TESTEMUNHO DE JACINTO SOARES
Manuel Carneiro - O «Pintor Rebelde»
Foi precisamente com este título que escrevi, num livro sobre o património de Ermesinde, uma resenha biográfica sobre o meu amigo que, agora, desapareceu do nosso convívio. A nossa amizade é antiga e remonta ao Patronato de S. Lourenço, onde os jovens de Ermesinde aprendiam a «doutrina».
Passou pela Escola Soares dos Reis, onde graças a conhecidos e categorizados mestres, se iniciou no restauro de arte sacra, sobretudo nos douramentos e «fingimentos». A pintura é, no entanto, a sua expressão artística favorita, embora se torne um exímio artista na modelação e restauro de estuques artísticos.
O seu feitio brincalhão e a propensão para o humor e camaradagem, levam-no, a partir dos anos oitenta, a abrir o seu «atelier» na Travagem e a lançar-se na aventura de trabalhar por sua conta. Aqui, «tocava a tudo», como gostava de dizer, fazendo de cada novo cliente um novo amigo. São desta altura, também, os célebres “cacos”-bocados de ardósia, alguns em forma de concha, onde criava motivos pintados à mão.
Foi nesta altura, meados dos anos oitenta, que nos encontrámos na CMV, onde a sua criatividade e génio foram postos ao serviço da renovação e arranjo de peças antigas, estando a maioria delas, no Museu da Câmara, ao tempo, Museu Dias Oliveira.
Célebre pela história que envolve é a recuperação, feita por si, da conhecida estátua da República, que os «Monárquicos do Norte» lançaram para a rua, quando invadiram a sala das sessões, em 1919.
Falar das tuas obras e trabalhos de vários tipos que deixaste por este país fora, ocuparia várias linhas desta homenagem/lembrança que te devia fazer, porque tu bem a mereces, nesta hora de partida.
Como recordação da nossa amizade vou deixar nas páginas da VE, a foto da obra de que eu mais gosto - pintura em tela do «Presépio na Igreja do Senhor do Livramento, em S. Miguel –Açores».
R.I.P.
Jacinto Soares
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