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    Arquivo: Edição de 15-09-2006

    SECÇÃO: Destaque


    DEBATE NACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO

    Iliteracia e infoexclusão

    Teve lugar na Sala Multiusos do Museu Municipal de Valongo, no passado dia 8 de Setembro, um colóquio comemorativo do Dia Internacional da Alfabetização.

    Organizado pela Agência para a Vida Local (AVL) da Câmara Municipal de Valongo, a iniciativa contou com a presença da linguísta Maria Armanda Costa, da Universidade de Lisboa, Pedro Remelhe, técnico do INE, e Luís Alvarez, em representação da Inde (Intercooperação e Desenvolvimento), uma ONG muito activa nestas áreas de intervenção.

    Fotos URSULA ZANGER
    Fotos URSULA ZANGER
    Presente também, a responsável da AVL, Eunice Neves.

    Maria Armanda Costa, começando por citar Kofi Annan e Koïchiro Matsuura (director-geral da UNESCO), frisou que a literacia era um garante do desenvolvimento, mas que era negada a cerca de um quinto da população adulta no mundo, com particular incidência sobre as mulheres (dois terços do total).

    Distinguindo entre alfabetização – saber adquirido do uso da língua escrita – e literacia – conhecimento dinâmico de uma língua exercitado à medida do seu uso, a conferencista abordou depois a existência de vários estudos visando conhecer os graus de literacia e a sua evolução.

    De forma muito interessante estes estudos revelaram que se o nível da alfabetização em Portugal era relativamente aceitável, em comparação com outros países, já os níveis de literacia colocavam--no num dos lugares de trás. Definindo vários graus de literacia pelo recurso a uma bateria de testes sobre competências (de que um dos exemplos é o estudo PISA, de 2000), pôde constatar-se que muita da população portuguesa era capaz de ler, por exemplo, mas não de interpretar correctamente ilações indirectas que poderiam extrair-se dessa leitura. Ora esta inabilidade traduzia-se depois na incapacidade da gestão da própria vida social.

    A EVOLUÇÃO DAS LÍNGUAS

    Maria Armanda Costa falou depois da evolução das línguas, comparando, como exemplo, o Português europeu do Português do Brasil, e referindo a dificuldade noutros casos, em que a língua recolheu daquela importantes contributos, mas ainda não se cristalizou, como sejam os crioulos da Guiné-Bissau ou Cabo Verde.

    Abordou, em seguida, a variação linguística: «Quando somos bilingues, como é que as gramáticas intervêm?». Referiu o discurso dos esquizofrénicos ou de algumas pessoas vítimas de traumatismos ou doenças que afectaram ou danificaram zonas do cérebro, e continuou referindo a panóplia dos estudos linguísticos (Linguística, Psicolinguística, Sociolinguística, Dialectologia, Linguística Computacional, Linguística Educacional e Linguística Histórica.

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    A investigadora terminou a sua conferência abordando a evolução dos próprios níveis de exigência no ensino da língua.

    No Estado Novo, referiu, «para ensinar a ler, escrever e contar só era necessário saber... ler, escrever e contar».

    EXPERIÊNCIAS DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

    Luís Alvarez começou por apresentar a Inde, como uma ONG (organização não-governamental) desenvolvendo a sua actividade, por exemplo, na área da luta contra a exclusão social, e pela promoção local e comunitária. Apresentou depois alguns projectos levados a cabo na Guiné-Bissau, Timor Leste e em Portugal.

    A Inde desenvolve ainda actividade em Cabo Verde e no Brasil.

    No exemplo de Timor Leste referiu a existência de duas administrações, uma formal e uma informal, com as quais se torna necessário dialogar.

    Foram aí desenvolvidos projectos para a produção local de sabão e para a prestação de serviços de carpintaria, através de duas cooperativas.

    Para além deste eixo, foram desenvolvidos projectos na área da educação, saúde e ambiente, participação política.

    Luís Alvarez referiu a extrema dificuldade do ensino da língua portuguesa à população jovem, cuja aprendizagem oficial se fez na língua do ocupante indonésio, e onde subsistem diferentes línguas locais de comunicação espontânea.

    A juntar a isto, acrescenta-se a fragilidade de recursos, fazendo da questão da sobrevivência quotidiana prioridade absoluta, bem antes da própria educação.

    Este activista social referiu ainda brevemente os exemplos da intervenção na Guiné-Bissau, sobretudo junto das crianças de rua, incentivando a sua alfabetização e em Portugal, no caso de Odemira, mais dirigido à inclusão de imigrantes e idosos.

    CARACTERIZAÇÃO DOS NÍVEIS DO ENSINO

    Inicialmente, e após a breve apresentação dos convidados por Eunice Neves, Pedro Remelhe, do INE, fez , com a ajuda de uma apresentação informática, a caracterização dos níveis de alfabetização e do ensino no concelho e a sua evolução, tendo em conta parâmetros de comparação da região e do país.

    Concelho relativamente jovem, dotado de 54 escolas, evoluiu de uma taxa de analfabetismo de 10% em 1981 para 5% em 2001.

    De momento, preocupante parece ser a ocorrência elevada de abandono escolar precoce (alunos entre os 18 e os 24 anos que não concluíram o ensino secundário nem se encontram a frequentá-lo, computada em 44,9%, uma percentagem superior à média nacional de 41,0%, mas mesmo assim inferior à da região do Porto, de 48,9%.

    Os níveis de escolaridade no concelho apontariam para um défice no que respeita ao ensino superior, sendo que os dados conhecidos apontam para uma taxa de 14% de escolaridade a nível do Ensino Básico, 17% do Secundário e 9% do Superior.

    Ora, estes números encontram-se abaixo dos níveis da própria região, que regista os mesmos 12% para o Ensino Básico, 15% para o Secundário e 11% para o Superior. A nível nacional, com pelo menos a conclusão do Ensino Básico, encontramos uma taxa superior, de 14%, sendo a do Secundário de 16% e a do Superior de 11%.

    Eunice Neves, na apresentação dos convidados, também ela abordando um pouco a questão da evolução das exigências e dos problemas, tinha comentado que a infoexclusão era hoje uma nova forma de analfabetismo.

    Por: LC

     

     

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