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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-04-2005

    SECÇÃO: Local


    I PASSEIO PEDESTRE

    Ágora pelos caminhos de Ermesinde

    A aposta do ÁGORArte foi, desta vez, para uma caminhada por Ermesinde. O percurso pedestre orientado pelo professor e historiador Jacinto Soares juntou, manhã cedo, dezenas de pessoas numa oportunidade que serviu para conhecer melhor a cidade. Um desporto à volta do património local. Todos aplaudiram esta iniciativa que pôs os ermesindenses a andar.

    “Nunca tinha reparado” foi a expressão mais ouvida entre os quarenta e dois participantes que no dia 16 de Abril meteram pés ao caminho e percorreram, em grupo, o circuito pedestre traçado pelo Ágora. Uma iniciativa do núcleo “Pés Ligeiros”, que pôs os ermesindenses a caminhar. Juntar a actividade física com a descoberta de alguns sítios – inundados de história local – deu o mote para o I Passeio Pedestre de Ermesinde.

    REGRESSO AO PASSADO

    Eram cerca das 8h30 e já todos estavam preparados para iniciarem o passeio por Ermesinde. Nem as ameaças da chuva (sempre pouca) que caiu no dia anterior demoveu os participantes a juntarem-se no Parque Urbano de Ermesinde, o local de partida. Todos deram nas vistas pelo porte desportivo que irradiava do grupo e as máquinas fotográficas penduradas a tiracolo.

    De desdobrável na mão e mapa localizando os locais de paragem, lá seguiram os passeantes. Primeiro uma passagem pela Quinta de Ermesinde e depois o rio Tinto. De seguida o Convento de Nossa Senhora da Mão Poderosa - mais conhecida pela Igreja, a de Santa Rita –, depois os famosos conglomerados de Ermesinde, nos Montes de Sá. Este percurso durou cerca de quatro horas mas ninguém mostrou marcas de cansaço dado o interesse e a curiosidade da descoberta das terras de Ermesinde (ver “Passeio por Ermesinde”).

    Não podemos esquecer a cara de espanto dos mais ou menos novos que não se cansavam de repetir “tantas vezes passei por aqui” e não tinham reparado. É que há tantas coisas para descobrir e dúvidas para esclarecer.

    Cerca das 12h30, o grupo parou junto à Escola Secundária de Ermesinde, porque o passeio acabou. Mas aos participantes foi entregue um diploma de participação, cores verdes em nome do ambiente que cada vez mais todos quererão preservar.

    Uma manhã que ficou também na história, mas agora pessoal, das gentes de todas as idades que calcorrearam a cidade. E foram muitas as descobertas nos caminhos percorridos, ou não quisesse dizer “Ermesinde”, na sua etimologia germânica, “caminho íngreme”.

    A PRÁTICA DESPORTIVA

    Numa altura em que se valoriza a prática desportiva, o pedestrianismo – ou a actividade de percorrer distâncias a pé – começa a ganhar agora força em Ermesinde. Uma forma de reconciliar os ermesindenses com a sua cidade, pela descoberta do património ambiental e local, e que se junta ao gosto pelo desporto em prol da saúde. Em cada paragem e a cada passagem por algum lugar ou sítio com história, Jacinto Soares, professor e historiador da etnografia local, ia ensinando, mostrando e contando outras histórias.

    Quem participou nesta nova prática desportiva – ou viu passar os caminheiros – não ficou indiferente à alegria contagiante e à boa disposição que emanava em cada passo que davam. Uma manhã em cheio, com conversas paralelas e outros contos a acrescentar por quem conhecia os lugares onde passavam. Pequenos farnéis saíam, de quando em vez, das mochilas e bolsos dos participantes, sempre atentos às informações que iam sendo dadas por Jacinto Soares com a voz projectada por um megafone que, muito a propósito, foi levado para o passeio.

    PASSEIO POR ERMESINDE

    Fotos: Manuel Valdrez
    Fotos: Manuel Valdrez

    1. Quem passa por baixo da “ponte do comboio” na Rua de Rodrigues de Freitas depara-se com umas escadas de pedra, estreitas e altas, as Escadinhas, como ainda hoje são conhecidas. Um sítio que marca os caminhos da modernização. Foram construídas para permitir um acesso mais fácil das pessoas à paragem do carro eléctrico que, nos inícios do século XX, serviu de meio de transporte à população ermesindense, depois do “americano” puxado por cavalos. Estávamos no ano de 1921 e era por aqui que se entrava num lugar a palpitar de gente trabalhadora. Hoje, podem servir para aceder, por exemplo, à Avenida João de Deus. Foi este o caminho que seguimos.

    2. Subindo pela Rua de Ermesinde, encontramos logo à direita a “Casa do Capitão”. Atravessamo-nos na história local, quando aquele lugar era conhecido por aldeia de Ermesinde. Jacinto Soares anota que a denominação desta casa agrícola – de raiz arquitectónica do século XVIII – tem duas origens distintas. Conta-se que o dono da casa tinha um parente militar com a patente de capitão mas também consta que, durante as lutas liberais do século XIX, esteve ao serviço dos oficiais do Hospital de Sangue que assentou no actual Colégio de Ermesinde aonde também nos deslocámos.

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    3. Apesar de estar em visível estado de abandono, do lado esquerdo – para quem sobe até à Igreja do Bom Pastor – encontramos a antiga Quinta de Ermesinde, local onde foi construída, no século XVII, uma capela que já foi pública e da qual resta, diz-se, um vitral que apenas podemos imaginar. Uma paragem à volta da “ermida do Calvário” que está em frente ao muro que nos separa de uma quinta que já quase não tem conserto.

    4. A “casa do Mechas” ficou famosa em Ermesinde. Aqui existia o “boi de cobrição” que servia toda a freguesia. É a casa amarela que está na esquina do largo. Era lá que se fabricavam as cangas e os “cofinhos” vendidos nas feiras e que serviam para pôr no focinho dos bovinos.

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    5. E o rio Tinto que já passou por aqui, aquele que deu origem à vizinha localidade de Rio Tinto. Estamos na Rua Padre Américo, no Lugar do Ribeiro, onde as presas de água eram motivo para os rapazes irem a banhos. A primeira piscina em Ermesinde do século XX. Essas “presas dos lavradores”, que serviam para levar o precioso líquido aos campos arados desta terra com história. Neste local “chegou-se a praticar a tradição da Serração da Velha”, afirmou Jacinto Soares. Mas pouco resta do rio Tinto. Foi tapado, nos anos 40, para dar lugar a uma estrada.

    6. A imponente fachada do Convento da Nossa Senhora da Mão Poderosa do Bom Despacho (conhecido actualmente pela Igreja da Santa Rita) não deixa ninguém indiferente. Foi construído no século XVIII, pelos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, tendo no século seguinte albergado o Hospital de Sangue de D. Miguel. Jacinto Soares recordou mais uma vez as lutas sangrentas e as perpétuas homenagens aos soldados desconhecidos.

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    7. Com vistas para o mar, nos Montes de Sá, na Costa, situam-se os conglomerados de Ermesinde. Constituídos por rochas sedimentares – formados por detritos e fragmentos de outras rochas e ligadas por cimentos naturais – os conglomerados são a marca de milhões de anos da história geológica. Um sítio que, no entanto, não está envolvido pela poesia que merece. Envolvidos por lixos e resíduos urbanos, confundem os passeantes que, só à custa da aventura, descobrem o lugar onde outrora as plantas carnívoras tinham também o seu habitat. É ver para crer.

    8. Depois foram os lugares de Sonhos. No Alto, soubemos do Castelo de Sonhos, agora inexistente, mas vimos imagens que o registam. Ficava em frente do seminário dos Padres Maristas, situado na que ficou conhecida por Quinta do Alemão. E a fonte com a sua água corrente a marcar um passado que o Ágora tornou presente.

    Por: Paula Valdrez

     

     

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