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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 15-11-2005

    SECÇÃO: Arte Nona


    Heróis na sombra

    É da “América” – um tema recorrente –, que falamos de novo, hoje.

    Vinhetas TOM McKAY
    Vinhetas TOM McKAY
    O assunto não é, mais uma vez, o mundo dos super-heróis, apesar de alguns autores norte-americanos (são estes que nos interessam para este caso particular), o terem subvertido quanto baste, tornando o tema não só matéria de análise muito interessante, mas também exercício de comunicação para além de mero produto de consumo fácil das grande editoras de massas.

    O “assunto” de hoje tem por base “People below the moon” – “debaixo da Lua vive gente” na tradução portuguesa (por Maria Suzete Rodrigues Dias) da obra de Tom McCay, dada à estampa num cuidado volume encadernado pela Campo das Letras, em 2002.

    A actualidade da obra torna-se evidente ao tomarmos conhecimento da situação social tensa que se vive actualmente em França.

    Ninguém quer saber de nós, vivemos num mundo à parte, dizem alguns dos jovens excluídos dos bairros da periferia de Paris em pé de guerra. Pois bem, esta obra de Tom McCay tem por protagonistas, precisamente a vida dos excluídos, neste caso os sem-abrigo de uma cidade norte-americana.

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    O argumento está reduzido ao mínimo. Há a história de uma morte, mas é como se nada fosse, o fim recorrente e normal de mais um dos habitantes das valetas da grande cidade. À pergunta de um enfermeiro sobre o que fazer das roupas de um miserável acabado de morrer na chegada ao hospital, o médico responde: “Deita-as para o lixo, daqui a um ano, estão aqui outra vez”.

    É o contraste social brutal entre dois mundos que mal se tocam que McCay tão bem aborda nesta sua obra, pensada mais como uma colecção de instantâneos.

    O autor, nascido em 1926 em Nova Iorque, e que durante muitos anos esteve ligado ao ensino da pintura, desenho e gravura – fundou, inclusive, com outros artistas, uma galeria de arte –, procurou novos caminhos estéticos e foi consagrado em várias exposições. Viajado, deixou os Estados Unidos (de vez?), vivendo desde 1996 em Espanha (Saragoça), uma prova insofismável do seu distanciamento da realidade norte-americana.

    As vinhetas de “People below the moon”, a preto e branco (traço e mancha), expressionistas, não consagram um protagonista individual, mas antes essa comunidade das valetas mais que dos ghettos, a quem cinicamente se pode desejar “Happy New Year!”.

    Por: LC

     

     

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