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    Arquivo: Edição de 30-03-2006

    SECÇÃO: Cultura


    Paulo Monteiro, “No Alto da Serra do Marão”

    Foto ARQUIVO
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    “No Alto da Serra do Marão” é o romance de estreia de Paulo Monteiro – João Paulo Magalhães Monteiro, nascido em Lourenço Marques [hoje Maputo, n.e.], a 2 de Outubro de 1969, e residente em Águas Santas, na região do Grande Porto. Leitor de Gabriel Garcia Márquez, Paulo Coelho, Miguel Torga, Alberto Moravia, Tiago de Melo e Júlio Dinis, dentre outros, Paulo Monteiro procura aliar o gosto e a necessidade pessoal da escrita com a decisão de ir ao encontro das expectativas do público.

    Confrontando-se com um vocabulário sem pretensões, caracterizado por marcas frequentes da oralidade, o leitor penetra num universo romanesco de teor realista, no qual as aventuras amorosas de um jovem, apesar de tudo bem enquadrado no contexto familiar e na comunidade urbana em que vive, se orientam em torno de um conflito entre as opiniões hegemónicas no seu meio e o seu desejo insistente e temerário de encontrar uma relação existencial mas afim dos seus mais recônditos desejos e paixões.

    Nesta ficção, em que se entrecruzam o idealismo e a experiência do protagonista, as sequências narrativas sucedem-se num ritmo fluente, memorialístico, embora estruturado com a precisão cinematográfica de detalhes e cenas dialogadas, como se verifica já na abertura do primeiro capítulo:

    «Bom dia, acorda que já são horas.

    Aquela voz muito doce, terna, meiga, que conhecia muito bem e acabara de ouvir, era minha mãe».

    A partir desta atmosfera festiva inicial, entretanto contraposta aos desígnios interiores do narrador autodiegético, a aprendizagem de Luís Barbosa durante cerca de dez anos da sua vida, é exposta em trinta e quatro capítulos breves, nos quais se destacam quatro experiências eróticas, até culminar com uma tragédia conjugal, exigente de sublimação. Complexificando a enunciação da história, compõem ainda a ficção, um “Prólogo” e um “Epílogo”, estruturados por uma outra voz, a do autor textual, cujo nome, lavrado no fecho, funciona como a assinatura de um fragmento de carta em que se enviam bons augúrios ao seu grande amigo, o protagonista. A complementar a ambiguidade dos planos enunciativos, também o autor empírico, Paulo Monteiro, manifesta a consciência iniludível de ter escrito um romance «instrumento» e não «monumento», uma lição afirmativa da esperança.

    O título do romance, “No Alto da Serra do Marão”, e a iconografia da capa simbolizam bem o percurso de aprtendizagem do protagonista, pois se, na solidez e na magnitude da pedra, é possível perspectivar-se o apego do protagonista aos valores materiais e às exigências da carne, é possível perspectivar-se, em simultâneo, na altitude e na amplitude da visão propiciada pela infinitude do horizonte, a decisão de ultrapassar as circunscrições do meramente contingente pelo exercício deliberado da elevação interior.

    Maria da Penha Campos Fernandes*

    * Texto apresentado pela autora no âmbito do evento promovido pela Corposeditora com o objectivo de divulgar na FNAC do Norteshopping, no passado domingo, dia 5 de Fevereiro (..), os seguintes livros: “No Alto da Serra do Marão”, de Paulo Monteiro, “Todos os Sentidos”, de Luís Ribeiro, “Vislumbro de um Sussurro Breve”, de Maximina Girão, cf. FNAC Agenda , 01-15 Fevereiro 2006.

     

     

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