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    Arquivo: Edição de 30-10-2005

    SECÇÃO: Destaque


    Obesos debaixo de olho

    Decorreram nos passados dias 21 e 22 de Outubro no auditório do Fórum Cultural de Ermesinde, as II Jornadas de Nutrição. Este ano, as Jornadas eram dedicadas ao tema “Obesidade em Portugal, Como Intervir”.

    Foram um grande sucesso de participação as II Jornadas de Nutrição levadas a cabo pelo Centro de Saúde de Valongo e Ermesinde, com o aval da Sub-Região de Saúde do Porto e não obstante a coincidência de datas com vários eventos ligados à área da saúde que decorreram nas mesmas datas, no Sul, mas também no Porto.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    O número de inscrições nestas jornadas quase preencheu por completo o auditório, constituindo também um sucesso neste aspecto.

    E foi elevado o investimento humano do Centro de Saúde de Ermesinde na organização do evento.

    Este ano o público-alvo das jornadas era mais alargado. Recorde-se que, nas primeiras Jornadas de Nutrição eram particularmente visadas as crianças, os cuidados a ter na sua alimentação e a responsabilidade dos pais, estabelecimentos escolares e outras instituições de tutela além da Escola e da Família.

    Outro aspecto relevante das jornadas era a sua elevada qualidade científica, tendo sido ali apresentadas algumas investigações de ponta na área das Ciências da Nutrição, com destaque para a comunicação apresentada pela equipa de Isabel do Carmo (principal responsável pela equipa de investigação do Hospital Santa Maria, em Lisboa.

    A perspectiva abordada nas Jornadas era a de uma visão integrada dos problemas da obesidade, desde uma visão que ia desde as questões da genética até às das práticas alimentares e outras, quer precoces, na escola e na família, quer posteriores, segundo Carlos Valente, o director do Centro de Saúde de Ermesinde.

    Constituíam a Comissão Organizadora das II Jornadas de Nutrição, além de Carlos Valente (Dr.), Ana Paula Alves (Mestre), Elisa Teixeira (Mestre), Cesarina Augusta (Dra.), Ana Isabel Silva (Enfa.), Pedro Moreira (Prof. Dr.), Patrícia Padrão (Dra.), Dília Soares (Dra.), Linda Clemente (Dra.), Margarida Aguiar (Dra.). A Comissão Científica era constituída por Pedro Moreira (Prof. Dr.), Ana Paula Alves (Mestre), Elisa Teixeira (Mestre), Carla Lopes (Profa. Dra.), Paulo Machado (Prof. Dr.) e Jorge Mota (Prof. Dr.).

    Estavam previstos para a manhã do primeiro dia, com moderação de Pedro Moreira, primeiro, e de Cesarina Augusta, depois, as seguintes comunicações: “A Alimentação no Porto é Obesogénica?” (Carla Lopes), “Obesidade – Problema de Saúde Pública” (Isabel do Carmo), “Genes e Obesidade” (Flora Correia), “Influência dos Mass-Média no Consumo Alimentar” (Cláudia Afonso), “Prevalência da Obesidade Infantil no Distrito do Porto” (Maria Constantina), “Projecto de Intervenção na População Infantil do Centro de Saúde de Ermesinde com Obesidade” (Elisa Teixeira).

    Para a tarde deste primeiro dia, com moderação inicialmente de Carlos Valente e depois de Dília Soares. apontavam-se: “Conferência sobre Obesidade Mórbida” (Maria Helena Cardoso), “Papel do Médico” (Paula Freitas), “Papel do Nutricionista” (Ana Paula Alves), “Papel do Psicólogo” (Paulo Machado), “Papel do Fisiologista do Exercício Físico” (Jorge Mota).

    No segundo dia, de manhã e com número de inscrições limitadas, as Jornadas decorriam com um workshop na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), tendo nesse dia lugar as derradeiras comunicações: “Exercício e Obesidade” (José Soares), “Culinária Saudável” (Patrícia Padrão) e “Comportamento Alimentar” (Abel Matos Santos).

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    AS COMUNICAÇÕES

    Das comunicações apresentadas destacamos algumas.

    A primeira palestrante, Carla Lopes (a Prof. Dr. Carla Lopes era um dos membros da Comissão Científica das II Jornadas da Nutrição, ndr) abordou o tema “A Alimentação no Porto é Obesogénica?”, apresentando valores da prevalência de obesidade em todo o Mundo, na Europa e em Portugal. Observou-se que Portugal apresenta uma prevalência de obesidade na população adulta que, comparativamente com outros países europeus, não é preocupante. Segundo resultados dos inquéritos nacionais de saúde efectuados em 1999 e publicados em 2001, a prevalência de obesidade no sexo feminino é de 15% e de 12,9% no sexo masculino.

    Segundo dados mais recentes, apresentados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, a prevalência de indivíduos com excesso de peso é de 44,1% nos homens e de 14,9% nas mulheres. Já a prevalência de indivíduos com obesidade é menor: 14,5% para o sexo masculino e 14,6% para o sexo feminino. A palestrante apresentou ainda dados provenientes de um estudo efectuado em jovens adolescentes na cidade do Porto.

    Maria João Fagundes, que apresentava a comunicação “Obesidade – Problema de Saúde Pública”, em nome da equipa dirigida pela Prof. Isabel do Carmo, que não pôde estar presente, chamou a atenção para os problemas de obesidade que coincidiam também com a melhoria dos níveis de esperança de vida. Nos países ocidentais, esta teria passado, segundo os dados apresentados, de 35 a 40 anos em 1900 para 70 a 80 anos em 2005.

    O aumento da obesidade actualmente verificado está intimamente ligado a dois aspectos: a intensificação do papel da indústria agro-alimentar que impôs a sua comida hiper-calórica, e a diminuição da actividade física nas acções normais da vida quotidiana.

    Resumindo o quadro de fundo do problema, passou--se de uma era, nos primórdios do género humano, em que era preciso gastar muita energia para conseguir comer alguma coisa, para uma era em que não era preciso gastar energia nenhuma para comer muito.

    Flora Correia, que apresentou a comunicação “Genes e Obesidade”, abordou uma linha de investigação relativamente recente, e de desenvolvimento surpreendentemente muito prometedor devido aos últimos avanços na descodificação do nosso mapa genético, a dos factores genéticos e hereditários na obesidade.

    Neste momento conhecem-se mais de 600 genes, marcadores e regiões cromossómicas envolvidos nos fenótipos da obesidade.

    As conclusões dos mais recentes estudos apontariam para cerca de 5% de pessoas com predisposição genética para a obesidade. O que significaria que, em circunstância de ambiente favoráveis, estas desenvolveriam a obesidade fatalmente. Em contrapartida, uma percentagem aproximada de pessoas mesmo em circunstâncias altamente favoráveis, nunca desenvolveria obesidade.

    Cláudia Monteiro apresentou um trabalho desenvolvido no Centro de Saúde de Ermesinde, que teve como objectivos descrever a prevalência e caracterizar a obesidade entre as crianças do primeiro ano de escolaridade das escolas públicas de Ermesinde. Este estudo teve como objectivos secundários conhecer a incidência de dislipidémia, diabetes e HTA na população de obesos. Com a finalidade de estabelecer um programa de intervenção nesta população escolar.

    Foram avaliadas um total de 365 crianças, tendo-se encontrado uma prevalência de 19,7% de crianças obesas e de 18% de crianças com sobrepeso. Foi ainda observado que a maioria das crianças tinham antecedentes familiares de obesidade, HTA e/ou dislipidémia, elevado índice de sedentarismo e percentagem de hipertensão arterial superior à descrita na literatura. Foi ainda apresentado um projecto, “Nem Bucha nem Estica”, a desenvolver nos próximos quatro anos pela equipa de Saúde Escolar e coordenado por Ana Paula Alves, que terá como população-alvo todas as crianças que frequentem o 1º ano de escolaridade e como objectivo que, no 4º ano de escolaridade pelo menos 60% das crianças abrangidas por este projecto tenham adquirido comportamentos alimentares saudáveis. Como objectivos secundários pretende-se com este projecto que, em 2009, a prevalência da obesidade infantil desça para metade. Neste projecto vão ser contactadas escolas do Ensino Básico da freguesia de Ermesinde, Câmara de Valongo, Associação de Pais e Junta de Freguesia. A terceira comunicação apresentou a importância dos meios de comunicação no nosso comportamento alimentar. Salientando que a publicidade associa símbolos aos alimentos, referiu-se ora a sua dimensão física, ora a sua dimensão social ou simbólica para cativar e persuadir o consumidor. A publicidade influencia, mas também reflecte as atitudes do público, o que significa que as mensagens publicitárias têm sofrido alterações ao longo dos tempos.

    Foi, por fim, referido que as recomendações da Academia Americana de Pediatria apontam para que crianças com idade superior a dois anos não dispendam mais de duas horas por dia repartidas entre TV, video, computadores etc..

    As II Jornadas de Nutrição contaram com a colaboração da FCNAUP, Câmara de Valongo, Sub-Região de Saúde e apoios da APN (Associação Portuguesa de Nutricionistas), SPEDM (Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo), ADEXO (Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal) e Universidade do Porto.

    Por: AVE

     

     

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