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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-11-2017

    SECÇÃO: História


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    60º ANIVERSÁRIO DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE (34)

    O Centro retira os mendigos do centro de Ermesinde

    Hoje, neste objetivo maior de recordar a importância do Centro de Assistência Social ao longo da sua história, transcrevemos três peças jornalísticas que saíram na edição de agosto de 1961, de "A Voz de Ermesinde". A 1.ª diz respeito à retirada dos pedintes do centro da então vila de Ermesinde, o mesmo é dizer da frente da sua antiga estação ferroviária; a 2.ª refere um caso de um dos protegidos do Centro, que soube mostrar-se grato para quem o ajudou nos seus momentos mais difíceis; e a 3.ª é a carta de alguém, que à semelhança de muitas outras pessoas, mesmo sendo daqui natural, não conhecia a grandeza da obra social desta instituição, tendo-a conhecido por se ligar a alguém que se entregou por inteiro a esta instituição de solidariedade social, também pelo seu jornal que é o título que há mais tempo se publica em Ermesinde.

    Valorização moral

    O LARGO À FRENTE DA ANTIGA ESTAÇÃO DE ERMESINDE ERA FREQUENTADO POR MENDIGOS
    O LARGO À FRENTE DA ANTIGA ESTAÇÃO DE ERMESINDE ERA FREQUENTADO POR MENDIGOS
    "Há uns anos atrás havia quem chamasse ao Largo da Estação, o "Pátio dos Vadios". Tal designação que tinha tanto de depreciativa como de mordaz, apoiava-se contudo numa verdade que constantemente se patenteava ali aos olhos de cada um e que graças à acção meritória e a todos os títulos louvável do Centro de Assistência Social não só foi restituída na medida do possível àquele largo a dignidade e a decência que perdera como para bem dos desgraçados que faziam campo de exibição das suas mazelas físicas e a principal zona de pedincha em toda a freguesia, lhes foi assegurada uma vida tranquila e o pão de cada dia, acabando-se finalmente com o espectáculo deprimente de, cada pessoa desembarcada do comboio ou eléctrico se ver assediada por uma chusma de mendigos, uns aleijados e doentes de facto, mas outros puramente vadios e exploradores.

    Voltou assim ao logradouro e serventia pública um local que, pela sua privilegiada situação há que considerar como a sala de visitas da Vila, durante anos quase que vedado às pessoas de respeito, tais os desmandos e abusos que diariamente eram praticados. Por defeituosa formação moral e evidente mau gosto havia quem se entretivesse a embriagar alguns desses irresponsáveis e infelizes para depois, alvarmente se rir das tropelias e desacatos que consequentemente praticavam.

    Toda a gente de educação fugia de passar no Largo da Estação, assim como, compreensivamente, os mendigos, os vadios, os desocupados, todos enfim que não encontram, ou não querem encontrar em que aplicar produtivamente o tempo vago, se sentiam atraídos passando ali horas, dias, meses, numa ociosidade e bisbilhotice condenável, exibição inferior de miséria física e moral, intrometendo-se com quem passava, devassando a vida de cada um, dando a impressão a quem por eléctrico ou comboio chegava, de uma terra atrasada, preguiçosa e suja, quando afinal, aquilo representava felizmente uma excepção e o verdadeiro contraste do recato e espírito de dignidade da grande massa, da quase totalidade da boa população da Vila de Ermesinde. Sobre o futuro deste recinto há largos projectos e dedicados esforços vêm sendo empregados por quem afincada mas apagadamente procura tornar num próximo futuro o Largo da Estação num amplo e encantador recinto em tudo digno do desenvolvimento e progresso desta terra, e segundo nos consta, não obstante a morosa remoção das dificuldades surgidas, há fundadas esperanças de que essas diligências serão coroadas de êxito permitindo dotar a Vila de Ermesinde de um local por que tanto ansiamos e onde poderemos conviver dignamente num futuro próximo."

    Belo exemplo

    de gratidão

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    "Há factos que merecem citação especial, não pelo seu alto valor ou significado, mas so-mente pelo flagrante contraste que eles nos oferecem.

    Sendo o lema do Centro de Assistência Social socorrer os pobres de Ermesinde, velar por eles, procurando minorar-lhes as dores ou necessidades, nada mais busca que não seja receber a gratidão daqueles a quem beneficia.

    Porém, nem sempre tal acontece, infelizmente.

    Há muitos que nos transes mais aflitivos, nos momentos mais dolorosos ou de maior necessidade recorrem ao Centro e depois de beneficiados por ele, olvidam as ajudas recebidas e nem obrigado dizem aos dedicados dirigentes do Centro Social, que tantas vezes prejudicam a sua vida pessoal e familiar no exemplar cumprimento dos seus deveres, ou seja, na grande tarefa de velar pelos pobres protegidos pelo Centro de Assistência Social de Ermesinde.

    A ingratidão é um dos grandes venenos de que enferma a Humanidade e Ermesinde tem mau grado nosso, muitos ingratos, não só até no que diz respeito aos protegidos pelo Centro...

    Há pessoas que, por ignorância ou má fé, não se limitam a ficarem na indiferença, mas vão mais longe na sua hediondez, pois procuram denegrir e ofuscar a acção do Centro de Assistência Social o que prejudica a sua missão, pois há sempre pessoas fracas que fàcilmente se deixam levar nessa onda de mentiras e malidicência sem procurarem ver a obra realizada.

    Ainda bem que nem sempre isso acontece, pois a confirmar as nossas palavras temos um belo exemplo de gratidão dado pelo sr. Manuel Gonçalves, residente no lugar da Bela, que depois de ter sido internado pelo Centro num hospital do Porto, onde foi operado, e pelo mesmo Centro socorrido durante a sua convalescença, depois de restabelecido totalmente, veio agradecer muito comovido à sua direcção, pedindo que a mesma o inscrevesse como sócio, pois não podia agradecer de melhor modo as gentilezas e atenções de que se viu rodeado, dizendo-se eternamente grato a tão grande e filantrópica Instituição de Caridade."

    Uma Carta

    "Há já bastantes anos, tinha deixado há pouco tempo ainda os livros escolares e decorria então, na mais doce tranquilidade, o minha cândida infância, cheia de eflúvios, de ternuras, de brandas quietudes próprias da minha tenra idade, quando são ignorados ainda os problemas de ordem sentimental, foi então que comecei a ouvir falar da Sopa dos Pobres e mais tarde do Centro de Assistência Social de Ermesinde.

    Ouvia falar dessas instituições de caridade mas, confesso sinceramente, para mim que vivia afastada da sua orgânica, alheia à sua vida real, desconhecendo os grandes e excelsos benefícios que as mesmas espalhavam à sua volta, tinha esses organismos como uma coisa sem valor, falhos da objectividade ou valia.

    O meu obscurantismo era filho do desconhecimento e se não fora mais tarde ligar a minha existência a pessoa que se devotou a viver a vida dos pobrezinhos, colaborando nessas obras que lhe roubam tanto tempo à vida do lar e ao convívio dos seus familiares, certamente ainda hoje não dava o verdadeiro, o alto apreço a esse incomparável organismo que é o Centro de Assistência, e que, em tão abençoada hora, veio tirar das nossas portas os pobrezinhos, poupando-os assim à incerteza do dia de amanhã, ao mesmo tempo que nos era dado deixar de assistir a esse sempre deplorável e triste espectáculo da mendicidade da rua.

    Eu, como dona de casa, como filha de Ermesinde, não posso deixar de, publicamente, manifestar a minha gratidão e estima por essa sublime instituição de caridade que é o Centro de Assistência, bem como felicitar os seus dirigentes e colaboradores, dando-lhes palavras de incitamento para que eles possam fazer ainda mais e melhor pelos pobres desta laboriosa vila de Ermesinde.

    Não posso deixar também de endereçar os meus parabéns ao director do Jornal a "Voz de Ermesinde", bem como aos seus mais directos colaboradores, pela coerência, zelo e competência como têm sabido manter e fazer prosperar o órgão oficial do Centro, pois ele muito tem contribuído para que a acção do Centro seja divulgada, conhecida através de muitas terras distantes.

    É sobejamente notada a sua grande utilidade, não somente pela propaganda da obra que representa, mas, também, pela valorização que dá à nossa terra, pois quase quatro anos de luta e tenacidade, de trabalho e persistência, representam muito na vida de qualquer jornal - mas de modo especial para "A Voz de Ermesinde" - pois haviam alguns cépticos para quem estava condenado ao malogro, à derrota e à morte a vida do mesmo, logo após a publicação do primeiro número.

    Mais uma vez aos dirigentes de tão altruísta obra bem como ao ilustre director de "A Voz de Ermesinde" e seus colaboradores, apresenta sinceras felicitações e os seus mais respeitosos cumprimentos. / Maria Amélia Pereira."

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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