França: teatro das operações da Pneumónica (parte III)
Entre 1918 e 1920 a Pneumónica ou gripe Espanhola (da responsabilidade do vírus da Influenza – H1N1) surgiu de rompante e varreu uma parte muito significativa da população mundial. Tal como com o SARS-COV-2, este vírus também se metamorfoseava em várias estirpes. O seu contágio era fulminante pois bastavam as gotículas produzidas pela respiração, tosse ou espirros de quem estivesse doente para contaminar qualquer um à sua passagem. O médico Ricardo Jorge ficou atónito com a velocidade a que se propagava a doença: “O isolamento, arma comum (…) falece perante o ímpeto de um vírus que quase instantaneamente se derrama por uma cidade inteira e salta por cima de todas as barreiras”. Para Fernando Rosas esta foi a pandemia mais “grave e mortífera da História da Humanidade. Num ano matou mais gente que um século de Peste Negra ou que os 8 milhões de mortos da Primeira Guerra Mundial.”
A Espanha foi o primeiro país a noticiar oficialmente a doença, mas o centro nevrálgico (e aqui não há certezas), poderá ter sido os EUA, a partir da base militar de Fort Riley, no Kansas, onde 50 mil homens se preparavam para partir para Brest e daí para a frente de guerra, na França. Alguns militares terão começado a sentir febre, dores de cabeça, náuseas e problemas respiratórios e, no extremo, sangramento pelo nariz e ouvidos. Passadas três semanas de ter sido socorrido o primeiro queixoso (um cozinheiro) já havia 1100 hospitalizados. Do lado americano morreu-se quase tanto de guerra como de doença. Assim, terá sido de Brest, em França, que a doença se expandiu tendo-se tornado numa das mais letais pandemias afetando muita gente jovem adulta e saudável.
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Soldados de Fort Riley, Kansas, doentes de gripe espanhola, sendo tratados em uma enfermaria de Camp Funston. |
Em Portugal, a situação não foi melhor do que em muitos países. Os primeiros casos detetaram-se no Alentejo, mas foram os trabalhadores sazonais que trouxeram a doença de Espanha. Em junho, ela já percorria todo o país, mas não havia grande preocupação (embora não faltassem sinais de alarme). Tudo decorria na normalidade até que, no mês de agosto, se assistiu a um segundo surto. Este teve início em Vila Nova de Gaia e foi muito mais letal que o primeiro. Os meses de agosto, setembro e outubro deram lugar a uma hecatombe. E é só neste momento que as autoridades sanitárias se apercebem da gravidade da situação. A morte terá atacado no seu período mais mortífero, entre junho e novembro de 1918, cerca de 60 mil pessoas. As faixas etárias mais atingidas terão sido as crianças até aos 2 anos e os adultos entre os 20 e os 39 anos.
Fernando Rosas afirma que em seis meses a pneumónica “terá provocado c. de 10 vezes mais mortos do que todos os que tombaram nas três frentes da Grande Guerra em Angola, Moçambique e na Flandres durante os quatro anos que ela durou.”
O controlo da doença ficou sobretudo a cargo da Direção Geral da Saúde (DGS), de Ricardo Jorge e dos Hospitais Civis como o D. Estefânia ou Santa Marta. A Cruz Vermelha encarregou-se do transporte de doentes e da edificação de um hospital de campanha na Junqueira, em Lisboa. No entanto faltava quase tudo em Portugal para combater a doença: profissionais e instalações hospitalares. Por isso, não é de estranhar que até o Liceu Camões tenha sido ocupado para dar resposta às necessidades e se tenham criado 500 camas no Hospital do Rego para isolamento.
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Por:
Cândida Moreira
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