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A última morada
Na excursão a Lisboa, da autarquia, Eburu sentou-se ao lado de um tipo de óculos. Por aqueles dias, a conversa, em língua moderna, só podia rumar num sentido:
- O vizinho já viu o que me fizeram? Arrasaram-me a anta de família, ali na Herdade do Vale da Moura. Aguentou 6000 anos sem estragos de maior! Agora vieram estes tipos e mandaram aplanar o terreno todo, para plantarem um amendoal intensivo, como se lhes fizesse falta o terreno de meia dúzia de árvores.
- Olhe, eu sou ali de ao pé de Montemor e estou morto de fresco. Morri há 4 anos e nem fui à terra; fui direto para o crematório de Ferreira e para o cendrário coletivo. É assim a nossa vida. Somos a única espécie que tem comportamentos funerários - continuou o recém-conhecido. E foi discorrendo sobre a cremação entre os povos nómadas e o enterramento nas comunidades agrícolas. - Depois, o resguardo dos restos mortais em urnas, jazigos, criptas deve ter sido adotado quando se ganhou a convicção, ou pelo menos a esperança, na vida depois da morte. Se o corpo fosse bem preservado por uma mumificação eficaz, como faziam os Egípcios, e bem resguardado numa estrutura inexpugnável, o morto tinha as melhores condições, quando iniciasse a viagem para um outro mundo, ou quando ressuscitasse.
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| ILUSTRAÇÃO @RODOLFO.BISPO77 |
Em Lisboa, Eburu tratou de visitar o Cemitério dos Prazeres. Ia disposto a tentar perceber se a falta de respeito pelos mortos e pelo património também se fazia sentir na grande cidade. A grandiosidade do mausoléu do Duque de Palmela, que alberga os restos mortais de mais de 200 membros da família, causou-lhe um misto de admiração e ressentimento pela ostentação faraónica. A seu lado, dois outros turistas isolados apreciavam o túmulo coletivo.
- Fico impressionado, confesso, com a capacidade desta necrópole - lançou Eburu aos presentes. - Já sou mais cético em relação à longevidade… Eu estive numa anta no Alentejo, logo abaixo de Évora, rodeado por vários familiares, durante quase 6000 anos. Mas, há uns meses, vieram com máquinas e destruíram-na completamente...
- Como eu o compreendo, amigo! - respondeu um. - Isto são tempos terríveis. Não há respeito por nada. Chamo-me Creze. Vivi há 3000 anos numa área junto à serra da Gardunha. Há uns 60 anos, um agricultor desenterrou a minha arca funerária, para fazer uma pia para os animais, mas ao tentar fazer um furo no fundo, escavacou-a. O meu espólio, a minha última morada, a minha dignidade foram completamente esfacelados.
Eburu estava impressionado. Parecia que o seu caso, que tanto o indignava, era a regra.
O outro ouvinte pareceu ganhar coragem para contar a sua história.
- O meu nome é Arnth Vipinana, de uma das mais importantes famílias etruscas do final do século IV a.C. O meu sarcófago, com altos relevos de cenas guerreiras na face maior e a minha figura de vulto, em atitude de descanso majestoso, na tampa, manteve-se em sossego durante 22 séculos, na cripta coletiva subterrânea. Em 1839, a necrópole foi descoberta e os sarcófagos vendidos. O meu e mais dois foram parar à Quinta de Monserrate, em Sintra, do comerciante inglês Francis Cook. Cook lançara-se na construção de um esplendoroso
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Por:
Joaquim Bispo
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