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    Arquivo: Edição de 14-10-2013

    SECÇÃO: Destaque


    ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2013

    Vinte anos depois Partido Socialista volta a mandar na Câmara de Valongo

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    Após um longo interregno de vinte anos, o Partido Socialista volta a governar a Câmara de Municipal Valongo, na segunda tentativa de José Manuel Ribeiro, após 12 anos de ter defrontado Fernando Melo, e então perdido, num período em que o domínio laranja parecia ser de pedra e cal.

    Será porventura mesmo devido a tanta pedra e cal, arrastando a Câmara em despesas incomportáveis, degradando o estado das finanças do município e obrigando à contração de um empréstimo, que o PSD perde estas eleições?

    Essa é uma leitura possível. A outra, e porventura a mais capaz ainda de explicar os resultados de 2013 radica mais na política levada a cabo pelo Governo central do PSD, impondo uma pesada canga de austeridade aos portugueses, sentida sobretudo pelos que menos têm.

    Mas os resultados concelhios são também muito distintos entre si, para a Câmara, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia.

    Como é impossível ou pouco adequada uma comparação com o ano de 2009 (por causa da candidatura independente da Coragem de Mudar), atentemos nos resultados de 2005. Então a nível nacional, na votação para as Câmaras, o PS tinha obtido 35,84 % dos votos expressos, contra 39,84 % do PSD. No concelho de Valongo, a votação tinha sido de 40,63 % do PS contra 44,18 % do PSD, enquanto na Assembleia Municipal o PS tinha ganho, com 40,53 % contra 39,89 %, sempre dos votos expressos.

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    A candidata a presidente da Câmara, pelo PS, foi então Maria José Azevedo. O que indicia esta disparidade? Provavelmente mais do que um apoio declarado ao PSD, alguma desconfiança perante a cabeça de lista feminina do PS e alguma popularidade de Fernando Melo, e não tanto uma votação pessoal e positiva no cabeça de lista à Assembleia Municipal, Casimiro de Sousa, relativamente desconhecido do eleitorado.

    Ora em 2013 aos 36,72 % do PS (contra 31,36 % do PSD) a nível nacional, constata-se uma votação percentual de 38,87% para a Câmara (contra 36,74 % do PSD) e uma votação de 38,97%, enquanto para a Assembleia Municipal, contra 32,11 % do PSD.

    Isto é, os resultados socialistas continuam a ser melhores no concelho que no país, e continuam a ser melhores na Assembleia Municipal do que para a Câmara Municipal.

    Mas também desta vez não pode inferir-se da votação que Abílio Vilas Boas, enquanto cabeça de lista do PS para a Assembleia Municipal, fosse melhor candidato do que José Manuel Ribeiro, enquanto cabeça de lista do PS para a Câmara, pela mesmíssima razão, de ser, também pela sua inexperiência política, bastante desconhecido para o eleitorado aqui marcar uma diferença.

    E isso é tanto mais visível se repararmos na diferença dos votos no PSD para a Câmara e Assembleia (36,74 % para a Câmara, contra 32,11 % para a Assembleia). Também aqui não será tanto o demérito de Daniel Felgueiras o responsável pela diferença, mas antes algum mérito de João Paulo Baltazar, que se aguenta relativamente bem numa conjuntura altamente desfavorável.

    É ainda de notar a razoável percentagem de votos que transitam do voto da CDU para a Assembleia Municipal para o voto no PS para a Câmara (entre um e outro órgão a CDU perde 1,81 % de votos.

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    Como se isto não bastasse, idêntico fenómeno ocorre para a votação no Bloco de Esquerda, que entre um e outro órgão perde 1,23% de votos. Mesmo esta combinação de resultados não fazem disparar o voto para o PS na Câmara.

    Impõe-se assim a José Manuel Ribeiro, que este saiba ler os resultados da sua eleição com o que poderia designar-se de alguma humildade democrática, a qual é evidentemente reforçada pelo facto de, mesmo na ocorrência de tal montante de voto útil, a CDU ter eleito um vereador, opondo uma composição camarária de 4-4-1, um resultado que os comunistas já não alcançavam há mais de uma dezena de anos.

    E esta constatação só pode reforçar-se se atentarmos nos resultados das freguesias. Descontando o caso à parte de Alfena, em que há muito eleitorado socialista para a Câmara Municipal e Assembleia Municipal que votou nos Unidos para a Assembleia de Freguesia, e sendo certo que em Ermesinde, o voto no PS para Câmara Municipal foi superior ao da Assembleia Municipal e este ao da Assembleia de Freguesia, os votos socialistas para os órgãos concelhios ficaram muito aquém dos votos no PS para as Assembleias de Freguesia de Valongo e Campo/Sobrado, votos estes que, além do mais, tiveram que defrontar as candidaturas independentes que surgiram, em dissidência, do seu próprio meio.

    Esta apreciação será, todavia, muito injusta, se não se creditar a José Manuel Ribeiro – para além, evidentemente, da crítica à política de austeridade de Passos Coelho e da crítica à política de reorganização administrativa das freguesias, evidentemente mais determinada que a oposição camarária –, a confiança inabalável com que enfrentou a eleição («eu sou o próximo presidente da Câmara Municipal de Valongo!», tinha afirmado – recorde-se, em entrevista ao jornal “A Voz de Ermesinde”).

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    Esta confiança manteve--se mesmo na reta final da campanha, quando a onda laranja pareceu agigantar-se e ameaçar derrotá-lo, com a realização da Expoval, estrategicamente favorável a João Paulo Baltazar, e o aparecimento de algumas sondagens a indiciar alguma vantagem para o sucessor provisório de Fernando Melo na Câmara – a própria sondagem encomendada pelo PS à DOMP a não dar a José Manuel Ribeiro senão 0,8 % de vantagem, e a da G.Triplo a dar quase 5 % de vantagem a João Paulo Baltazar, inclusive com uma tendência de crescimento.

    É certo que uma e outra destas sondagens apontavam ainda para cerca de 25% de indecisos, e foi aqui precisamente que a vitória final do PS tomou corpo, no país e no concelho, quando ficou mais claro que a austeridade seria para continuar.

    Ainda assim não deixa de estranhar-se o rigor de sondagens que estiveram muito muito longe de acertar os resultados finais.

    A da DOMP, por exemplo, dava o BE à frente da CDU, quando aquela força política acabaria por ficar com quase metade dos votos desta (8,32% contra 4,36%), ao passo que a sondagem da G. Triplo, também por exemplo, apontava cerca de 7 % para o CDS, quando este partido se ficou apenas pelos 2,56%. E não queremos sequer imaginar que tais sondagens pudessem ser usadas com fins instrumentais.

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    Dizemos apenas que com os resultados a cair fora da margem de erro apontada na própria ficha técnica, ficam dúvidas sobre a correção dos processos.

    Mas voltando aos resultados no concelho, sublinhem-se a vitória de Luís Ramalho em Ermesinde, resistindo à vaga cor de rosa que atravessou o país e o concelho, os excelentes resultados da CDU, com a eleição de Adriano Ribeiro para a Câmara, os bons e inesperados resultados do BE, ao arrepio dos resultados no país, elegendo Nuno Monteiro para a Assembleia Municipal e Carla Celeste Sousa para a Junta de Freguesia de Ermesinde, a perda de influência do CDS na Assembleia Municipal de Valongo, onde perde um mandato ao concorrer sozinho (tinha 2 na coligação anterior com o PSD). Curiosidade também para se ver se o PSD faz jus à coligação com o PPM, colocando Paulo Basto na Assembleia Municipal, ou se a coligação se revela como um mero pró-forma para que o PSD não concorresse sozinho.

    Finalmente fica um sentido claro da desconfiança crescente do eleitorado na política partidária quando esta põe o interesse do partido à frente de tudo. Juntos, a abstenção, o voto branco e o voto nulo representaram nestas autárquicas mais de 50 % da escolha dos inscritos, quando estas eleições são reconhecidas como aquelas em que o poder político está mais próximo e o eleitorado mais nelas se reconhece. Mas aqui é que bate o ponto, querer que as as pessoas sejam, ou não, mais do que eleitorado.

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    Por: LC

     

     

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