Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 31-03-2020

    SECÇÃO: Últimas


    foto
    ENTREVISTA COM O CÓNEGO JOÃO PEIXOTO

    Paróquia de Ermesinde conta-nos como leva por diante a sua “missão” em tempos de pandemia

    foto
    É inegável que o novo coronavírus provocou, ou está a provocar dia após dia, melhor dizendo, profundas alterações no quotidiano de todos nós. Fintar este inimigo invisível obriga-nos a alterar hábitos, rotinas nos mais diversos papéis que desempenhamos na nossa vida. Quer sob o ponto de vista profissional, social, ou pessoal.

    Estamos todos a adaptar-nos a uma nova forma de viver e a olhar o Mundo. Uns fazem-no com maiores dificuldades, outros com menores. Uma das principais medidas pedidas – ou impostas – a todos nós pelas autoridades nacionais e internacionais no sentido de conter/travar a propagação do vírus foi o isolamento social. Uma medida que tem implicado que muitos dos hábitos rotineiros que são implícitos à nossa forma de viver tivessem de ser suspensos nuns casos, modificados noutros casos, para bem de todos com a missão de rapidamente esta pandemia se eclipsar das nossas vidas.

    Um desses hábitos que ficaram suspensos foi a prática do culto religioso, a participação em cultos religiosos de forma presencial, como as missas, as confissões, as idas à catequese para os mais novos. E isto levou-nos à conversa com o cónego João Peixoto, o pároco de Ermesinde, no sentido de perceber, ou conhecer, a forma como a nossa paróquia está a levar por diante a sua missão nestes dias que vivemos no presente, a (nova) maneira como se relaciona com os seus paroquianos e vice-versa.

    Desde logo como é que a Paróquia de Ermesinde está a viver esta fase de isolamento social, ou presencial, se assim lhe quisermos chamar, em relação aos seus fiéis/paroquianos. A resposta do cónego João Peixoto é perentória: «Estamos todos a passar mal… A palavra «Igreja» quer dizer «assembleia» que se reúne em resposta a uma convocatória… A impossibilidade de nos reunirmos fere-nos no que temos de mais íntimo e identitário. Sem nunca poder preencher este vazio, esta ausência, penso, contudo, que a situação presente nos vai fazer crescer de vários modos».

    E de pronto enumera alguns, desde logo, o impedimento «das nossas assembleias leva-nos a dar-lhe mais apreço, a desejá-las, a ter saudades da vida comunitária; como noutros casos, a privação força-nos a tomar consciência do imenso tesouro que tínhamos – temos – e a que não dávamos o devido valor».

    PALAVRA “FAMÍLIA” GANHA

    UM NOVO SENTIDO NESTA CRISE PANDÉMICA

    Noutro modo, refere que a distância física, neste como noutros casos e contextos, aguça o engenho e a criatividade no sentido de encontrar alguma forma de compensação – nunca de substituição – «aproveitando-nos, nomeadamente, do progresso das comunicações e interconexões telemáticas, hoje ao alcance de todos».

    A palavra família ganha ademais um novo sentido com esta crise pandémica, pois «a impossibilidade de nos reunirmos como Paróquia – Família de famílias – permite-nos redescobrir e/ou revalorizar a vida familiar, aquilo a que chamamos «Igreja doméstica». Eis uma ocasião para as nossas famílias se reassumirem como espaço fundamental para a vida de fé, esperança e caridade, como verdadeiras Igrejas onde se reza e celebra em «espírito e verdade», diz o cónego João Peixoto, acrescentando que «nos inícios do cristianismo, a Igreja começou em famílias, em casas familiares. Hoje, devido à pandemia, como que voltamos a esses inícios: em vez de grandes reuniões, temos muitos «dois ou três» a reunirem-se em nome do Senhor. Esta é a graça que nos visita em tempo de “Covid-19”, é Deus a escrever direito por linhas tortas… O saldo final entre ganhos e perdas será o mesmo Deus a apurá-lo…».

    foto

    DISTÂNCIA FÍSICA É SUPRIMIDA PELA PROXIMIDADE VIRTUAL

    Tal como o pároco da nossa Cidade sublinhou antes, a distância física aguça o engenho e a criatividade no sentido de encontrar alguma forma de compensação, ou aproximação. E nesse sentido, tal como tantas outras paróquias também a de Ermesinde está a usar as novas tecnologias para celebrar a eucaristia, através das redes sociais, do facebook mais precisamente. Ora, temos percebido à medida que o tempo avança e as transmissões se vão sucedendo, que há cada vez mais pessoas a assistir a essas transmissões. Isso leva-nos a questionar o cónego João Peixoto se perante esta adesão bastante significativa às transmissões pelas redes sociais da eucaristia sente que está a acontecer uma maior aproximação à igreja nesta fase da vida das pessoas, ainda que seja uma aproximação virtual sob o ponto de vista físico, mas real em termos sentimentais.

    «Devo confessar que, até esta emergência, era muito reservado, por vezes crítico, em relação às virtualidades das novas tecnologias em proporcionar meios idóneos não só de informação – isso é mais óbvio – mas também de comunhão e íntima participação, envolvendo mesmo a esfera dos sentimentos e das emoções. A caricatura de pessoas sentadas à mesma mesa mas alheadas umas das outras, apesar de interconectadas em alguma das várias redes e plataformas digitais, desacreditava, no meu espírito, a idoneidade destes instrumentos para mediar uma comunhão «real». «Virtual» e «real», para mim, pertenciam a universos diferentes e o importante é a «comunhão real» entre as pessoas, comunhão essa que só me parecia possível pela presença recíproca e simultânea, pelo encontro em espaços físicos partilhados e em tempos determinados. Com o impacto desta privação e com as vivências inéditas que ela proporciona começo a ter de conceder que «virtual» e «real» não são continentes distantes mas que, pelo contrário, são “espaços comunicantes” que se intersetam e compenetram com fronteiras difíceis de confinar. A desmaterialização do encontro e da presença recíproca não é só negativa mas tem «virtualidades»; o «virtual» pode ser «virtuoso». Naturalmente, não podemos «comungar» indefinidamente deste modo sob pena de mutilarmos a nossa dimensão corpórea que é essencial à nossa humanidade. Nós não «temos» corpo: «somos» corpo», diz-nos.

    foto

    FACEBOOK TEM PROPORCIONADO UMA PROXIMIDADE

    LONGE DO QUE SERIA IMAGINADO

    De forma mais concreta o cónego João Peixoto reconhece que a página da Paróquia no facebook tem proporcionado uma presença e proximidade que estava longe de imaginar. «Há quem nos siga – e fá-lo porque se sente ligado a Ermesinde – na França, na Itália, no Canadá, nos Estados Unidos, no Reino Unido… Uma simples eucaristia de semana que não reuniria na nossa Igreja mais de 60/80 pessoas, é seguida por centenas. E só é pena que a qualidade das nossas transmissões nem sempre seja a melhor… A notícia de um óbito, de um 7.º dia, são logo seguidas com interesse e são objeto de partilha. Isso acontece também porque as pessoas estão isoladas e, nas horas de tristeza como nas de alegria, precisam de sentir o abraço da comunidade, abraço que estes meios tornam possível, até certo ponto», diz.

    “A igreja podia estar vazia (fisicamente), mas sinto-a cheia (espiritualmente)”, foi um comentário que o cónego João Peixoto proferiu numa dessas primeiras transmissões on-line, uma frase que a julgar pelos muitos comentários que seguidamente surgiram na página da paroquia tocou fundo das pessoas. No seguimento desta constatação, o pároco de Ermesinde recorda que sentiu isso logo no primeiro domingo em que foi cancelada a celebração comunitária da missa (14/15 de março), «e fizemo-lo por imperativo ético, ainda antes de a Conferência Episcopal o determinar ou aconselhar. Por isso, logo me determinei no propósito, enquanto de mim dependesse e a saúde mo permitisse, de não deixar de celebrar um só dia que fosse a Eucaristia na igreja paroquial – não em casa ou numa capela! – É que a missa nunca é «privada»! Pode ser celebrada sem a presença física do povo, mas, por sua natureza, é sempre pública e comunitária. Eu olhava para a grandiosa nave da nossa igreja, com os bancos vazios, mas sentia-a repleta dos paroquianos que se sentem filhos desta igreja e irmãos. E, mais ainda, de toda a comunhão dos santos. Não é em vão que nós, na celebração da eucaristia, sempre mencionamos a Virgem Maria, São José, os Apóstolos e mártires, o Papa vivo, o Bispo da diocese, os fiéis defuntos… Estão todos em redor do altar!».

    foto
    Até que… «alguém, no facebook, me desafiou a fazer a transmissão das celebrações e eu respondi que não sabia como… Aprendi. E, agora, se o faço não é para que os paroquianos me vejam porque até gostaria que o plano se afastasse e se visse menos padre e mais igreja. Tenho, porém, de encontrar um ponto de equilíbrio, atendendo a que, na maior parte dos casos, as pessoas veem a transmissão a partir de dispositivos de pequenas dimensões. Não faço as transmissões para ser visto mas para ajudar os paroquianos, os familiares e amigos das pessoas que recordamos, os membros da comunidade humana de Ermesinde a «virem» à sua igreja do modo que lhes é possível, rompendo o isolamento e redescobrindo o valor e a riqueza da comunhão e da comunidade: uns com os outros e todos com os Anjos e os Santos, com os Pastores da Igreja Universal e local, e com os que partiram antes de nós para o Reino de Deus, desde o justo Abel até ao último dos fiéis», diz.

    Será este número crescente de visualizações um sinal de que as que as pessoas procuram nestes dias mais a igreja - ainda que virtualmente - para ultrapassar os medos, a ansiedade, a incerteza, dos tempos em que vivemos.

    O cónego João Peixoto diz-nos que não descarta essa hipótese e assume que «esta “frequência virtual” em muitos casos pode ser efémera, atendendo às motivações que refere. Mas faço também uma outra ponderação: estamos a viver a maior crise civilizacional – de saúde, moral, cultural, política, social, económica, financeira… – desde o fim da II Grande Guerra Mundial (1939-45). Perante um terramoto desta magnitude, apercebemo-nos da fragilidade de tantas construções ideológicas e de como os deuses «ateus» que dominavam as nossas vidas – materialismo, hedonismo – são ídolos com pés de barro a quem servimos devotadamente mas que, afinal, não nos servem na hora da aflição. Perante um abalo tão profundo, é compreensível que muitos homens e mulheres se voltem para o Deus dos seus pais e avós, e despertem a fé que, apesar de tudo, ainda não se apagou de todo debaixo das cinzas do ceticismo e do relativismo. É hora de conversão e de renovada evangelização», diz o pároco.

    Porém, as novas tecnologias não estão ao alcance de todos. Há os mais idosos, a população mais vulnerável, os doentes, que estão em suas casas e que mesmo não existindo este isolamento social não poderiam, por outras razões de saúde que não a Covid-19, deslocar-se à igreja. Tem de ser a igreja a ir ao encontro dessas pessoas, como antes do eclodir da pandemia acontecia. E agora, como está a ser feito este acompanhamento nesta fase em que urge o isolamento social. O cónego João Peixoto diz que neste momento vai menos à casa das pessoas, por razões de cautela (em ambos os sentidos: para não contagiar nem ser contagiado e, consequentemente, contagiar). «Mas não deixo de ir quando é caso disso. E normalmente chamam-me em horas de transe, dolorosas. Quando a urgência do momento não permite adiamentos, cabe-me dizer “presente” e levar o conforto dos sacramentos e da graça de Deus – que se traduz em paz, serenidade, esperança – de que não sou fonte, nem dono, mas apenas ministro (leia-se: servidor) e instrumento». Acrescenta que «a visita aos enfermos, por doença ou velhice, é das atividades pastorais que me proporcionam maior felicidade. A ponto de não saber se chego a dar alguma coisa tal é a desproporção com o muitíssimo mais que recebo. E neste ponto temos um «pelotão de comandos» com uma capacidade de intervenção inexcedível e uma generosidade inesgotável: os Ministros Extraordinários da Comunhão. Infelizmente eles estão impedidos, nesta fase, de assegurar as visitas regulares aos doentes. E que falta fazem essas visitas: aos visitados e aos visitadores! Em relação aos casos de fragilidade material, estou convicto de que a comunidade dará uma resposta solidária, como é timbre de Ermesinde. A nossa Conferência Vicentina está atenta e atuante».

    foto

    UMA PÁSCOA DIFERENTE MAS CELEBRADA COM VERDADE E ENERGIA

    Estamos a poucos dias da Páscoa, uma quadra com significado especial para o Mundo católico. Porém, esta vai ser uma Páscoa diferente, um pouco por todo o Mundo, sendo que Ermesinde não é exceção. Quando questionado como é que a paróquia está a preparar esta quadra, sob os mais diversos aspetos, o pároco começa por dizer que «a Páscoa é a festa das festas, a solenidade máxima da nossa fé. E por isso, vamos procurar celebrá-la com verdade e energia». Explica depois que após «uma Quaresma tão intensa – e intensificada pela quarentena – permito-me pressupor que esta será a Páscoa mais profunda e intensamente preparada das últimas décadas», acrescentando que «às famílias, lançamos o desafio para uma verdadeira vivência e celebração nas casas em que vivem. Na Igreja, realizaremos todas as celebrações com transmissão em direto, convidando as famílias da comunidade a participarem da forma que lhes for possível».

    No final desta longa conversa com o nosso jornal, o cónego João Peixoto deixou uma mensagem à nossa comunidade nestes tempos de alguma turbulência. «A mensagem só pode ser de esperança. Quando falamos de Páscoa, nós, em Portugal, só pensamos no Domingo, com as suas flores e o tilintar das campainhas que despertam e convocam para a alegria que nasce do anúncio da Ressurreição. Mas a verdade é que, desde há 18 séculos, os cristãos celebram a Páscoa com um «tríduo»: três dias. E nesses dias há lugar e tempo, também, para a paixão, morte e sepultura… Tudo isso é «Páscoa». E o ponto de chegada pressupõe o ponto de partida e toda a caminhada. Como se canta num hino: «Não há ressurreição sem haver morte | nem triunfo se não houver batalha. | Saibamos nós morrer em cada dia | e ser o homem novo». Agora a hora é de combate pela saúde, pela paz. Agora é o tempo da paixão em que se sofre e morre. Que esta morte nos conduza a mais e melhor vida, pela Ressurreição de Jesus, nossa Esperança».

     

    Outras Notícias

    · A ciência de uma pandemia
    · As possíveis consequências da pandemia na economia local
    · Abriu o Centro de Rastreios à Covid-19 em Valongo
    · José Manuel Ribeiro apela à incineração dos resíduos hospitalares que continuam a ser enviados para aterro de Sobrado durante a pandemia Covid-19
    · Empresa com sede em Valongo vai produzir uma tonelada de gel desinfetante para as mãos para apoiar Sistema Nacional de Saúde
    · Sexagenário de Valongo detido por desobediência à ordem de confinamento obrigatório no domicílio
    · Telma Lopes (médica e colaboradora do nosso jornal na área da Saúde) fala do que mudou na sua vida desde a chegada da Covid-19
    · CENFIM ajuda na produção de viseiras solidárias
    · A.F. Porto termina campeonatos ao nível dos seniores, mantendo subidas mas sem descidas
    · Projeto Valer – Valongo a Ler está a dar apoio a partir de casa
    · Covid-19: Centro de Acolhimento Temporário de Valongo está concluído e disponibiliza 361 camas
    · Câmara entrega centenas equipamentos de proteção individual aos bombeiros de Ermesinde e de Valongo e a todos os lares do concelho
    · Município de Valongo promove MANIFESTUM em casa
    · Câmara de Valongo implementa novas medidas para reforçar as respostas aos desafios da pandemia Covid-19
    · Câmara de Valongo cria Banco Municipal de Combate à Desigualdade Digital e apoio ao ensino não presencial
    · Covid-19: Cinco mortes no pólo 1 do lar do Centro Social e Paroquial de Alfena
    · CDI Portugal lança plataforma digital RECODE em português com cursos online de tecnologia gratuitos
    · O impacto da Covid-19 nas empresas do concelho analisado pela Associação Industrial e Empresarial de Valongo
    · Câmara de Valongo vai distribuir por toda a população 100.000 máscaras sociais e reutilizáveis

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].