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    Arquivo: Edição de 15-09-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    Aparências

    As aparências iludem” dizia o Balhestra, quando, nas escadas do cruzeiro, ia deslumbrando a pequenada com as suas fabulosas estórias sem intervalos.

    Eram lengalengas de aldeia transmontana. A imagem de Cristo, pintada numa das faces da cruz granítica, parecia sorrir pela magia do Balhestra. Ou seriam os efeitos pictóricos de Jesus, traçados pelo Pinta Santos de Vilar de Maçada, a “dançarem” ao som das palavras? Se o narrador tivesse biblioteca escreveria o Memorial do Cruzeiro!, onde as vírgulas e pontos finais não faziam falta!

    Anos mais tarde, o Zé da Cunha, durante os “feriados” das aulas do liceu de Vila Real, quando contava cenas de Pegarinhos, exclamava:

    – ... as aparências “ilodem”!

    Na febre das compras dos Austin Mini, o carpinteiro Luís Santos, com oficina na travessa de Cedofeita, onde já fabricava móveis revestidos a fórmica, e abastecia os vendedores da rua da Picaria, que ainda hoje enriquecem a Baixa Portuense de móveis baratos, resolveu entrar no stand, durante a coqueluche das vendas.

    Interpelado pelo janota do vendedor, disse:

    – Queria comprar um carro. (Um azul portista estava lá).

    Foi mirado de alto a baixo; na fatiota de trabalho, sobressaiam os socos, bons para manter os pés quentes, durante tantas horas de oficina...

    Teve de ouvir do empertigado vendedor:

    – Estão todos vendidos. Só para o ano conseguimos satisfazer os clientes.

    O pobretanas do Luís, convidado a sair da loja, regressou, dias depois, com botas de atanado e de casaco. O vendedor foi ter com ele e, ao vê-lo tirar a carteira e a contar notas de conto!, disse:

    – Como quer pagar o carro? A dinheiro ou a pronto?! – A dinheiro à vista – como hoje se diria – respondeu o carpinteiro.

    – Vou falar com o patrão. O carro é seu!

    – Segunda-feira volto – afirmou o Luís Santos, pensando na partida que havia de pregar.

    Apareceu de fato macaco e de socos, e quando o vendedor veio à porta estender o “bacalhau, e a proferir:

    – Tem sorte!, o Austin azul está à sua espera – respondeu:

    – Pois é!, venho dizer que desisti da compra, a minha Senhora achou que era melhor comprar uma carrinha Ford!

    Recém-licenciado em Engenharia de Minas (U.P.), o José Sobral foi premiado com um estágio em Itália, antes de exercer funções na extracção das pirites do Alentejo.

    Se a criminalidade urbana se ia sentindo no Porto, principalmente a insegurança nocturna, o que seria em Roma?

    Alertado, mesmo assim, resolveu aventurar-se, com dois colega, a sair do hotel, para a Roma by night. Ainda não tinha chegado à fonte de Trevi, já um colega tinha regressado ao hotel, pois o ambiente era carregado! Numa esquina estratégica é que foram elas:

    Três maltrapilhos investiram contra os pacatos portuenses, dizendo, num italiano, meio castelhano e inglês:

    – Alto!, nem mais um movimento...

    Sem mais nem porquê, começaram a ser vasculhados no corpo e nas vestimentas, ouvindo aos berros: “documentos, documentos”?!

    Julgando-se assaltados, e que o pedido de documentos era para localizarem as carteiras, deixadas no hotel, começaram a gritar, a ver se os passantes se apercebiam do assalto, e chamavam a polícia. Qual o quê?!, ninguém quis saber, mesmo quando foram levados (empurrados) para uma rua esconsa.

    O pensamento dos dois foi idêntico: não nos bateram ou roubaram os relógios, e vão fazê-lo em rua mais própria aos assaltos.

    Ao entrarem numa praceta, e ao verem um carro da polícia, tiveram alma nova!

    Os assaltantes, na vez de se darem às de vila diogo , dirigiram--se ao carro.

    Pensaram: “Se não é filme neo-neorrealista, estamos salvos”!

    Os farroupilhas eram agentes policiais disfarçados à procura de terroristas na Roma by nigth!.

    Por: Gil Monteiro

     

     

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