Em Biapolis nem sempre se mata como deve ser...
Imagine-se uma sociedade onde matar é perfeitamente legal, desde que devidamente contratualizado. É Biapololis, uma metrópole tecnológica desenvolvida, mas da idade do ferro, com uma arquitectura de arte nova flamejante, com veículos movidos a vapor e suspeita-se... a energia nuclear.
O herói, Aristide Nyx, é um “regulador”, isto é um dos eleitos, de alto estatuto, a quem é concedida a licença para, digamos assim, «regular» alguns assuntos pendentes, só resolúveis pelo homicídio.
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Vinhetas MARC MORENO |
Várias academias de regulação disputam entre si os contratos para estes nobres missões.
Nesta anti-utopia, a história, cujo cenário é também ele um excesso barroco, tem como herói um homem que, antes de se tornar regulador, sofreu a pontos de a morte ou a dor já não o importunarem. Ele é o sobrevivente de um par de gémeos siameses, unidos pelo tórax, que viveram juntos anos até serem separados (para a vida e para a morte), por uma cirurgia. O coração estava do lado de Aristide.
A obra, da autoria de Corbeyran (o cenário) e de Marc Moreno (desenho e cor), mas que conta ainda com a colaboração de Eric Moreno a partir do segundo volume da saga (“Hestia”, também para o desenho e cor), é graficamente sumptuosa.
A arquitectura do ferro abre-se ante os nossos olhos em panorâmicas deslumbrantes, com o estilo arte nova a imperar, e toda uma panóplia de maquinetas cujo design e inspiração repousa directa e flagrantemente no século XIX, princípios do século XX da nossa civilização, embora ressuscitados em tecnologias de ponta que permitem assombrosas máquinas voadoras, mais leves e mais pesadas que o ar.
Picados e contra-picados vertiginosos, uma cor soberba, uma arquitectura e design levados até ao paroxismo do barroco, fazem da obra uma proposta gráfica absolutamente fascinante.
Por sua vez, o cenário de Corbeyran é, ao mesmo tempo, monstruosamente bem arquitectado e coerente, e uma narração extremamente bem urdida para manter o interesse da história sempre viva e ir, gota a gota, desvendando os seus meandros. O leitor vai então compreendendo cada vez melhor a sociedade de Biapolis e a trama à volta de um tão incrível herói.
Em Portugal, a obra foi editada pela Vitamina BD Edições, tendo sido originalmente publicada na Bélgica pelas edições Delcourt (em 2003), o primeiro volume da saga (“Ambrosia”).
O segundo volume (“Hestia”, também o nome de uma mulher), foi publicado em Maio de 2004.
Por:
LC
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