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    Arquivo: Edição de 30-06-2005

    SECÇÃO: Destaque


    Lino Soares: «Queremos ter condições para acompanhar o trabalho da Câmara»

    Adelino Soares, trabalhador livreiro, membro da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP, ex-dirigente sindical, e já de há alguns anos a esta parte coordenador da organização concelhia do partido, assume agora na sua própria pessoa a candidatura à presidência da Câmara de Valongo, ou mais pragmaticamente, a candidatura a vereador na próxima equipa autárquica.

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    Com a experiência de deputado municipal – cargo autárquico que presentemente ocupa – quer agora ter um melhor acesso aos dossiers, não por vaidade própria, mas no sentido de «melhor servir as populações».

    É mais um organizador do que um tribuno. O reforço do partido a vários níveis é o objectivo nestas autárquicas, em que além de si próprio – na Câmara – espera reforçar o número de eleitos da CDU sobretudo em Campo e, eventualmente em Ermesinde.

    AVE – Em termos de resultados eleitorais e políticos, é determinante para a CDU a conquista do vereador que querem conquistar?

    LS – Sim! Pensamos que é fundamental, principalmente porque desde há oito anos – dois mandatos seguidos – não o conseguimos e consideramos isso fundamental para se estabelecer um certo equilíbrio de forças dentro do concelho.

    AVE – E, por isso, será uma grande derrota para a CDU não o conseguir?

    LS – Não pensamos isso em termos de derrota. Pensamos mais na perspectiva do interesse da população. Para nós conta é a preocupação de poder contribuir para a resolução de problemas. Se não o conseguirmos, pensamos que, fundamentalmente, quem fica a perder é a população, porque há situações do próprio funcionamento de trabalho e acção da Câmara, que muitas vezes chegam tardiamente ao conhecimento das pessoas.

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    AVE – Qual é o balanço que a CDU faz do trabalho que Serafim Vieira, o anterior cabeça-de-lista à Câmara, desenvolveu, nomeadamente na questão da água?

    LS – Enquanto membro da Assembleia Municipal, o Serafim Vieira desenvolveu sempre um trabalho muito bom de levantamento de questões que eram ali levantados e naturalmente interessavam à população, e também por essa razão, ainda hoje voltaremos a contar com a colaboração dele relativamente à actividade autárquica, apesar de já ser homem com os seus sessenta e muitos anos. Relativamente à questão dos SMAS há aqui uma situação que tem que ser abordada, que é o facto de haver uma informação muito má à população. Nós, como é sabido, estivemos contra a privatização dos serviços, principalmente porque eram uma forte fonte de financiamento para resolver necessidades e problemas que a autarquia tinha. Anualmente faziam-se montes e montes de obras e iam-se buscar milhares de contos aos SMAS. Não há justificação nenhuma para a privatização, a não ser outros interesses. De qualquer dos modos ficou a funcionar um órgão que acompanha e faz de interlocutor entre a Câmara e as Águas de Valongo – que é o Conselho de Administração dos SMAS –, que continuará a funcionar enquanto a própria Câmara e a Assembleia Municipal, que naturalmente, tem poderes para se pronunciar sobre isso, continuarem a permiti-lo. Nesse quadro, como também foi sempre a nossa opção, nós não recusamos ter opinião sobre o conjunto do trabalho desenvolvido daqui para a frente, independentemente de a empresa estar ou não privatizada. Neste caso em concreto, o nosso objectivo é fazer um controlo do que é que as Águas de Valongo estão a fazer, e nesse sentido pensamos que tem havido uma colaboração muito boa por parte de Serafim Vieira e se tem justificado plenamente a nossa presença ali. Sobretudo numa área em que ele tem sido fundamental, que é ajudar a resolver algumas dificuldades – até pela experiência que ele tinha de funcionário sindical – acompanhando os problemas que surgem com os trabalhadores que ficaram num lado ou no outro. Porque houve trabalhadores que não aceitaram passar para as Águas de Valongo. Se calhar também nos atiraram a batata quente para as mãos, mas de qualquer das maneiras fizemos questão de, neste quadro, ajudarmos a resolver os problemas. Isto não nos afecta no plano moral, lá porque estivemos contra a privatização.

    Não temos razões económicas. O Serafim Vieira é um autarca independente, não tem obrigação de entregar nada ao PC . Economicamente não beneficiamos absolutamente nada com a presença dele lá.

    DESPORTO E ASSOCIATIVISMO

    AVE – “A Voz de Ermesinde” promoveu um inquérito on line sobre aquilo que as pessoas entendem que será prioritário para a Câmara que vier a ser eleita. Entre ambiente, segurança, educação, habitação, transportes, urbanismo, saúde e desporto, aquela que até agora tem sido mais apontada por ordem de preocupação é o desporto, vindo a seguir o ambiente. Isso merece-lhe algum comentário?

    LS – Sim, merece. Relativamente ao trabalho que a Câmara tem desenvolvido e a toda a relação que tem havido com o associativismo, a situação é preocupante. Formou-se aqui há uns anos um Conselho Municipal das Colectividades que praticamente não funciona, a Câmara na altura deu um determinado apoio, mas depois deixou-o cair. Nós ainda recentemente apresentámos na Junta de Freguesia a perspectiva de um organismo que acompanhasse as colectividades; houve sempre dificuldade em criar um organismo que acompanhasse de facto, conhecesse os problemas, discutisse verbas, iniciativas, formação, tudo o que permitisse depois, na Junta e na Assembleia de Freguesia desencadear um conjunto de iniciativas. Neste mandato, a coisa ficou parada. O que acontecia é que o próprio presidente da Junta chamava a si o acompanhamento de algumas colectividades e a partir daí decidia iniciativas. Isto às vezes funciona como uma forma de se conseguir criar alguns poderes e alguns apoios, mas não ajuda muito a detectar e resolver os problemas.

    Não há continuidade na actividade associativa, porque está tudo dependente de dinheiro, e naturalmente também surgem jogos de apoio encapotados que não se percebem muito bem. Poder-se-á perceber, mas será complicado mexer no assunto um bocado aereamente, porque há questões que implicam já com o urbanismo. Se se for a ver, praticamente não existe prática desportiva nas escolas. E naturalmente poderá fazer-se sentir esta preocupação. É uma questão que, de certeza absoluta, vai fazer parte dos objectivos do programa da CDU, naturalmente, até porque a nossa primeira candidata à Assembleia Municipal é uma mulher que está a trabalhar na área de professores e está imensamente preocupada com esta situação, até porque já esteve directamente ligada a associações de pais, e sente como ninguém este problema. Por isso, não me causa surpresa nenhuma este tipo de prioridade nas preocupações.

    AVE – Já que falou do urbanismo, a CDU apresentou uma proposta relativamente à Nova Valongo de não prosseguir com o projecto que havia para ali...

    LS - Esta posição surge por duas ou três razões. Por um lado, quando tomámos essa posição, ainda não tinha havido a inauguração da Biblioteca Municipal, mas já havia, naturalmente, o objectivo de provocar um ordenamento a partir da existência da biblioteca, uma vez que não se pode transferir o edifício para outro lado. Está lá... está lá, e acabou. Pensamos que é necessário criar condições para que ele tenha um aproveitamento cabal, até porque é um edifício bonito, claramente, sem qualquer tipo de demagogia, mas têm que se arranjar formas da sua utilização. Primeiro há aqui uma questão: nós considerámos sempre como uma ideia megalómana do Dr. Fernando Melo a construção da Nova Valongo, e isto ficou claro em posições que tomámos na devida altura. Ora, a crise foi-se agravando de ano para ano e não se prevê quais possam ser as alterações que venham a permitir o contrário. Aquilo que é público é que o próprio empreiteiro que possivelmente teria na mão a construção naquela área em que ficaria enquadrada a biblioteca, deixou de estar interessado, porque parece que faliu, porque parece que as verbas agora já são incomportáveis, porque não se vende, por várias razões, e deixou de haver interesse do próprio empreiteiro.

    Ainda há a perspectiva de ser lançada a primeira pedra do edifício camarário e da construção do tribunal (para o qual também já houve promessas várias). Mas tudo isto é um conjunto de situações que devem obrigar a retirar a ideia de que a Nova Valongo venha a ser possível de executar. Isto, para além de tudo, não é só a questão do projecto megalómano que está em causa, é também a questão da Nova Centralidade. Só aqui em Valongo é que iria acontecer uma situação de deslocar a centralidade do concelho para um outro local. Temos um pouco a ideia e comungamos da opinião de muitos valonguenses, que criando-se uma Nova Valongo, esta “nova” cidade seria criada com gente que, naturalmente, teria que vir de fora para o concelho. Quer dizer, a população residente, as pessoas que nasceram na terra, deixariam de ter a sua centralidade. Não está em causa se a Câmara pode ir para um lado ou para outro, agora chamar àquilo a Nova Centralidade e deslocar todo um conjunto de serviços é uma outra coisa e que achamos negativo.

    Estamos a estudar como é que vamos apresentar uma ideia concreta, mas achamos que tudo passa por se aproveitar devidamente aquele espaço com a sua reflorestação, pois ficou completamente vazio, para se construir...

    Depois há uma outra situação. É conhecido que o concelho de Valongo tem cerca de 4 mil habitações – e se calhar estou a falar por baixo – desabitadas. Muitas que se começou a construir e pararam. Há obras completamente paradas há meses e, se calhar, anos já. Com esta situação de crise que se atravessa, não só no concelho de Valongo, ao nível do país há cerca de 150 mil habitações por vender. Significa que toda esta vaga de fundo que houve há uns anos para cá e permitiu acrescentar população em todo o concelho, primeiro em Ermesinde e mais recentemente em Alfena, deixará de acontecer. Portanto, aquilo que é mais previsível e que seria bom que o próprio Dr. Fernando Melo tivesse em conta, para não continuar a alimentar ilusões, é que vai ser extremamente difícil conseguir preencher aquilo que já existe, quanto mais alguém aventurar-se a construir contra todas as indicações. Já para não falar das medidas tomadas noutros concelhos para segurar as populações.

    AVE – Existe neste momento uma situação de crise social que se agrava, também no concelho, e pode haver casos como o da Lear a desembocar num desfecho trágico. O que é que a CDU proporia relativamente a uma situação como essa ou outras que eventualmente possam aparecer?

    LS - É evidente que a Câmara não terá propriamente como função interferir com as empresas que laboram no concelho, e que têm a sua esfera de acção e responsabilidade. Mas há por vezes situações de benefício de que, como se verifica agora com a Lear, a Câmara deveria estar a exigir responsabilidades e se o estiver a exigir deveria tornar pública essa exigência, ou pelo menos, pedir contas dos benefícios que receberam para se instalar no concelho. Não sabemos concretamente quais foram, mas quase de certeza houve apoios para se instalarem cá, como por exemplo o alívio de certas taxas. Devia haver precaução, porque este é um caso que afecta centenas de trabalhadores e muitos deles são gente que já ficou marcada, quando aconteceram os encerramentos da CIFA e da Uniteca. Muitos deles são filhos desses trabalhadores que também estão agora a sentir no corpo aquilo que os pais passaram naquela altura. Devíamos ver quais os esforços que a autarquia está a fazer no sentido de impedir o fecho total da empresa. Este problema coloca-se também ao conjunto das empresas existentes. Há zonas de maior ou menor produção dentro do concelho. Sobretudo médias empresas que empregam um número de trabalhadores que rondam entre os 50 e os 100, a maioria para baixo, mas mesmo estas empresas não deixam de receber benefícios para se instalarem. Quando se instalam em zonas industriais dentro do concelho, a Câmara deve acompanhar como é que essas empresas vão funcionando, não naturalmente interferindo no funcionamento normal, mas garantindo o assegurar dos postos de trabalho pelos quais elas também recebem benefícios financeiros do Governo.

    AVE – A CDU dá prioridade a uma estratégia de transporte público anelar, ou prefere uma perspectiva radial, tendo em conta que o concelho se desenvolveu numa determinada relação com a grande urbe, aqui taõ perto?

    LS – Bom, primeiro não podemos dizer que estamos mal servidos pela rede de transportes ferroviários. Pensamos que há, de facto, um melhoramento do serviço prestado, com essas obras todas que aí houve. Temos dúvidas, e ainda hoje as manteremos, sobre os investimentos futuros do Metro, relativamente à sua ligação de Gondomar a Valongo, independentemente de pensarmos que se se concretizasse, iria ser um benefício. Mas tendo em conta a existência, já, de uma boa rede de ligação através do combóio, duvidamos que seja necessário um investimento de tal ordem, que no fim pouco iria acrescentar para a solução do problema dos transportes.

    OS TRANSPORTES NO CONCELHO

    Agora, o grande problema que se passa com o transporte é a conhecida situação da STCP, que está a pensar em reduzir as carreiras, o que, previsivelmente, afectará duas ou três da zona do concelho. Pensamos que deveria haver já, da parte da Câmara, um trabalho pelo qual se ficasse a conhecer quais serão as imposições e limitações da STCP à sua rede, pois isto afecta sobremaneira a população do concelho, uma vez que, da forma concreta para onde estas carreiras se estenderam, pelas freguesias de Valongo e Alfena – que têm já um núcleo populacional alargado, elas ficariam claramente afectadas. Por exemplo, aquela zona da Abelheira, no Susão, já passou por contestação, vários protestos, idas à Câmara, visitas de elementos desta ao local, mas a solução não aconteceu. Ainda há dias nos foi dito numa reunião, que a população da zona está sujeita a um recolher obrigatório. A partir das 7 horas da tarde de sexta-feira deixa de ter possibilidades de movimentação. As pessoas que não tiverem viatura própria ficam com dificuldades para virem ao centro da cidade, à tal centralidade que existe presentemente. Pensamos que, naturalmente, resolver isto é fundamental. Pensamos que, nesta fase de reestruturação da STCP, isto se pode compreender de uma certa forma, tendo em conta as zonas que o Metro lhe veio cobrar (Matosinhos, Gaia, Maia). Pode-se pôr em questão se a STCP deve continuar a operar do mesmo modo aí com as suas redes. É evidente que em princípio não. Mas em relação ao concelho de Valongo, com o estender da zona de Susão, da Quinta da Lousa, etc., onde já moram umas centenas, uns milhares de pessoas, a situação tem que ser revista.

    Existe agora um organismo que vai tutelar os transportes metropolitanos, mas primeiro que comece a funcionar legalmente vai ser complicado, também deveria ter como objectivo o enquadramento entre o público, semi-público e o privado, de forma que acabasse com uma situação que existe, que é a de haver empresas privadas de transportes que têm o direito de escolha para fazer ligação a determinada zona. Isto é uma aberração da lei, que já vem do tempo do fascismo. Esta lei permite que uma empresa coloque entraves judiciais se alguém quiser ir fazer a exploração do transporte para uma determinada zona. A comissão que vai superintender à Área Metropolitana no domínio dos transportes terá de ter aqui um papel fundamental e ajudar a resolver, primeiro, o problema da falta de transporte das populações.

    AVE – Para além da vossa proposta de utilização do ramal ferroviário Leixões--Ermesinde, como é que estavam a ver a melhoria da ligação ferroviária Ermesinde--Alfena-Valongo?

    LS – Em concreto, estamos a fazer o levantamento de algumas situações e as primeiras indicações que temos são pontuais. Com estas obras nas linhas do Douro e do Minho precisamos de saber se as populações foram beneficiadas. Pensamos que sim. No entanto, também entendemos, na altura que estava a ser reconstruída a linha do Douro, que caberia a construção de um apeadeiro na zona da Abelheira, que permitisse solucionar o problema da acessibilidade. Não temos a certeza se a Refer disse sim ou não, mas da Câmara houve colocação de entraves relativamente à possibilidade de tal vir a acontecer. Tivesse a Câmara avançado com a proposta e depois ver--se-ia se era possível ou não. Nós pensamos que, neste caso, a Câmara não agiu. É uma das questões que vamos ter de abordar. Seria uma solução fácil, independentemente de se pensar que as zonas do Susão e da Abelheira são relativamente perto. A verdade é que a população da Abelheira para chegar ao apeadeiro do Susão tem que andar uns três/quatro quilómetros a pé.

    AVE – Por falar em situações pontuais, o problema das ETARs de Campo e Ermesinde é pontual e de fácil resolução, ou não?

    LS – Em relação à de Campo ainda não está a funcionar devidamente. Há maus cheiros que, com regularidade as populações sentem, a zona não terá sido propriamente a melhor, mas também não poderei dizer qual seria a melhor, às vezes arranjam-se zonas conforme conveniências de espaços existentes. É estranha a localização escolhida, tanto no caso do rio Leça em Ermesinde, como no caso de Campo, junto ao Ferreira, em que é sempre possível haver umas fugas.

    AVE – Porque é que a CDU tem vindo a defender como enquadramento estratégico para as zonas da serra de Santa Justa, Pias, Castiçais, a inclusão num Parque Natural (do Douro Litoral) em vez de uma estrutura mais fácil e ágil de pôr em prática, como por exemplo a Área Protegida?

    LS – A questão coloca-se na necessidade de solucionar um problema. A própria denominação que possa ter o Parque poderá ser ou não relativa. Às vezes há forma de dar nomes às coisas para se fugir a determinados enquadramentos. Mas o que interessava ali fundamentalmente era criar um parque natural, independentemente da forma e dos nomes que lhe queiram chamar.

    O que tem acontecido é que, quando temos um Governo PS, o PSD apresenta no Parlamento propostas para a criação de um parque natural, e o PS rejeita-as. Quando é o PSD que está no Governo, o PS faz a mesma coisa, sabendo à partida que o PSD não vai avançar em nada. Andam os dois neste jogo.

    O fundamental é que existisse um parque natural que ajudasse ao enquadramento ambiental, como um forte pulmão de toda a cidade e não só, do próprio concelho. Seria uma imagem de marca do concelho, com evidentes vantagens para este. Quando houve aí um Conselho de Ministros no tempo de Durão Barroso a anunciar o parque, a nossa previsão é que tudo ficava no papel e não viria a dar nada, tal como está a acontecer. São estudos e mais estudos e anda-se nisto.

    O Grupo Parlamentar do PCP já apresentou uma nova proposta a ver se provoca a discussão, e tendo em conta que o PS andou sempre um pouco a reboque da nossa posição mas manifestou interesse em avançar, é altura ideal de o fazer, até porque, com a maioria absoluta, nem precisa dos nossos votos. Nós naturalmente estaremos de acordo, com mais ou menos limitações.

    AVE – Queria voltar a outro assunto da nossa experiência de inquérito às pessoas. Durante algumas semanas, “A Voz de Ermesinde” manteve no seu site um inquérito sobre a questão autonomista em Ermesinde e, ao fim daquele período verificou-se uma percentagem de 51% a favor e 46% a favor a autonomização de um concelho de Ermesinde. O que é que a CDU defende a esse propósito?

    LS – Tivemos sempre como princípio estar de acordo com a posição das populações, se um dia se vier a manifestar claramente. E não é uma questão de pôr em causa a sondagem, mas se de facto houver movimentação na própria sociedade de Ermesinde para a criação do concelho, nós não nos oporemos. Se houver um forte movimento, nas associações, colectividades, nos locais de residência, nos cafés, naturalmente também aí estarão comunistas, apoiantes da CDU, e nós estaremos disponíveis para conversar e discutir localmente. Agora, há que ter em conta várias situações: os problemas de Ermesinde não passam só pela questão da autonomia. Nós tivemos sempre o cuidado de manifestar essa posição, porque isto pode criar alguns dissabores. Tivemos sempre o cuidado de alertar: sim senhor, se avançarmos para a ideia de Ermesinde a concelho lá estaremos. Mas, e depois? Quem é que vai dirigir o concelho? São as mesmas forças que hoje concorrem à Câmara de Valongo. E até é conhecida qual é a força que tem este ou aquele autonomista, que aparece sempre exactamente nestas alturas de eleições. Não está em causa o inquérito de “A Voz de Ermesinde”, que o faz por conta própria e, naturalmente, está a ouvir opiniões, mas no outro sentido, do separatismo, não é isso que tem acontecido, é só uma pessoa a falar, se calhar a título independente; mas no conjunto do quadro das pessoas que poderão eventualmente aparecer a candidatar-se ao controlo e resolução dos problemas de Ermesinde, que serão aquelas que também hoje participam nas listas para a Câmara de Valongo, e nas listas para a Junta de Freguesia, aí assim deveriam também exigir o melhor para Ermesinde. E isso, muitas vezes, deixa a desejar. Se existisse aqui um concelho ter-se-ia que ver em que moldes é que ele iria funcionar, e isso também não é muito claro, porque implicaria determinados jogos de espaço, que por si só não temos, para ser concelho. Mas independentemente disso, também teria de se ver com que pessoas...

    Mas há aí assim uma situação que passa muito pelo tratamento de problemas. O movimento de Ermesinde a Concelho conseguiu uma grande força quando existiam problemas muito concretos que levaram as pessoas a contestar, como era o problema da falta de água. Não é dizer que foi resolvido com o actual presidente da Câmara, nós tivemos uma quota-parte muito grande na resolução desse problema, porque na altura tínhamos a vereadora. Tivemos um papel fundamental também na resolução de muitos outros problemas que eram fundamentalmente culpas de executivos anteriores que, de certa forma não mexiam. Havia medos, havia dificuldades em combater determinadas pessoas instaladas em determinados lugares e isso obrigou a um grande esforço, na altura, para se discutir com todos e se resolver. A partir do momento em que algumas coisas foram sendo resolvidas, foi-se eliminando aquela força de contestação. Hoje, se se colocar o problema às pessoas, entre a autonomia e a não-autonomia, isso será apenas uma opinião, já não uma premência.

    AVE – O que é que a CDU elege, neste momento, como preocupação fundamental?

    LS – Nós vamos elaborar o programa da candidatura, e vamos ver os problemas fundamentais, mas ressalta já um conjunto de problemas como o da educação, do associativismo, interligando todo um conjunto de questões, tendo em conta até as novas atribuições de responsabilidades aos órgãos autárquicos. Por exemplo, a rede do pré-escolar é miserável no concelho.

    OBJECTIVOS NAS FREGUESIAS

    E não teremos – como nunca tivemos – qualquer complexo de discutir seja com quem for a solução dos problemas, seja à esquerda seja à direita. Pensamos que o que interessa ao nível autárquico é a solução de problemas.

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    Depois, quanto ao problema do associativismo, pensamos que é um campo que está claramente por desbravar, onde não há nem nunca houve uma preocupação fundamental a não ser controlar colectividades, controlar apoios, mas paralisando depois muitas actividades do associativismo.

    E nós vamos claramente assumir o risco de pôr em questão algumas situações, vamos procurar elaborar um plano que dê para entender que é fundamental para o concelho apoiar o movimento associativo em geral, desportivo, cultural, recreativo, de forma a desencadear uma actividade com sentido, que faça parte de um plano de educação dentro do concelho.

    AVE – Inquiríamos agora não apenas o cabeça-de-lista à Câmara de Valongo, mas o responsável concelhio do PCP. Em termos de outros objectivos eleitorais, Assembleia Municipal, freguesias, estão definidos também objectivos de eleitos?

    LS – Em relação à Assembleia Municipal, pensamos que temos feito um trabalho positivo, em vários mandatos e neste também, em que temos procurado intervir de forma a desempatar um certo entendimento/desentendimento que existe entre o PS e PSD, tendo em conta vários factores de funcionamento. Há contradições que, de uma forma ou de outra chegam à Assembleia Municipal, e para nós é fundamental termos um reforço e um papel de melhoramento da Assembleia Municipal. De forma geral, nós achamos que há um bom funcionamento no plano da discussão, mas depois, no plano prático, da influência que a própria Assembleia Municipal possa ter na política da Câmara, ela fica mais limitada. E precisamente pela maioria absoluta que o PSD tem. Esta maioria absoluta, se fosse do PS pensamos que o problema também se colocaria. Neste quadro é fundamental reforçarmos a nossa presença, com pelo menos – tendo em conta objectivos conscientes das possibilidades que temos nestas eleições – a eleição de uma terceira pessoa para a Assembleia Municipal. Em relação às freguesias, está a procurar-se desenvolver neste momento um bom trabalho em Campo. Nós tivemos sempre ali uma força muito significativa, prensamos que há um certo reconhecimento do cabeça-de-lista, e um bom trabalho na elaboração da própria lista e na elaboração de questões, dos problemas que ali vamos levantar. Em Campo temos tido sempre a perspectiva de ganharmos a Junta. Naturalmente com a situação actual, pensamos que possa ser difícil atingir esse objectivo e, por isso, determinamos que o principal é reforçar a CDU em eleitos e naquilo que nos for possível reforçar. Tendo em conta que o cabeça-de-lista é um homem que já tem experiência e estar ligado ao movimento associativo, podemos colocar-nos numa perspectiva optimista mesmo se não se colocar o objectivo de ganhar a Junta. Em relação às outras, relativamente aqui a Ermesinde, Alfena e Valongo, ainda não temos definidos os cabeças-de--lista, mas pensamos que era também fundamental para nós reforçarmos a nossa presença. Em Ermesinde temos dois eleitos, o actual presidente da Assembleia de Freguesia e um outro, Belmiro Magalhães, que ficou, numa situação de substituição do José Caetano, em posição de subir ao Executivo. Na prática só temos um eleito directo. Era necessário também para melhorar a nossa actividade em Ermesinde eleger um segundo ou terceiro elemento. Mas o objectivo principal é eleger o segundo.

    Aqui há uns anos tivemos três elementos no Executivo da Junta e isso serviu sempre como uma força motora para desencadear iniciativas, ao contrário daquilo que alguns dizem e está nos propósitos da alteração da lei autárquica, que tem a ver com os executivos monocolores – a nossa posição é totalmente contrária – que impedirão um funcionamento mais democrático das estruturas autárquicas.

    Se formos ver os problemas mais preocupantes para a população, a Junta de Freguesia entende-se a mais de 90% sem qualquer agudeza de posições, sem haver qualquer melindre, mesmo que às vezes as coisas possam ser melhor ou menos bem discutidas, com maior ou menor vontade, mas os problemas resolvem-se. Claro que quando se vai para questões de ordem mais política, que também podem, de uma maneira ou de outra ferir populações, pode haver eventualmente, aí sim, uma maior oposição entre os representantes, mas justifica-se claramente a existência do estilo do actual poder local em que as populações elegem membros de vários partidos para os órgãos autárquicos e em que isso permite um muito bom trabalho. E, às vezes, no confronto de opiniões é possível encontrar soluções muito melhores que aquelas que estavam previstas ou foram apresentadas por este ou aquele senhor com ideias mirabolantes.

    Isto também se transporta para o próprio Executivo camarário, o facto de haver uma discussão só a dois, e quando as coisas chegam cá fora já se passaram meses e meses. De certa forma, por vezes existe concordância, mas depois por interesse, manifesta-se discordância, mais por questões de circunstância. Portanto, nas freguesias em que não temos tido eleitos – e achamos que num caso ou noutro isso pode ser possível – temos a perspectiva de eleger o primeiro candidato.

    No geral, reforçava a necessidade de eleger um vereador, não por gozo de quem encabeça, não por objectivos de ordem pessoal, mas para termos condições de acompanhamento do trabalho que a Câmara vai desenvolvendo, para dizer “estamos presentes e também queremos fazer parte da discussão”. O que é fundamental, no interesse da população. Para, com regularidade, darmos informação dos problemas que nos vão aparecendo pela frente, de modo a que eles não venham a ser conhecidos só quando há eleições ou quando aparece um interesse súbito.

    Como por exemplo o caso do PS ter vindo depois a fazer uma grande campanha contra os parquímetros, quando antes, na reunião da Câmara, os aprovou. Como no caso da construção que está agora a emergir no parque urbano e que, para nós é só de benefício para o empreiteiro-construtor, que vai naturalmente ficar com a responsabilidade de gerir aquele espaço comercial, que tanto quanto sabemos não vai ser para roupas, sapatos, etc., mas para outro tipo de comércio, mais simpático, mas que não deixa de constituir um aproveitamento e ser uma alteração profunda àquilo que inicialmente estava previsto: a construção de um parque radical, de um espelho de água e de ajardinamento daquele espaço.

    Ora isto foi votado em Março, depois houve uma alteração escondida de que só agora percebemos o alcance, para beneficiar quem está a construir o parque de estacionamento.

    A proposta era do PSD, mas o PS absteve-se. Mas quase de certeza o PS ainda vai procurar aparecer aí assim a procurar denunciar uma “aberração relativamente à qual eles estiveram sempre contra”, quando se sabe que não.

    Por: LC

     

     

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