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    Arquivo: Edição de 20-09-2021

    SECÇÃO: História


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    ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (28)

    As dificuldades económicas

    Em setembro de 2021, há um século, as condições económicas, sociais e políticas agravaram-se. Desde a participação de Portugal, na Primeira Grande Guerra, ao lado dos Aliados, na Europa, após janeiro de 1917, e com o surgimento da pneumónica (1918), a situação agravou-se significativamente no nosso país, sendo clara manifestação disso a desordem social com greves gerais, assaltos a armazéns e lojas, onde existiam produtos de primeira necessidade. A carestia de vida também se fez sentir de forma muito acutilante, com a carência alimentar a provocar situações de fome e de miséria num largo estrato populacional, sobretudo nas maiores cidades. Além da pneumónica registaram-se outros surtos epidémicos, nomeadamente a varíola, febre tifoide, tifo e disenteria, que estiveram na origem de muitas mortes.

    Com a participação na Primeira Grande Guerra (1914 a 1918), em África (Angola e Moçambique, desde 1914) e na Flandres francesa (desde 1917), Portugal viu agravarem-se os seus problemas económicos que, por tradição, vinham dos séculos anteriores. A Guerra representou um grande custo financeiro (com consequente endividamento externo) e ocupou parte significativa da mão-de-obra masculina jovem. Por isso, as dificuldades foram maiores.

    No domínio agrícola, Portugal adiou a “reforma agrária” e continuou carente de trigo para fazer o pão, recorrendo a importações que ajudava a pagar para manter o preço do pão o mais baixo possível, tentando evitar, assim, a fome generalizada das classes urbanas pobres. Portugal continuava a ser um país rural, cuja população vivia, sobretudo, da exploração de vinho, cortiça, frutas e da pastorícia. A instabilidade política da Primeira República (45 governos) também não ajudou à tomada de decisões estruturais capazes de fazer renascer a economia, em bases sólidas.

    Após o Armistício, o défice orçamental, a dívida pública e a desvalorização da moeda foram motivo de diversas crises governamentais e de instabilidade política. A depreciação do escudo provocou a fuga de capitais e o aumento dos preços. As reservas de ouro desceram e o país foi obrigado a uma política de austeridade orçamental. O país atravessou grandes dificuldades que estão, de resto, na base da queda do regime republicano, em 1926.

    Edital do Governador Civil do distrito de Leiria de 3 de outubro de 1918 proibindo grandes feiras e romarias para impedir ajuntamentos
    Edital do Governador Civil do distrito de Leiria de 3 de outubro de 1918 proibindo grandes feiras e romarias para impedir ajuntamentos
    No que respeita ao abastecimento, à entrada e saída de géneros em cada concelho, à garantia da ordem e segurança públicas, essas funções eram da competência do administrador do concelho (o representante do governo em cada município), que nem sempre as conseguiu exercer de forma a evitar situações de graves carências em matéria de subsistências e consequente agitação social.

    É preciso lembrar que neste período de que estamos a falar (após 1918 e até 1921) as taxas de mortalidade da população portuguesa eram muito elevadas. E, especialmente, em 1918, as Taxas de Mortalidade atingiram valores superiores a 40 óbitos por cada mil habitantes, e a taxa de mortalidade infantil chegou aos 46,5 por mil. Foram, de facto, das mais elevadas taxas de mortalidade que Portugal conheceu. Só a pneumónica ou “gripe espanhola” fez mais de 60 mil vítimas, a que se juntaram mais umas dezenas de milhares provocadas por outras doenças graves e pela grande degradação que as condições de saúde então conheciam.

    Tudo isto é também resultado das más condições em que vivia a maioria da população portuguesa, com uma alimentação pobre, porque o pão era cada vez mais caro e produtos alimentares como o peixe, a carne ou a manteiga, eram comercializados por preços elevadíssimos devido aos impostos, operações cambiais e taxas alfandegárias. Muitas vezes a qualidade dos produtos também era adulterada, com repercussões evidentes a nível da saúde. Para se ficar com uma ideia dos valores, podemos dizer que, por exemplo, um litro de leite correspondia a cerca de 18% do salário médio de um operário e, uma dúzia de ovos chegava a equivaler a 60% do mesmo ordenado. Em 1917, um operário ganhava por dia cerca de 60 réis e, em 1924, 8 escudos e meio.

    Efetivamente, nos anos 1920, o custo de vida subiu vertiginosamente em Portugal (e nos outros países que mais diretamente estiveram envolvidos na Guerra) e não foram acompanhados, ao mesmo nível pelo poder de compra. Comparando com o ano de 1914 (índice 100), um estudo sobre as condições de vida do operariado bracarense, mostra para o ano 1921, um aumento dos salários dos trabalhadores para os 750; enquanto o custo de vida aumentou, no mesmo ano, para 816,70; houve, portanto, uma evidente perda do poder de compra, que se vinha já agravando desde 1918.

    Mas para que o leitor fique com uma ideia mais exata do que então se passava em Portugal, nada como, a terminar, transcrever um texto que, sobre este assunto, saiu no diário “A Capital” aos 17 de setembro de 1921.

    Sob os títulos “Carestia da vida” / Preços intoleraveis – Abuso de confiança – Um bom exemplo a seguir”, escrevia-se na primeira página de “A Capital”, desse dia, o seguinte:

    «O vocabulario portuguez não comporta palavras suficientes para expressar a indignação que vai no animo do povo, perante a carestia exorbitante e injustificada dos géneros de primeira classe.

    A baixa no preço da libra-cheque serve aos especuladores de retalho para pretexto justificativo do imenso crime que se está cometendo a coberto da palavra – carestia.

    Não se trata do bacalhau, que, embora carissimo, vem do estrangeiro e pode bem defender-se com o cambio, comquanto nem sempre justificadamente.

    Outros artigos, porém, genuinamente nacionais, como carnes, banha, chouriço, manteiga, queijos, batata, cebolas e tantos outros que nada teem que vêr com França, Inglaterra, Belgica ou America, oscilam de dia para dia com o agio da libra, como se dela estivessem dependentes.

    O vocabulo – ganhuça ou ganancia – não traduz por modo algum este proceder inadmissivel da parte dos comerciantes, com a cumplicidade tolerante das autoridades.

    Que os monstruosos escandalos das negociatas inconfessaveis acobertadas por nomes até aqui idolatrados como se fossem fetiches ou manipansos, não tenham o poder de deixar impunes esses outros não menos criminosos, que a sombra de uma licença na Camara Municipal, e uma habilitação e registo no Tribunal do Comercio, se arrojam o direito de agravar a crise alimenticia, com uma carestia injustificada e ás vezes com o envenenamento por generos em adeantado estado de deterioração, quando não falsificados com drogas intoxicantes, é cousa verdadeiramente indispensavel.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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    Por: Manuel Augusto Dias

     

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