Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 29-02-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-03-2006

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    Um Governo subalterno

    Lamento vir novamente desiludir muitos leitores que acreditaram que o Governo de Sócrates iria resolver os graves problemas de que padecem os portugueses, mas, como afirmei, neste jornal, nas minhas crónicas de 15 e 30/1/05, antes das eleições de 20/02/05, "O Lirismo dos Candidatos" e "Atenção, Vai Começar a Demagogia" e a de 15/3/05, após as eleições, "A Demagogia Acabou e Agora?", parece que continuamos na mesma ou pior. E isto, na verdade, porque os portugueses elegeram apenas um governo subalterno, inserido numa união de países que devem observar directivas que os transcendem, dimanadas precisamente dessa União. E escolheram e deram a maioria logo ao PS, um dos partidos mais comprometidos com a União Europeia (UE) e o Processo de Globalização Económica em Curso.

    Com menos bola e um pouco mais de atenção depressa se via que os portugueses elegeram um governo submetido a directivas supranacionais e que se limita apenas à gestão corrente de âmbito nacional e pouco mais. Um serviço de amanuense que deve manter a escrita em dia. É uma espécie de contabilista que tem por missão gerir o Orçamento do Estado (OE), de forma que o déficit não ultrapasse o limite fixado superiormente segundo o Pacto de Estabilidade e Coesão (PEC), que é de 2,5%, mesmo que isso prejudique a qualidade de vida dos portugueses. Daí, a grande importância do tesoureiro que é o ministro das Finanças.

    Obrigaram o nosso país a abrir as portas à exploração dos grandes grupos financeiros e eles vieram com suas empresas multinacionais que trouxeram o emprego precário, adoptado depois pelas empresas nacionais e pelo próprio Estado. Cercaram as cidades e vilas e, como o país é pobre, sem hipótese de reagir, está a ser sugado e cada vez tem menos e produz menos. Algum equilíbrio que ainda reste, está a ser assegurado à custa do aumento de impostos, pequenos aumentos ou congelamento de salários e cortes nas regalias dos trabalhadores, nos direitos adquiridos ao longo dos anos, inclusive os da Saúde.

    Isto é a triste realidade a que chegámos. E os 150 000 empregos prometidos? Naturalmente, em Marrocos para onde foram investidos, logo a seguir, 110 milhões de euros, para criar emprego, lá. E na China, para onde foram muitos empresários investir no negócio da China. O PR ensinou-lhes o caminho, quando lá foi, em 2004.

    OS ACORDOS

    E A CONJUNTURA

    INTERNACIONAL

    Os graves problemas da deslocação e falência das empresas e consequente desemprego, como era de prever, continua, provocando a falta de sustentabilidade da Segurança Social e nem este governo nem qualquer outro governo nacional (excepto a França e Alemanha, claro) têm competência para os resolver. Dimanam de acordos supranacionais feitos pela UE no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) que o G8 que indicou, via Chirac, Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia (CE), controla. Aqui se prova a ligação da UE, a que estamos amarrados, aos grandes grupos económicos e suas organizações. E esses acordos é que provocaram a chamada conjuntura internacional pouco favorável ao nosso país, como justificam os nossos políticos perante os trabalhadores que protestam junto da fábrica a fechar. E esses problemas agravaram-se com a admissão da China na OMC. E essa admissão ilegítima, dum país ditatorial, de partido único, com mão de obra barata sem poder reivindicativo, pois não observa os direitos legítimos dos seus trabalhadores nem os mais elementares direitos humanos, leva a uma concorrência desleal que os países democráticos do Ocidente não poderão suportar muito tempo. Esta situação, que devia ser condenada e penalizada, tornou-se um exemplo a seguir e também um instrumento dos grandes grupos económicos para, em nome da competitividade, cortarem no peso da mão de obra europeia, reduzirem as suas regalias sociais e destruirem os Estados-Providência que consideram um entrave à plena implementação do seu negócio social dos seguros de reforma e da Saúde. Não é por acaso que quase todos os grupos financeiros têm a sua seguradora e alguns até os seus hospitais SA. E os nossos governos subalternos, que elegemos distraídos com a bola, dão-lhe todas as facilidades como se não houvesse outra alternativa nem mais doutrinas económicas a seguir, além do neoliberalismo, cientes de que estão a destruir a nossa indústria e comércio e a mandar os nossos trabalhadores e reformados para a desgraça, pois não tardará, como dizem, a não terem salários, nem subsídios, nem reformas! Se isto não é um crime de lesa-pátria, não sei o que será!

    CUMPRIR ORDENS

    E o âmbito desta organização europeia supranacional é muito grande, pois dita, lá de Bruxelas, desde as grandes linhas macro-económicas até ao pormenor da tributação das fraldas de bebés, uso de galheteiros, vinho com rótulo, abate de frangos e porcos caseiros, embalar o fiel amigo até ao uso das colheres de pau para mexer o estrugido. Que grande estrugido! Mas também um vexame para nós, admitir que aqueles políticos de alcatifa, aqueles meninos "profilatizados", esterilizados e desparasitados, nos venham dizer como devemos e o que devemos comer! Todavia, em nome da profilaxia, isto apenas visa defender os interesses dos produtos fabricados, enlatados, normalizados e prontos a servir das multinacionais e inviabilizar e dificultar o escoamento dos produtos caseiros e das pequenas empresas familiares e artesanais. Visa a dependência total dos humanos aos detentores da moeda. É para isso que cá está este monstro anti-social que é a UE ao qual o povo francês e holandês já disse NÃO de forma inequívoca. Mas eles continuam, não desistem.

    E os nossos políticos já são conhecidos, no seio desta comunidade, por cumprirem rigorosamente as ordens dos burocratas de Bruxelas sem protestarem, mesmo que essas ordens contribuam para a regressão dos direitos dos seus trabalhadores e o ruir dos alicerces da nossa independência política e económica. Uma nação já não poderá sobreviver depois de destruir o seu aparelho produtivo, juntamente com os seus artífices e continuadores que estão a desaparecer de forma preocupante, pois, quando minimamente não se bastar a si mesmo, bastará uma pequena crise, para que deixe de ter condições de sobrevivência, dada a total dependência a que chegou.

    A solução seria aquela que muitas nações não tardarão a adoptar: o abandono da UE e da selva global que representa se esta organização não alterar a sua política económica e social e a sua subserviência à Banca, mesmo que isso obrigue a sacrifícios de que os portugueses já se desabituaram. Será que Portugal já não conseguirá viver sem a protecção daqueles que o sugam? Já não será capaz de talhar o seu próprio destino, de per si, como sempre talhou ou então relacionado com outros países, numa comunidade civilizada que respeite a diversidade dos povos e se preocupe com o Estado Social que conduz a uma vida pacífica e avançada?

    Por: Reinaldo Beça

     

    Outras Notícias

    · Novo Presidente da República
    · Helga

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].