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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-09-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (24)

    O Início (continuação)

    Enquanto os reforços militares não chegavam a toda aquela extensa região norte completamente devastada pela fúria cega e inclemente dos guerrilheiros da UPA, no pós 15 de março, ceifando a golpes de catana, à mocada, à pedrada, quando não dispunham de arma de fogo, tudo o que fosse branco ou mestiço, pessoas, animais, etc., inclusive negro, desde que com ele, colono europeu, fosse conotado, naquela vertigem avassaladora duma insaciável sede de sangue, foram os próprios alvos dessa ira que, em autodefesa e quase exclusivamente a expensas suas, se armaram, treinaram, inclusive mulheres e crianças, e organizaram em grupos de milícias, fazendo patrulhamentos e assegurando, dia e noite, a proteção uns dos outros, bem como dos seus familiares e respetivos patrimónios. Isto relativamente aos sobreviventes que ousaram resistir, porque a maioria, especialmente mulheres e crianças, foi de imediato posta a salvo, embarcando, à pressa, numa ponte aérea montada ad hoc entre aquela região e a capital, Luanda.

    A sublevação da Baixa do Cassanje, a sistemática e generalizada chacina dos colonos brancos e dos seus trabalhadores bailundos pelos bacongos da UPA, no norte de Angola, e bem assim a reação igualmente violenta por parte das milícias que, como se disse, na oportunidade se constituíram em autodefesa e a idêntica atuação por parte das tropas portuguesas que entretanto ali acorreram, só por si, já comprovavam, à saciedade, que as tão apregoadas pela propaganda do regime “igualdade racial e paz social”, nos territórios ultramarinos, não passavam, afinal, duma fantasiosa ficção, quiçá uma verdadeira miragem. O fosso entre colono branco e colonizado negro, com toda esta violência atroz, recíproca e em crescendo, ia-se cavando cada vez mais fundo, originando as maiores arbitrariedades à margem da verdadeira justiça que é aquela que incumbe ao Estado, através do seu aparelho judiciário, realizar. Não, o que se fez foi entrar-se numa espiral de vingança privada, em que cada um procurava fazer “justiça” pelas suas próprias mãos, valendo tudo, até cortar cabeças.

    Veja-se, por exemplo, o caso relatado no jornal “PÚBLICO”, de 16 de dezembro de 2012, baseado no relatório dum capitão português, sob o título “ação punitiva de pacificação”, ocorrido no dia 27 de maio de 1961, na sanzala Mihinjo, a cerca de 20 km de Luanda. Muito rapidamente, a história conta-se assim: na sequência duma agressão dum grupo de negros a dois colonos brancos, foram identificados e localizados uns cinco ou seis suspeitos, neste pormenor o relatório não é preciso, na referida sanzala. Detidos e isolados do resto da população, e à vista desta, foram mandados sentar no chão e, após breve e informal interrogatório, sumariamente sentenciados à morte por fuzilamento, pelo próprio capitão, comandante da força militar ali deslocada para o efeito. De imediato foram colocados na frente dum pelotão de fuzilamento que, à voz do comandante, os executou, seguindo-se as suas decapitações, à catanada, e colocação das respetivas cabeças no topo de estacas ali previamente colocadas para o efeito. Entretanto, ficaram duas delas vazias e disponíveis, como advertência, em sinal de que poderiam, também elas, vir a ser rapidamente ocupadas com cabeças de alguém que viesse a usar de violência contra colonos brancos.

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    Esta mutilação dos cadáveres, consistindo genericamente na decapitação, prendia-se com a prática habitual dos guerrilheiros da UPA, nos ataques às fazendas do norte, que acreditavam que um corpo mutilado não ressuscitaria, ao contrário, dos que permanecessem intactos. Por mais macabro que tal se afigurasse à nossa cultura civilizacional europeia, parece ter sido a forma, apesar de altamente discutível, que os seus autores encontraram para se fazerem entender perante os agressores e cultores de tão estranha crença quão macabra prática.

    Obviamente que tudo isto ocorre num meio e a um tempo em que a violência bilateral, num território a ferro e fogo, não conhece limites, provocando o caos generalizado entre as populações.

    Em suma: reinava, pois, o terror negro e o terror branco, a digladiarem-se constante e ferozmente.

    Depois do toque a rebate dos sinos da nação para acudir mediatamente aos massacres que ali estavam a ocorrer, um vasto contingente de tropas mobilizadas à pressa, na metrópole, constituído por várias unidades e de diversas especialidades, num total de aproximadamente dois milhares de combatentes, embarcam, no cais de Santa Apolónia, em Lisboa, no paquete Niassa, fretado para o efeito, um mês e pico depois, mais precisamente no dia 21 de abril, com destino a Luanda.

    Homens mal preparados e deficientemente armados, sem saber muito bem para onde iam, os perigos que iriam enfrentar, nomeadamente, as condições climatéricas, o relevo, as matas, as doenças próprias do clima, entre outros, para além das armas do inimigo, mas suficientemente intoxicados com a propaganda da “sua pátria sagrada ameaçada”, são assim lançados para a boca do lobo, como verdadeira carne para canhão.

    Dez dias após a partida, concretamente a 1 de maio, o paquete atraca no porto de Luanda, onde as tropas são recebidas entusiasticamente pela população branca, desfilando em parada com toda a pompa e circunstância. Mas de Luanda ao teatro de operações ainda iria levar uns bons quinze dias, pois a progressão por terra era extremamente difícil, dada a inexistência de estradas e mesmo as poucas picadas que havia estavam pejadas de obstáculos, nomeadamente, abatises (troncos de árvore atravessados na via) e valas profundas, ali expressamente colocados pelos guerrilheiros da UPA, para além de pontes destruídas.

    (...)

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    Por: Miguel Henriques

     

     

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