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    Arquivo: Edição de 30-09-2018

    SECÇÃO: História


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    MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (1)

    Tradições agrárias

    Muitas eram as actividades, ligadas, directa ou indirectamente, à agricultura que, embora semelhantes ao que se passava em seu redor, se revestiam na nossa terra de alguma particularidade devido, não só a certas designações, às práticas usadas, como até à importância que lhe era atribuída. No entanto, atendendo à vastidão do tema e ao facto não só de já haver muita coisa escrita sobre o assunto, como de a sua prática ser usual nas terras em redor e no próprio país, vamos concentrar-nos mais naquelas que caíram em desuso há muito tempo, ou que pelas suas características merecem ser recordadas. Assim, trataremos da problemática do linho, que aqui teve grande expressão, dos trabalhos ligados aos cereais, nomeadamente ao milho e até da tradicional matança do porco.

    A VINDIMA E O VINHO DOCE

    ADEGA AGRÍCOLA, VENDO-SE EM PRIMEIRO PLANO ALGUNS PIPOS E O LAGAR (Foto Jacinto Soares)
    ADEGA AGRÍCOLA, VENDO-SE EM PRIMEIRO PLANO ALGUNS PIPOS E O LAGAR (Foto Jacinto Soares)
    Começamos esta série de artigos na "Voz de Ermesinde" por uma abordagem rápida sobre alguns trabalhos que, por razões conhecidas, estão em vias de desaparecer por completo. Nestes incluímos, naturalmente, a vindima.

    Ermesinde pela sua natureza geológica não era uma terra de bom vinho, com excepção do que acontecia nas zonas mais altas, de solo xistoso, como o Alto da Costa, ou a Formiga.

    Na parte de terra humosa e húmida, apenas algumas castas se adaptavam como a videira americana, a espadeira (o mesmo que espadal. Estas uvas, como aguentavam muito tempo, sem apodrecer, eram deixadas nas videiras, ou os cachos eram pendurados, em casa, para serem consumidas mais tarde. As pessoas designavam-nas simplesmente por "padeiras"), a pinta, o azal, douradinho, vinhão e certas qualidades de vinho branco. Depois de vindimado, geralmente, ao sábado, procedia-se, nesse dia à noite, à pisa das uvas, convidando-se para o efeito, alguns rapazes novos para se juntarem aos da família, caso os houvesse. Era um trabalho alegre, meticuloso que durava algumas horas, pois os bagos tinham que desaparecer e o cangaço ("cangos" - parte do cacho depois de lhe tirarem os bagos) vir à tona. Com o uso dos raladores (mecanismos, geralmente manuais, onde se esmagavam os cachos, antes de passarem ao lagar), para onde se despejavam as gigas com as uvas, o trabalho desses jovens ficou facilitado pois não era preciso tanto tempo, pois o esmagamento dos cachos estava feito. No final do trabalho, cerca da meia-noite, era servida uma merenda, geralmente composta por presunto, ou salpicão e broa da casa, acompanhada com umas canecas de vinho à mistura.

    A pisa, tanto podia ser numa pia de pedra, ou dorna (recipiente de madeira, de boca larga, feito com aduelas, onde se pisavam as uvas), se a quantidade era pouca e, por isso, uma pessoa era o suficiente para fazer este serviço, como num lagar, uma estrutura em pedra, com maior capacidade. Quanto aos lagares, os de maior dimensão, de forma rectangular, eram constituídos por quatro grandes lajes laterais e um fundo, também com algumas pedras de face lisa.

    O orgulho dos nossos lavradores era, contudo, possuírem um lagar grande feito, de uma pedra só, como acontecia nalgumas casas, na nossa terra.

    Os pisadores quase sempre apareciam no dia seguinte para procederem à prova do vinho doce, alguns nem esperando que ele "fervesse". Uma cesta enterrada, na camada superior do mosto, fazia a vez de coador e, por isso, daí se podia facilmente, encher as canecas.

    (*) Nota da Redação: saúda-se o regresso das colaborações de Jacinto Soares, um profundo conhecedor da história de Ermesinde, autor de duas publicações sobre os costumes e as memórias das gentes que aqui têm vivido nos últimos séculos.

    O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico. Este artigo (texto e foto) baseia-se na sua primeira publicação "Ermesinde: Memórias da Nossa Gente".

    Por: Jacinto Soares

     

     

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