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    Arquivo: Edição de 12-07-2013

    SECÇÃO: Destaque


    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER

    José Manuel Ribeiro: a nossa estratégia é mudar a imagem que todos os que estão de fora têm do concelho

    Licenciado em Relações Internacionais, aderiu à JS em 1993 e ao Partido Socialista em 1995.

    Com 29 anos foi, pela primeira vez, candidato a presidente da Câmara de Valongo, sendo então derrotado por Fernando Melo. É presidente da Concelhia do PS, deputado na Assembleia Municipal de Valongo e na Assembleia Metropolitana do Porto, desempenhando funções de porta-voz nas duas bancadas.

    “A Voz de Ermesinde” (AVE) – É muito jovem que adere ao PS. O que é que o interessou nas propostas socialistas? E como chegou tão rapidamente a candidato socialista à presidência da Câmara de Valongo?

    José Manuel Ribeiro (JMR) – Bom... tão rapidamente não!

    AVE – Tendo em conta, a sua idade, era ainda muito jovem...

    JMR – Sim, eu tenho 41 e aderi à Juventude Socialista em 1993 e ao PS em 95.

    O meu interesse pelas atividades cívico-políticas nasce muito na ligação que tive ao movimento associativo. Onde despertou o meu interesse foi na escola, com a ligação que tive às associações de estudantes e depois a muitas associações criadas na cidade de Valongo, onde eu cresci.

    Eu sempre tive um grande fascínio pela personalidade do Dr. Mário Soares, sobretudo a sua coragem de lutar por aquilo em que acreditava.

    AVE – Fascínio que ainda mantém, nos dias de hoje...?

    JMR – Continuo a ter... gosto imenso da sua personalidade, é uma pessoa com muita coragem e os tempos que atravessamos exigem muita coragem política. Ele teve coragem para defender ideias e projetos e preocupou-se sempre com Portugal. Hoje, à distância percebe-se isso. Foi uma das pessoas que mais lutou para que estivéssemos hoje na União Europeia. E eu, que tinha esse fascínio, aderi ao Partido Socialista por motivos claramente ideológicos. Eu sou progressista e acredito que não devemos estar presos à condição de nascimento – aquela ideia de que filho de pobre não deve ser pobre, eu acho que todos devemos ter oportunidade de prosseguir os nossos sonhos. Essa é uma ideia progressista muito forte. É talvez uma das ideias mais fortes no movimento progressista, que é, no fundo, a possibilidade do homem vencer a condição de partida. Sou uma pessoa sensível às injustiças, sempre fui, acredito na escola, que é uma ferramenta importantíssima para a chamada mobilidade social. Se não fosse a escola eu nunca teria feito o percurso que fiz, porque eu sou filho de gente muito humilde, e foi claramente o ter investido na minha formação que me permitiu fazer um caminho. Eu aderi à JS, fui desde cedo dirigente quer da JS quer do PS, e fiz, de facto um percurso – como conhecerá do meu currículo pessoal, profissional, político – em que já fiz muita coisa, já desempenhei cargos de elevada responsabilidade (fui presidente de um instituto público, fui diretor geral, fui deputado duas vezes, integrei vários conselhos consultivos de entidades reguladoras, aqui em Valongo fui muito cedo vereador na oposição, durante oito anos, fui candidato à presidência da Câmara de Valongo com 29 anos, a primeira vez, já estou na Assembleia Municipal há oito anos, estou na Assembleia Metropolitana – onde sou porta-voz numa e noutra). Penso que isso se deve também ao facto das pessoas confiarem em mim. O meu percurso é também o reflexo de um conjunto de pessoas vasto de pessoas na minha organização verem em mim uma pessoa com a capacidade de desempenhar essas funções, porque doutra formas tal não teria sido possível.

    AVE – São muito diferentes, hoje, as condições da sua candidatura, daquelas que motivaram a candidatura à Câmara da primeira vez?

    JMR – São obviamente diferentes. A primeira candidatura, em 2001, é bom recordar!, foi uma candidatura que eu fiz com gosto, mas em que ninguém queria ser candidato, e eu aceitei o desafio, no momento mais alto da governação do Dr. Fernando Melo. Este momento é muito diferente! Há uma motivação que é comum, continuo a gostar muito da terra onde cresci, continuo a achar que tenho ideias e uma visão muito diferente para o concelho de Valongo, e acho que o tempo me tem dado razão. Já o dizia em 2001 – e aliás disse-lho a si, quando nessa altura fui entrevistado. O nosso concelho caminhava rapidamente para se tornar um mero dormitório da Área Metropolitana do Porto. E foi o que veio a acontecer, infelizmente, nunca houve aqui uma estratégia no sentido de evitar que o concelho fosse visto como um dormitório. Temos que atalhar caminho, encontrar alguns investimentos importantes e prioritários, para além do que são as necessidades imediatas, que nos tirem deste caminho. É óbvio que são condições diferentes. Eu vou ganhar as eleições em 29 de setembro! Eu vou ser o próximo presidente da Câmara, portanto só isso torna esse processo muito muito diferente.

    AVE – Falou-me aí em investimentos prioritários. Que tipo de investimentos é que são prioritários para definir uma nova estratégia para o concelho, encarrilando-o num sentido diferente?

    JMR – Numa Câmara que tem muito pouco dinheiro – como sabe a Câmara de Valongo é intervencionada pelo PAEL. Mas há quase 200 câmaras em 308 que não tiveram que recorrer ao PAEL e portanto esses gestores autárquicos é que são heróis, porque não tiveram necessidade de contrair um empréstimo – como o PAEL – para pagar as dívidas. Numa Câmara com poucos recursos financeiros, como eu dizia, temos que ter muito rigor e fazer uma análise muito inteligente do que é prioritário. É evidente que há aqui uma área fundamental – a área social, o concelho de Valongo, também fruto do desenvolvimento que teve, tem problemas sociais muito graves, alguns mais visíveis e outros menos.

    Em cidades como Ermesinde e Valongo existem hoje fenómenos muito preocupantes de solidão, e que são, no fundo, fenómenos com ligação profunda a dinâmicas de exclusão social, e isso é um problema grave. Nós vamos reduzir em 50% o número de chefias da Câmara Municipal, que tem uma estrutura desenhada para manter no poder um conjunto de familiares e amigos e pessoas que estão à frente de cargos partidários. Não vamos despedir, obviamente, mas 50% dessas pessoas vão deixar de ser chefes, e isso vai permitir ganhos de muito dinheiro, que vai ser canalizado para reforçar o fundo municipal de emergência social nas áreas do risco alimentar das crianças, que afeta o desempenho educativo nas escolas, quer ao nível das carências nas famílias, para as quais queremos canalizar esse reforço de verba para esta rede de luta contra a solidão. Para além deste investimento, que é claramente o primeiro investimento, estamos muito interessados em, com muito pouco dinheiro, conseguir criar espaços que aumentem a qualidade de vida dos cidadãos, por intervencionando áreas que são da Câmara. Por exemplo em Ermesinde, nós achamos que não é aceitável a Câmara gastar dezenas de milhares de euros num concurso público para requalificar a zona do atual mercado... e nada ter acontecido. A Câmara tem lá terrenos que são públicos e, por isso nós vamos requalificar a parte pública numa primeira fase, no sentido de transformar aquele espaço num espaço de convívio. É mais um espaço verde que vamos dar à população da Gandra. Aqui, neste sítio, no largo da antiga feira, que é outro espaço público, bastará uma intervenção simples e pouco dispendiosa, para remover obstáculos e devolver o espaço às pessoas. Porque estes espaços não foram intervencionados nesse sentido.

    Depois há outra área que é muito importante, nós entendemos como prioritários alguns investimentos que possam exatamente contribuir para mudar a imagem que temos do concelho. Ainda na semana passada fui convidado para a apresentação de um projeto da comunidade de Alfena que é o museu do brinquedo tradicional. Essa é uma área de apoio prioritário. A Câmara tem que encontrar recursos internamente – não será no primeiro ou no segundo ano – mas será no período dos quatro anos – para investir, com a ajuda de fundos comunitários, que apoiam este tipo de projetos, na área do imaterial –, que criem aqui ícones no concelho, motivos para que as pessoas venham ao concelho. Fizemos o mesmo a semana passada, lançando a ideia de criar, num curto espaço de tempo, no antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Valongo – que é um edifício centenário, onde funcionou o primeiro cine-teatro da cidade de Valongo – um museu-oficina das tradições e memória da regueifa, do pão e do biscoito, aliás à imagem do que é hoje feito em Seia. O Museu de Seia, em 10 anos, recebeu um milhão de visitantes! E é um pequeno museu do pão. Aqui está um exemplo de um investimento que pode fazer muito pela mudança de paradigma.

    AVE – Considera positivo o que a Câmara tem feito ultimamente quanto às Bugiadas?

    JMR – Com certeza! Essa matéria, aliás, tem merecido o apoio de todas as forças político-partidárias. E é bom que se recorde que a candidatura do Partido Socialista nas últimas Autárquicas foi quem lançou a primeira vez a candidatura das Bugiadas e Mouriscadas a Património Imaterial da Humanidade. Essa é uma matéria de consenso político.

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    E vamos mais longe, nós gostaríamos que num daqueles espaços que já lá existem, na vila de Sobrado, adaptá-lo e fazer desse espaço um museu vivo das Bugiadas e Mouriscadas, aliás como fazem os caretos, que têm um espaço desse género. Aliás, qual é o ratio destas propostas? As Bugiadas são uma manifestação cultural, religiosa, que é muito forte, muito forte mesmo e que no dia da festa atrai à vila de Sobrado dezenas de milhares de pessoas, mas essa força esgota-se nesse dia. Se formos hoje ao aeroporto do Porto e chegar uma delegação de turistas, do Japão, da Alemanha ou doutro país qualquer e encontrar o filme que lá está sobre as Bugiadas e quiser ir visitar Sobrado e conhecer aquela tradição não encontra lá nada. Tem que esperar um ano. Ora isto é um filão que deve ser utilizado, separando bem o que é a festa, do que pode ser um museu com estas características. E não será caro fazer uma intervenção destas.

    Lançamos esta semana 12 compromissos da Câmara por cada freguesia, porque há muito pouco diálogo entre a Câmara e as Juntas de Freguesia, no caso de Sobrado até é um pouco estranho porque a Câmara e a Junta de Freguesia local têm a mesma cor política. E é curioso, há um projeto candidatado ao PRODER que vai implicar uma despesa de cerca de 200 mil euros para converter a antiga Casa do Povo numa Casa das Artes, que na prática é um Centro Cultural. Isto é, a vila de Sobrado, que tem um Centro Cultural muito pouco utilizado, quase fechado, vai ter um segundo centro cultural! Nos tempos que correm não podemos aceitar esta forma de gastar dinheiro, tendo em conta que o dinheiro é muito escasso. E esse dinheiro, se calhar, era suficiente para adaptar uma das estruturas, e fazer nela exatamente um museu vivo, um museu-oficina dessa natureza. Era um dinheiro mais do que suficiente. Ele existe, está é a ser mal alocado.

    AVE – Que trabalho se exige ao presidente da Câmara e à sua equipa no sentido de ultrapassar a imagem cinzenta que hoje ainda cobre o concelho?

    JMR – Essa imagem tem muito a ver com a forma como o concelho é governado. Há falta de vida cívico-política. Falta de informação. É preciso exigir que a informação seja tornada pública. É inaceitável que a Câmara sonegue até ao dia da Assembleia uma longa lista de 11 mil faturas por pagar.

    E ainda recentemente, na criação da nova imagem gráfica da Câmara, assistimos à repetição do erro – uma imagem criada dentro de um gabinete, em que ninguém é envolvido, nem há qualquer concurso de ideias, quando na mesma semana a Escola Secundária de Valongo lança um concurso público de ideias para criar uma imagem gráfica da escola. O erro é grave, tanto mais que a imagem criada e assumida pelo presidente da Câmara é voltada para quem cá vive, um erro de quem não sabe minimamente o que é a criação de uma identidade corporativa, a imagem de um município deve servir fundamentalmente para os públicos que estão fora.

    AVE – Necessariamente vai retomar esse dossier...?

    JMR – Obviamente! Porque a imagem de um município deve servir para atrair pessoas ao município, uma imagem que reforce aquilo em que somos fortes. Nós somos basicamente uma terra de sensações, de tradições. Repare: somos muito fortes na área do brinquedo, efetivamente e historicamente somos, está comprovado. Alfena e Ermesinde têm uma ligação histórica ao brinquedo. Temos uma tradição muito forte ligada à ardósia, temos uma tradição fortíssima ligada à máscara através das Bugiadas e Mouriscadas, temos uma tradição muito forte ligada ao pão (à regueifa, ao biscoito), tudo isto é um património muito ligado à área sensorial. E depois temos uma vantagem, temos tudo para dar certo. Do ponto de vista metropolitano nós temos uma localização ótima. O próprio PROT, o Plano Regional de Ordenamento do Território Norte diz que o concelho de Valongo é o que tem melhor localização estratégica na Área Metropolitana do Porto – estamos na encruzilhada entre o norte e o sul, o litoral e o interior, os hoje um conjunto de vias rodoviárias que nos atravessam e também a ferrovia, que fazem que seja muito fácil chegar ao concelho. Temos quase cem mil habitantes, uma percentagem elevadíssima de jovens, três cidades, e uma delas que é um gigante adormecido – Ermesinde.

    AVE – Revê-se na ideia gizada na proposta de revisão do PDM, considerando para o concelho de Valongo sobretudo uma grande vocação para a instalação de plataformas logísticas?

    JMR – Valongo pode aproveitar a sua localização estratégica para atrair esse tipo de investimentos. Aliás eu estou expectante, e se não se confirmar será uma estratégia para o concelho, se depois de tanto debate político, depois de tantos pedidos de esclarecimento, de uma ida a Lisboa de todos os partidos, não conseguirmos atrair para Valongo a plataforma logística da Jerónimo Martins. Seria criminoso, num concelho que tem quase dez mil desempregados! Porque era um investimento que representava cerca de 45 a 50 milhões de euros e que iria criar – isso foi-nos dito pela administração da Jerónimo Martins – 600 a 700 postos de trabalho, destes 300 e muitos líquidos.

    Não atrair este equipamento para Valongo é um erro, porque é um equipamento capaz de gerar em muito pouco tempo muitos postos de trabalho. Ainda por cima, e segundo informação da própria Câmara, e também da Jerónimo Martins, um dos novos investimentos que pretendiam fazer aqui era exatamente uma fábrica de pão. De pão e não só, para todas as lojas da Jerónimo Martins. A Jerónimo Martins é um grupo credível, portanto não compreendemos o que se está a acontecer. Já passaram quase dois anos e sobre isto, zero! E portanto será um desastre, quer revela bem a incapacidade da Câmara Municipal de Valongo nessa área. Aliás, nas últimas eleições, em 2009, o PSD propunha a dinamização, a criação de investimento que atraísse empresas à Zona Industrial de Campo. Nada aconteceu. Agora há uma empresa que está 500 metros ao lado que vai mudar-se para Campo. Vai aparecer como um grande investimento!

    Foi prometido há bem pouco tempo atrair aqui para o Edifício Faria Sampaio – eu sou o autor da designação Faria Sampaio, como sabe, foi proposta minha quando era vereador –, e fiquei muito contente com este anúncio, que só espero passe do anúncio. Estamos expectantes de que este anúncio se venha a concretizar. Embora dias antes o presidente da Câmara andasse em negociações para lá instalar outras entidades. Porque não sei se sabe, o edifício grande, o bloco 2 do Edifício Faria Sampaio, está por construir, está incompleto, sabe disso?

    AVE – Sim, o miolo...

    JMR – O miolo. Está por fora aparentemente construído, mas não. Implica ali fazer alguma intervenção. Mas tudo bem. Nós dissemo-lo na Câmara, através dos nossos representantes, somos favoráveis, naturalmente, e esse aliás foi o timbre de todas as intervenções. Que se venha a concretizar e não seja mais uma promessa, porque estamos a dois meses das eleições...

    AVE – Apesar de já não se verificarem movimentos autonomistas, o que é facto é que o concelho tem tido sempre duas entidades bem separadas, Ermesinde e Alfena – antigas terras da Maia –, e as zonas de Aguiar de Sousa, e nunca houve aqui um encontro destas realidades bem distintas. Do ponto de vista sócio-cultural, tem alguma ideia quanto a isto para o concelho, ou pensa que é uma coisa em que não se pode nem se deve mexer?

    JMR – A sua pergunta, que encerra um bom conhecimento do território, é também uma crítica àquilo que tem sido feito nos últimos 20 anos. Há muita gente em Ermesinde que desconhece ou conhece muito mal a realidade do outro lado do concelho, assim como há muita gente do outro lado da serra que desconhece a realidade de Alfena e Ermesinde. Porque nunca houve a preocupação de investir nesse conhecimento. Penso que é até um problema de comunicação.

    O nosso enfoque prioritário, do ponto de vista estratégico, é acabar com esta imagem de dormitório, e esse é um bom mote, envolver todo o concelho nesse objetivo. Porque aqui em Ermesinde, Alfena, Valongo, Campo e Sobrado, se todos conhecerem bem o território, as suas tradições e conseguirmos criar estes ícones para que quem está fora venha ao concelho, pode criar-se essa identidade coletiva.

    Na Área Metropolitana do Porto, do 1º Ciclo ao 12º Ano existem 250 mil alunos, que têm todos os anos de fazer visitas pedagógicas. E se alargarmos isto à zona Norte, estamos a falar de mais de 300 mil, quase 400 mil alunos. Só a cidade do Porto, o ano passado, teve um milhão de hóspedes. E o aeroporto do Porto já consegue ultrapassar os seis milhões de passageiros. E nós só temos – isto é uma guerra entre os territórios à volta do Porto – que competir para atrair turistas aqui. Quer os que vêm de fora, quer os que vivem na Área Metropolitana, que são mais de dois milhões de pessoas. E, se alargarmos, de Aveiro até Braga, são mais de três milhões. E se colocarmos a Região Norte em conjunto com a Galiza são mais de seis milhões. Há aqui mercado...

    Nesta semana, eu pus cá fora um conjunto de doze compromissos freguesia a freguesia. Vamos reduzir o IMI. Há dez anos que defendo a redução do IMI. E se o PSD ou a Câmara vierem dizer que isto é demagogia, eu respondo que demagogia é a do PSD, porque não podem andar a dizer à terça, quarta e sexta que têm as contas em dia, e depois, à quinta, sábado e domingo, que já não podem mexer no IMI. Em função do estado financeiro real da Câmara, vamos mexer no IMI, é um compromisso!

    O que temos é que apostar em ideias que nos mobilizem, a 10 anos, a 12 anos, porque senão não conseguimos mudar o paradigma, porque o concelho, hoje, tem pouca visibilidade e peso político próximo do zero!

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    A forma como o concelho foi tratado na agregação dos centros de saúde é bem um paradigma e o próprio PSD local reconhece que não foi tido nem achado.

    Algum dia isso aconteceria comigo? Acredite que não aconteceria, primeiro porque antes estaríamos atentos e preocupados em saber tudo o que se passa, e depois não iríamos aceitar de forma tão pacífica aquilo que foi feito aqui.

    AVE – Agora é possível voltar atrás? Aqui e também na administração territorial?

    JMR – Claro. Isso é um primeiro objetivo que temos para Campo e Sobrado. Aliás o candidato à Junta já o assumiu publicamente e eu também o assumo. O secretário-geral do Partido Socialista já deu abertura para isso, bem recentemente no Congresso do Partido Socialista, com uma mudança do Parlamento português. E tem de haver uma mudança.

    AVE – Tal como em relação às questões de género há uma obrigação de paridade, a lista do PS para Campo/Sobrado respeita alguma paridade local?

    JMR – A lista e os candidatos PS de Sobrado e Campo afirmam um compromisso, relativamente a essa nova união, que não foi desejada, mas imposta pelo PSD e CDS/PP. Esta fusão foi um resultado que se insere no desastre da pseudo-reforma Miguel Relvas, bem chumbada recentemente na questão do diploma das entidades supra-municipais – um chumbo por unanimidade de todos os juízes do Tribunal Constitucional – e aquele era o principal pilar da reforma, a atribuição de competências e poderes não eleitos. O nosso primeiro compromisso é este: reverter o processo e voltarmos a ter Campo freguesia e Sobrado freguesia, e neste processo eleitoral, porque temos que ir a votos, vamos ter uma paridade: o mesmo número de cidadãos de Sobrado e de Campo. Isto é bem revelador da forma séria como estamos neste processo.

    AVE – Íamos pegar então num conjunto de duas ou três questões essenciais que entenda definirem no fundamental a sua candidatura e as propostas do PS. Na área social...?

    JMR – Vamos apresentar um conjunto de propostas na área social, prioritária como é óbvio, e um dos nossos primeiros combate é o do combate à solidão, criando uma Rede de Luta contra a Solidão e Exclusão Social e de Apoio a Idosos, em todas as freguesias.

    Outra é a ideia de que já falámos atrás, de reduzir em 50% as chefias da Câmara, para reforçar o Fundo Municipal de Emergência Social, no apoio às famílias carenciadas e crianças em risco alimentar.

    Já agora, quanto às cantinas sociais e fornecimento de refeições às escolas, que nos parecem ideias interessantes, vamos avaliar, juntamente com as IPSSs, porque como sabe nem todas as IPSSs aceitaram esse desafio. Porque ao contrário do que é dito pela Câmara, o desafio financeiro também é para as IPSSs, porque se não tiverem dinheiro não podem aceitar essa responsabilidade, porque os pagamentos não são automáticos.

    AVE – Na área educativa...?

    JMR – Na área educativa queremos ser um parceiro muito mais ativo das direções dos agrupamentos escolares e achamos que uma forma da Câmara poder ajudar os agrupamentos, que estão hoje tutelados pelo Ministério da Educação é a autarquia assumir a manutenção dos equipamentos educativos, porque a Câmara tem capacidade de o fazer, tem é de ter vontade. Seria uma grande ajuda às direções dos agrupamentos escolares, que devem estar sobretudo concentradas em assegurar o sucesso educativo. A Câmara não tem vocação para gerir escolas. A gestão deve ser dos agrupamentos, mas a Câmara tem meios e recursos humanos para fazer essa manutenção, até porque já o faz no 1º Ciclo. Estabelecer-se-á essa ajuda através de protocolos, e esta será a melhor maneira de ajudar as crianças e os pais das crianças. E isto não interfere em nada com o fornecimento de refeições, isso é outra matéria.

    É nossa obrigação hoje defendermos a escola, que é um investimento prioritário. Não entendemos porque é que isto nunca foi feito. A nossa Câmara teve um investimento nas escolas do 1º Ciclo, mas relativamente aos 18 milhões de euros que gastaram, tiveram muito pouca eficiência nas candidaturas a fundos comunitários, isso nem é público. E isto explica muitas das dívidas que a Câmara contraiu nos últimos anos.

    Quando olhamos para as câmaras da Maia, Gondomar, Paredes e outras câmaras vizinhas, vemos que elas fizeram na mesma um investimento financeiro, construíram escolas, mas mantêm as atividades extra-escolares (AECs), mantêm as Estruturas Comuns de Avaliação (CAFs) , mantêm um conjunto de apoios de que aqui a Câmara de Valongo desistiu, porque nunca deu importância à Educação.

    Sabia que, durante anos, a Câmara de Valongo nem sequer uma chefe de Divisão tinha na área da Educação? Estava previsto mas não havia. Tem agora uma chefe de Divisão que é a antiga responsável do Gabinete do Empresário, que poucos resultados teve... ou nenhuns.

    AVE – Na área cultural...?

    JMR – Quanto à área cultural a nossa estratégia é mudar a imagem que todos os que estão de fora têm do concelho. Temos de ser vistos como uma terra de tradições e sensações e isto está muito ligado à questão cultural. Aqui o veículo cultural é o grande dinamizador da criação de riqueza. Iremos apoiar o Museu do Brinquedo, um projeto da comunidade alfenense. Atenção!, disseram-me os responsáveis pelo projeto que têm neste momento já peças que poderão ultrapassar as seis dezenas de milhar! Um espólio riquíssimo e nas três vertentes – em chapa, em madeira e em plástico.

    O museu-oficina do pão e do biscoito, o museu vivo das artes. Em Sobrado era possível criar-se um museu para formar artesãos. Por exemplo, se se quiser uma miniatura de um bugio em pano, não há. Sabe que há imensas famílias que decoram as casas com máscaras?

    Estamos a passar uma crise, por isso temos que investir prioritariamente na área social, temos que apoiar a escola, mas não podemos deixar de sonhar com investimentos que criem riqueza, porque se só estamos a tratar daquilo que são os problemas no imediato... não vamos longe.

    O teatro foi uma aposta bem sucedida do Dr. Fernando Melo e da ex-vereadora Eduarda Ferreira, do Partido Comunista (e também do antigo presidente João Moreira Dias), e é nossa obrigação continuar a apoiar o teatro.

    AVE – Reconhece alguma diferença de João Paulo Baltazar relativamente a Fernando Melo?

    JMR – Nenhuma! A Câmara Municipal de Valongo, neste momento, funciona em serviços mínimos, é bom que se diga isto aos cidadãos. O meu adversário está a fazer uma operação de cosmética – não trouxe nada de novo, na substância, relativamente ao antecessor –, é exatamente igual. Esta Câmara é basicamente a manutenção de pequenos poderes e vícios instalados e todo este processo não passa de cosmética, basta ver a estrutura de comando. Algum dia eu terei alguém da minha família dentro da Câmara? Nunca! E muito menos em cargos de chefia, e isto tem que ser dito, porque explica a promiscuidade que existe na Câmara. Tudo isso tem que acabar. Muitas chefias só se explicam pela necessidade de manter em cargos remunerados a algumas pessoas, ou por motivos familiares ou por motivos ligados à estrutura partidária do PSD. Aliás basta olhar para as críticas do ex-parceiro de coligação, o CDS/PP, que diz que o PSD falhou em toda a linha.

    AVE – Quanto ao projeto de ordenamento do território?

    JMR – Quanto ao ordenamento do território, acha credível uma Câmara que anda há 13 anos a rever o PDM? Há 13 anos!...

    Mais, do ponto de vista da criação de investimento, o resultado é nulo. Há uma coisa que eu vou querer ter – um gabinete exclusivamente dedicado à captação de empreendimentos – e falo com alguma autoridade, porque trabalho há 14 anos na Agência para o Investimento e Comércio Externo. Conheço muito bem a dinâmica da captação do investimento externo e esta Câmara não sabe fazer esse trabalho. Perdemos com muita frequência investimentos que podiam estar aqui.

    Já lhe referi o investimento da Jerónimo Martins...

    AVE – … Que começou mal...

    JMR – Muito mal! Aliás essa questão foi bem trabalhada pel'“A Voz de Ermesinde”, mas começou mal na fase da especulação dos terrenos, mas uma questão é a da especulação dos terrenos, outra é que o processo avançou, e é bom que se recorde que a vocação dos terrenos para fins empresariais foi alterada no mandato anterior, com a célebre votação de dois votos a favor e sete abstenções à instalação da Chronopost, não nasceu agora. Depois de estar aberta aquela via, e entretanto a Comissão REN deu OK à alteração do estatuto daquele território. Depois de ultrapassada a questão é bem vindo um investimento desta natureza. Acha que é todos os dias que anda a passear um investimento capaz de criar 600 a 700 postos de trabalho quase no imediato? Não me parece.

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    AVE – E pode sacrificar-se a REN a qualquer preço?

    JMR – Não não! Claro que está previsto compensar a REN. Uma das ideias que nós temos para atrair empresas ao concelho é alterar as taxas das infraestruturas, reduzi-las, tornar mais competitivo o regulamento, trazer as empresas para Valongo. Mas o atual presidente não está livre dessas críticas, porque a forma como está a gerir o processo de deposição de terras numa zona que é de proteção, de leito de cheia, RAN e REN, é bem demonstrativo de como tudo está igual dentro da Câmara. Mas a especulação foi a grande marca dos últimos vinte anos. Nós até temos um cemitério de prédios inacabados, como sabe. De que até uma exposição tivemos, recentemente.

    AVE – Divulgada pela Câmara...

    JMR – Divulgou, claro, isso é uma técnica de comunicação –reconhecer o erro.

    AVE – Quanto ao desenvolvimento industrial, nomeadamente a Zona Industrial de Campo...?

    JMR – Quanto à Zona Industrial de Campo é preciso continuar a apostar, mexer no regime das taxas. As decisões de investimento também têm em conta o custo. Se você faz uma fábrica aqui não é só porque pode, é porque entende que pela localização e taxas isso é vantajoso.

    Sabe que a administração da Jerónimo Martins, quando falou connosco dizia-nos que colocar o empreendimento na zona de Alfena permitia que a circulação de camiões nunca entrassem na malha urbana, e concentrar todas as atividades logísticas num ponto, ali em Alfena, iria permitir uma redução diária de cerca de 1 500 quilómetros – é muito quilómetro. Até do ponto de vista da pegada ambiental. É este tipo de critérios que contam!

    Porque é que não atraímos empresas de tecnologias limpas ou de serviços para a zona de Sá, aqui em Ermesinde, por exemplo?

    É hoje uma tendência as empresas voltarem a instalar-se no centro das cidades para evitar deslocações e poluição.

    AVE – Uma ou duas últimas questões que não tenham sido abordadas?

    JMR – Uma questão importante, não sendo a única força política a defendê-lo, é a defesa que fazemos dos Orçamentos Participativos.

    Outra, a importância de investir no rio Leça.

    A resolução do problema da saída da auto-estrada, pior com o problema das portagens.

    Outra é a serra de Santa Justa. Vila do Conde criou a primeira Área de Proteção Regional na reserva ornitológica. Valongo, com o pulmão do Grande Porto, apenas tem uma Área de Proteção Local, nem regulamento tem!Há qualquer coisa aqui que não faz sentido.

    Por isso digo que esta Câmara não tem peso e só está concentrada em fazer cosmética!

    Eu sou a renovação política deste concelho!. O meu adversário esteve 20 anos calado, a bater palmas ao Dr. Fernando Melo.

    E uma vitória aqui, em Gaia, em Gondomar e nas Áreas Metropolitanas é um grande passo para acabar com este Governo, que está a fazer muito mal às pessoas. E é por isso que aqui quase escondem o símbolo do PSD.

    As pessoas não podem ficar em casa, temos que ir votar, temos que pôr um fim a este ciclo!

    Por: LC

     

     

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