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    Arquivo: Edição de 15-09-2006

    SECÇÃO: Arte Nona


    “BD Jornal”:um compromisso controverso

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    Ressuscitado como revista, “BD Jornal” não deixou de ser uma das mais interessantes publicações da área, pela sua riqueza informativa, reflexiva e cosmopolita.

    De facto, tudo aquilo que fazia de “BD Jornal” uma publicação à parte continua lá.

    Mas o novo formato não se impõe sem os seus custos, que a nosso ver, são pesados.

    Se é certo que é feita uma utilização da cor mais generosa e compensadora, também é certo que a publicação se aproximou agora, demasiado, do formato habitual das revistas que mais conhecíamos.

    Mantendo um elevado nível nas suas abordagens teóricas, reflectindo uma esclarecida e atenta actualidade, “BD Jornal” arrisca, talvez demasiado, na publicação de inéditos de Banda Desenhada – um risco que definitivamente e sem reservas, elogiamos –, mas aos quais se exigiria um grau idêntico de excelência que não estamos certos de aí podermos encontrar da mesma forma indiscutível.

    “Os Monótonos Monólogos de um Vagabundo”, de Hugo Teixeira, são disso um bom exemplo. Graficamente soberbos em algumas vinhetas – demonstrando uma capacidade e técnicas fora do comum, pecam pela pobreza do guião – que ultrapassa a necessidade do “monótono” invocada – dando a impressão de um acabamento à pressa ou de alguma “preguiça” por parte do desenhador, em que parece ficar aquém do que é capaz. Como argumentista as debilidades serão talvez mais difíceis de ultrapassar.

    Já do consagrado José Abrantes, é com dificuldade que se apreciam as escolhas da coloração, influenciando negativamente a aproximação do leitor à peça, que não parece ter bem definido o público a quem se destina.

    A “Dial”, de Pedro Nogueira, falta pouco para ser uma peça brilhante. Excelente texto, planificação, é nalguns aspectos gráficos que – pensamos – o autor podia ir mais longe. Talvez se os textos estivessem a branco em fundo negro, e algumas das figuras humanas fossem ou muito menos realistas ou precisamente muito mais, se atingisse mais o objectivo estético. Talvez...

    “BRK”, de Filipe Andrade e Filipe Pina praticamente fazem esquecer o menos bom de “BD Jornal”. Excelente desenho e coloração, servindo uma história muito bem arquitectada, se nos guiarmos por aquilo que este 1º capítulo deixa antever.

    Apesar de tudo, não sabemos se a quantidade de pranchas deveria ser um objectivo desta publicação, embora não desconhecendo a dificuldade extrema de edição de muitos autores e que este caminho traçado pelos responsáveis de “BD Jornal” acaba por ser, assim, quase como uma espécie de missão, a que é difícil de não reconhecer todo o mérito.

    Neste número, a que nos temos estado a referir, de Ago/Set 2006, salientam-se a continuação do Dicionário Universal da Banda Desenhada – pequeno léxico disléxico”, de Leonardo de Sá, as informações do 24º Salão Internacional de Barcelona, trazidas por João Miguel Lameiras, e do Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, por Luís Salvado, a entrevista de Nuno Pereira de Sousa a Serena Valentino, as análises de Sara Figueiredo Costa (“Conversas de Mulheres – notas a partir de Broderies, de Marjane Satrapi”), Nuno Franco (“Obra Completa de Peanuts – finalmente em Portugal, sob chancela da Afrontamento”) e Fernando Camnpos (“Superman Returns” – o Regresso da Desilusão”, algumas críticas, de Pedro Moura, Pedro Cleto, Clara Botelho e alguma coisa mais que deixamos propositadamente para o fim. Referimo-nos a dois textos de Pedro Cleto (“A Morte de Buddy Longway” – pretexto para breve reflexão sobre a morte na banda desenhada) e “Contra os Manga – Editar, Editar” – trata-se de dois textos de uma oportunidade crítica, reflexão esclarecida e interesse que, só por si, já valem este número de “BD Jornal”. São, como outras, contribuições desta qualidade que – a nosso ver – justificam a diferença desta publicação e mereceriam figurar como a sua espinal medula.

    Contribuindo para sublinhar da maneira mais vigorosa, inteligente e sábia, o lugar de forma de expressão artística por excelência que é a BD, arte maior e emancipada que, tal como outras, também pode, por vezes, descer ao puro entretenimento.

    Por: LC

     

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