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    Arquivo: Edição de 30-09-2018

    SECÇÃO: Crónicas


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    PASSEIOS DE BICICLETA À DESCOBERTA DO PORTUGAL REAL…

    Subindo ao ponto mais alto de Portugal

    Sete de agosto de 2018.

    - O que farias que nem em sonhos de jovem julgavas possível? - Tanta coisa! Tinha acabado de ler que, este ano, a Volta a Portugal não passaria pela Torre. Abri o mapa. Sim pode ser, porque não? Amanhã vou até lá!

    Hoje coloquei-a no carro. Vamos lá. Cheguei a Gouveia. Cidade serrana no centro do País, situada na encosta ocidental da Serra da Estrela. Antes de chegar ao seu centro percorri uma avenida com duas faixas de rodagem e com um separador ajardinado. Ladeada com uma área industrial e residencial, entrelaçadas. Como pontos de interesse turístico: a Igreja de S.Pedro do séc. XVIII; a Biblioteca Vergílio Ferreira contendo o espólio do escritor Gouveense. No seu concelho temos a nascente do Rio Mondego. A Casa da Torre, manuelina e propriedade do Marquês de Gouveia (Távora) do séc. XVII.

    Não houve a etapa rainha da Torre por causa do calor, vou eu fazê-la! Dar a volta perfaz 97 km.

    Sorri. Seria capaz? Um pseudociclista amador de fins de semana!? Prendi o pé direito ao pedal. Percorri com o olhar aquela bela montanha. Decidido, imprimi a primeira pedalada e, sorrindo, murmurei -"Aqui vou eu Estrela, trata-me bem".

    Comecei a subir aquela vertente, em tempos visitada pelo fogo. Agora tem palha que reflete a luz que lhe dá a vida como de ouro se tratasse. A cota dos mil metros é ultrapassada e continuo a subir e eis que paro na "Cabeça do Velho". Formação granítica a mil e duzentos metros. Há um pequeno planalto que me descontrai um pouco as pernas. Pinhal queimado não podia deixar de haver. Até aqui.

    A 1460 metros, em Penhas Douradas, tudo muda na outra vertente. Pinhal verdejante. Do suor e pelo vento e sombra, começo a ter frio. Frio que me obriga a vestir o corta-vento. Quem aprovou o corte dos 10 metros do arvoredo junto da estrada? Pataratas, digo eu. A questão fulcral não é essa. Bendito arvoredo. Desço para Manteigas.

    Foto MANUEL FERNANDES
    Foto MANUEL FERNANDES
    Manteigas, nove da manhã. Situada no vale Glaciar da Serra da Estrela onde nasce o rio Zêzere.Vila com indústria artesanal de tecelagem de lã de ovelha, com o tecido de Burel 100% de lã de ovelha e de origem medieval.Tem uma Fonte Termal e um viveiro de trutas e é bastante virada para o turismo. A vila ocupa todo o vale que outrora era terrenos de lavradio. Tomo um café e sigo viagem. Ao percorrer as ruas da vila só leio reclames "Chambres"?! Quartos não existem?

    Sigo pelo vale "Glaciar", sempre com bela paisagem à minha direita. Torno a passar outra vez a cota dos mil metros. A paisagem vai mudando do arvoredo para o granítico e vice-versa. Aos mil e setecentos metros, tudo muda. Vegetação rasteira e o predominante é o granito. Ao longe visualizo a estrada a subir por uma autêntica parede. Serei capaz? Já nem forças tenho para levantar o rabo do selim. Endireitei as costas. É agora. A hora da verdade. Diminuí o ritmo para não abafar. Agora é à força, não vai ser como estes miúdos que me ultrapassaram e me convidaram para ir com eles. Ei-la! A Torre. Mas onde está? Ainda há pouco a vi e ando neste sobe, sobe. Passo por formações graníticas que mais pareciam ser um castelo de uma história encantada. Desvio para a esquerda. Ali está! Ali está a marota.

    Estava no ponto mais alto de Portugal, 1993 metros de altitude.Entro no centro comercial da Torre (surreal pelo nome). Peço uma sande de queijo da serra. Quem ma vendeu mete conversa: - Então veio em excursão? Ai o Magano! Eu de roupa de ciclismo, luvas e com o capacete preso pelo braço. Sorri.- Quase, disse eu. Mas tenho ali fora a companheira que me trouxe. - Com essa idade ainda tem essa genica para vir até cá a cima? - Põe os olhos no homem, Jorge!!- Sabe, é o meu empregado, mas é um molengão.

    A descida. A velocidade cria a adrenalina pura e dura. A vertigem das rampas da descida. A velocidade eleva-se. Cheguei a Sabugueiro, aldeia surgida a partir de aglomerado de cabanas de pastores conhecida desde 1296, por "vila Sabugária", com uma fonte de interesse, denominada "Fonte do Ferreiro", com água fresca no verão e morna no inverno. A estrada voltava a subir. Li num letreiro junto da via "Há Cães" pensei, será caracóis? Mais à frente "Temos Cães" "Pais à Vista". Em canis improvisados lá estavam os cachorrinhos "Serra da Estrela". Também por aqui havia muitos "Chambres". Tinha que subir aos mil e trezentos metros até ao entroncamento da estrada que subi. Lá estava ele. Sabia que eram catorze kms, sempre a descer até Gouveia. A adrenalina voltou. As pernas ficaram com vida própria. Debrucei-me na bicicleta e pensei… Chegarás ao fim?? Claro que chegarei ao fim.

    De uma maneira ou de outra…

    Por: Manuel Fernandes

     

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