosa, se designa por “granito alcalino”. O termo granito, atribuído ao italiano Andrea Caesalpino, surgiu em 1596, e radica no latim granum, que significa grão.

Imagine o leitor uma paisagem como a do norte de Portugal, essencialmente formada por granitos, xistos argilosos e grauvaques, na margem ocidental da placa litosférica euroasiática, à beira de um oceano (o Atlântico) que a separa de uma outra placa (a Americana).

Como é sabido, os agentes atmosféricos (a humidade, a água da chuva, o oxigénio e o dióxido de carbono do ar e as variações de temperatura) alteram (“apodrecem”) as rochas e é essa alteração, ou meteorização, que gera a capa superficial (rególito) que dá origem ao solo.

– E quais são os materiais desta capa de alteração e do respectivo solo? – Pergunta-se.

Restringindo a resposta ao local em questão, aos principais minerais destas rochas, e à situação climática que aqui exerce a sua influência, diremos que, no granito, o feldspato altera-se, transformando-se parcial e, de início, superficialmente, em argila. Alterando-se o feldspato, os restantes grãos minerais descolam-se uns dos outros e a rocha perde coesão (esboroa-se entre os dedos). Os grãos de biotite (uma mica contendo ferro) também se alteram e dessa alteração resulta o seu aspecto “enferrujado”, o que confere à rocha exposta as cores de castanho-amarelado, que contrasta com a cor da rocha sã, acabada de cortar. O quartzo não sofre qualquer alteração, o mesmo sucedendo à mica branca (moscovite) que apenas se divide em palhetas cada vez mais pequenas e delgadas. No xisto argiloso, que além de argila tem quartzo em grãos finíssimos, microscópicos (ao nível de poeiras), tem lugar a perda de coesão destes materiais. No grauvaque acontece outro tanto, com a libertação dos seus componentes arenosos (os mesmos do granito, mas muito mais finos).

Podemos agora dizer que os rególitos e os solos desta região de Portugal têm uma fracção arenosa com quartzo abundante, algum feldspato, micas e uma fracção argilosa ou barrenta que faz o pó dos caminhos, em tempo seco, e a lama, em tempo de chuva. Podemos igualmente dizer que, quando chove com certa intensidade, as águas de escorrência arrastam estes materiais, com suficiente visibilidade na componente argilosa em suspensão. Isso vê-se frequentemente nas enxurradas, nas águas barrentas dos rios e, até, no mar, frente às fozes desses rios.

As pedras (cascalho) vão ficando, em parte, pelo caminho, outras atingem o litoral e não passam daí. As areias enchem as praias, as dunas e o fundo rochoso da plataforma continental. As areias mais finas e as argilas, incapazes de se depositarem em mar de pequena profundidade, constantemente agitado pela ondulação, progridem no sentido do largo, indo depositar-se na vertente continental (onde ficam em situação instável). As muitíssimo mais finas, essencialmente argilosas, vão imobilizar-se mais

(...)

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Por: Luís Dias

 

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