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    Arquivo: Edição de 30-04-2005

    SECÇÃO: Crónicas


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    Golpe de Estado, revolução evolução e regressão

    Passando mais um aniversário da Revolução de Abril (é assim que é conhecida), que não se levante novamente a polémica do ano transacto sobre a Revolução e a Evolução, pois, este ano, devia ser proclamada a Regressão. Quando todos têm razão ou não têm, a polémica instala-se, a discussão agudiza-se e não tem fim. De facto, no meu entender, houve golpe de Estado, seguido dum ano de revolução e depois tudo voltou à evolução normal que o mundo sofreu durante os últimos trinta anos, entre 1974 e 2004, no campo social, político, económico e tecnológico. Evolução essa que seria a mesma, mesmo que o 25 de Abril não tivesse acontecido. Ou haverá ainda quem acredite que o antigo regime ainda se manteria? Certamente que não. Penso até que já não passaria do ano de 1974, tal era a sua debilidade em face das pressões a que estava sujeito.

    Houve de facto um golpe de Estado militar que começou com reivindicações de carácter laboral que nada tinham de democrático, foi até, de certa forma, elitista. Apercebendo-se depois da fraqueza do Estado Novo que já nada tinha de novo e que até já estava velho, fora de prazo e fragilizado pela falta da figura que o sustentava, resolveram derrubá-lo em nome da Guerra Colonial. Durante alguns meses seguiu--se a tentativa de implementação dum regime democrático de tipo ocidental que todos aguardavam que viesse, após o desaparecimento de Salazar. Mas o PCP não perdeu tempo para aproveitar a situação e fazer a sua Revolução há muito reprimida. Sabia como iniciá-la com intentonas da reacção fossem verdadeiras ou fictícias.

    Então sim, após o 28 de Setembro de 1974 (que eu passei em viagem de Lisboa para o Porto, com o carro a ser revistado constantemente por grupos de populares) e principalmente depois do 11 de Março de 1975 (a Guerra do Solnado), houve Revolução de verdade, bem preparada ao longo dos anos de expectativa, bem dirigida e bem orquestrada com cânticos revolucionários e tudo. A revolução que o Salazar tanto temia e que conseguiu evitar tantos anos, não abrindo o regime à democracia ansiada e que só veio após 5 anos da sua morte. Deixaram o seu corpo desfazer-se primeiro, não vá ele ainda aparecer por aí com toda a força da sua PIDE. O PCP, depois de tantos sacrifícios e de tão longa espera, também tinha direito à sua Revolução, era justo. Pôs a sua máquina revolucionária em acção e com a energia determinada, quase paranóica de Vasco Gonçalves e a ajuda da ala esquerda do MFA, quase que conseguia transformar Portugal em mais uma República Socialista Soviética mas esta de Oeste, o que era impossível, dado o novo tratado de Tordesilhas que imperava na época.

    Os grupelhos da esquerda pop, maoistas, trotsquistas e maxistas-leninistas (muitos ganharam juízo com a idade e já estão nas hostes liberais), ensaiaram todo um folclore revolucionário que, no auge do Verão Quente, atraiu a Portugal grande número de jornalistas e turistas que vinham ver uma revolução proletária ao vivo, com reforma agrária, assaltos a casas devolutas, cercos ao Patriarcado, assaltos à comunicação social, tomadas de fábricas pelos operários e expulsão do patronato reaccionário; manifestações e contramanifestações, prisão de fascistas, saneamentos, sessões de esclarecimento (autênticas lavagens ao cérebro), cânticos revolucionários, desfiles de operários, camponeses, soldados e marinheiros (hoje fazem-se desfiles de larilas e lésbicas). Quem disse que não houve Revolução? Valia a pena viver em Portugal, naquele curto espaço de tempo, numa revolução contínua, permanente, onde não havia lugar para o tédio até chegar a contra-revolução das forças conservadoras, aliadas ao PS e à CIA que acabaram com todo o espectáculo revolucionário, pondo o PS no poder e voltando tudo à Evolução natural das coisas.

    Esta Revolução que redundou na luta entre comunistas e maçons, as principais forças de oposição ao antigo regime, trouxe grandes benefícios às populações e aos trabalhadores, tanto no campo político como social, pois a Economia ficou arrasada e desacreditada o que não admira, uma vez que estava a ser implementada outro tipo de sociedade e de Economia.

    Eu, pessoalmente, defendi e defendo algo da Revolução como a nacionalização do sector energético, parte da Banca e Seguros, da distribuição dos bens mais indispensáveis como a água e de outros serviços essenciais e o fim dos grandes latifúndios, já obsoletos. A participação dos trabalhadores nas empresas, através das suas estruturas representativas, a obtenção de regalias e direitos sociais avançados e uma política com mais participação dos cidadãos foram conquistas das Revolução que se estão agora a perder com a Regressão. Uma das estruturas democráticas que praticamente desapareceram, foram as Comissões de Moradores, pois permitiriam uma maior participação das populações na política local e também defender-se das prepotências das autarquias.

    O povo aproveitou bem o Processo Revolucionário em Curso (PREC) mas não permitiu que os comunistas tomassem o poder, pois sabia que toda aquela democracia e amplas liberdades apregoados, acabariam logo que chegasse a Vitória Final e um novo regime totalitário surgiria. E de ditaduras, já todos estavam cheios mesmo que fossem do proletariado.

    O certo é que a Evolução apregoada no ano passado, veio desmascarar certos espíritos seguidistas do antes do 25 de Abril que, quando o chefe dizia que houve Evolução, eles, sempre subservientes, sem ideias próprias, repetiam, por todo o lado, a voz do chefe (His Master Voice), que houve Evolução. De facto, o que houve e nos está agora a tramar, foi Regressão e hoje o país está novamente nas mãos do grande capital, dos grandes grupos financeiros que dominam a comunidade europeia onde nos inserimos e que, na mira do lucro, das cotações da Bolsa, estão a explorar tudo o que há para explorar, mesmo o mais absurdo, provocando o desemprego, a falência do Estado Social e pondo em risco todas as conquistas de Abril e não só. Saímos duma e metemo-nos noutra e isto já não é Revolução, nem Evolução mas sim Regressão!

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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