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    Arquivo: Edição de 27-05-2013

    SECÇÃO: Destaque


    CONFERÊNCIA “PATRIMÓNIO IMATERIAL, IDENTIDADE, RECURSO E RISCO”

    Bugiada e Mouriscada pronta para pedir registo no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial

    Realizou-se no Largo do Passal, em Sobrado, nos passados dias 24 e 25 de maio (sexta e sábado) a Conferência “Património Imaterial, Identidade, Recurso e Risco”, conferência esta que marcou um importante passo no reconhecimento público da Bugiada e Mouriscada como jóia do património imaterial, e que contou com a presença, entre outras personalidades, do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. Durante o evento foi assinada uma Carta de Compromisso a favor do trabalho para o reconhecimento (nacional e pela UNESCO) da Bugiada e Mouriscada como Património Cultural Imaterial. A Carta foi assinada por João Paulo Baltazar (Câmara Municipal de Valongo), Carlos Mota (Junta de Freguesia de Sobrado), Melchior Moreira (Turismo do Porto e Norte de Portugal) e António Pinto (Casa do Bugio). Vários conferencistas pontuaram com as suas intervenções a importância da festa de S. João de Sobrado.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    Ao referir que a candidatura da Bugiada e Mouriscada de Sobrado a património cultural imaterial da Humanidade não pode fazer-se a qualquer preço, pondo a tónica na sua salvaguarda, João Paulo Baltazar, presidente da Câmara Municipal de Valongo, deu a nota fundamental da cerimónia. A qual ficou ainda mais precisa quando apontou que «o reconhecimento não é um aumento de valor [da Bugiada...], ele já lá está, basta agora dizê-lo à UNESCO».

    Neste primeiro dia, e após uma breve apresentação da cerimónia, na abertura, Pedro Félix (da Equipa Científica da Candidatura da Bugiada e Mouriscada), foi o primeiro conferencista a intervir, dirigindo a sua atenção para a explicação do significado do reconhecimento do valor patrimonial imaterial. Após uma breve referência à candidatura bem sucedida do Fado e do atual trabalho de reconhecimento da Dieta Mediterrânica, fê-lo tentando explicar a história do conceito de património cultural imaterial, nomeadamente na relação entre os patrimónios dos Hemisférios Norte e Sul, numa compreensão cultural que ultrapassava finalmente o muito prevalecente culto dos monumentos.

    Referiu como marco fundamental a assinatura da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial (UNESCO, 2003).

    Salientou depois alguns aspetos fundamentais – o sentimento de identidade e pertença gerado pela tradição, o seu impacto na comunidade.

    O conferencista dirigiu seguidamente a sua atenção para a inserção de Portugal nesta perspetiva da UNESCO e apontou, no presente, mais algumas candidaturas em curso ao reconhecimento como património cultural imaterial da Humanidade, como o Cante Alentejano, o Galaico-Português, as Festas do Espírito Santo.

    Tentou depois definir as qualidades destes eventos culturais que lhes permitiam poderem ser considerados património cultural imaterial: serem formas culturais vivas, tradicionais, envolventes de toda a comunidade e nos quais ela se reveja. A tradição não tem que ser imutável, mas a sua mudança tem que resultar de um processo natural. Devem ainda constituir atividades regulares que condicionem a vida das comunidades.

    Apontou depois algumas exigências aos atores externos: que respeitem as práticas e os processos destas tradições sem nelas minimamente interferir.

    Por fim, apontou alguns riscos: o da folclorização, o da alienação da comunidade do todo ou de parte do processo, a tentação de regularizar a festa.

    A INTERVENÇÃO

    DE MANUEL PINTO

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    Interveio depois o investigador Manuel Pinto, da Universidade do Minho, mas também filho da terra, que começou modestamente por dizer que o apresentava ali era a partilha do saber de toda a gente. Lembrou a seguir o diplomata e etnógrafo inglês Rodney Gallop, que testemunhou ser a Bugiada e Mouriscada, «um dos mais notáveis rituais que sobrevivem na Europa moderna».

    E esclareceu melhor o entendimento da festa de Sobrado: a Bugiada não era um arraial, nem uma festa de padroeiro. Festa entrosada com a vida dos sobradenses, constituía uma narrativa entre forças diversas (de um lado uma força disciplinada, exterior... do outro uma força espontânea e folgazã). Mas para além das antinomias (várias outras referidas), não havia, como noutras festas conhecidas, uma demonização dos mouros entendidos como «os maus» e de tudo afastados. Era muito interessante que na festa de Sobrado fossem os mouros a pegar nos andores. Não haveria um derrotado nas Bugiadas, antes uma convivência...

    Manuel Pinto referiu também os ensaios públicos e abertos a toda a comunidade, culminando no último – o dia dos tremoços.

    Referiu o rio Ferreira, que com os seus aluviões de cheia, permitia a abundância da planície de Sobrado e a existência de várias abastadas casas de lavoura outrora, cada uma das quais mandando um dos seus mais garbosos rapazes para a sua função de mourisco.

    Apontou depois a origem da festa perdida na bruma do tempo, apelando a uma maior investigação, mas ligando-a provavelmente às festas de Corpus Christis, que floresciam antigamente em vários lugares, mas que entretanto se foram extinguindo.

    E referiu ainda a história mais recente e a ligação entre a agricultura e a indústria e a tragédia social que aquela amenizou, por exemplo quando uma grande fábrica, como a Cifa, fechou.

    E terminou dizendo (e apelando...) que faltava um museu e que faltava investigação.

    OUTRAS INTERVENÇÕES

    Foi depois apresentado o novo site, ainda em construção, Bugiada e Mouriscada, por Manuela Ribeiro, da Câmara de Valongo. A estrutura deste e a sua interatividade encorajada. E quase no fim seguiu-se a assinatura da Carta de Compromisso entre a Casa do Bugio, a Câmara Municipal de Valongo, a Junta de Freguesia e a Entidade Regional do Turismo Porto e Norte de Portugal. Este documento assinalava assim oficialmente a responsabilidade em pedir o registo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, conforme com os critérios definidos pela UNESCO.

    Interveio ainda antes Melchior Moreira, do Turismo do Porto e Norte de Portugal, que insistiu na importância do Festival do Norte (este ano com a tónica nos concelhos de Guimarães, Espinho e Santa Maria da Feira, além de Valongo), como instrumento promotor dos concelhos, e um projeto de criação contemporânea. Salientou o diálogo em rede, a coesão cultural, a memória e identidade, e ainda a necessidade de estudo, valorização e divulgação.

    Por fim fez ressaltar a importância desta tradição sobradense, cuja vivência e reinvenção permanentes fazem dela um processo muito específico, com o qual se comprometeu a um «apoio incondicional».

    João Paulo Baltazar, o presidente da autarquia valonguense completou as intervenções deste dia, antes da Banda Musical de Campo fazer o encerramento da sessão.

    E destacou a importância do papel da comunidade dos dirigentes associativos e da comunidade escolar. Elogiou o empenho de Melchior Moreira. E afirmou que não há que ter pressa. E que tudo decorrerá com a tranquilidade e a força que a festa merece. Referiu, para o tornar mais claro, a relação avassaladora entre a população de Sobrado, cerca de sete mil habitantes e aqueles que na festa diretamente participam, cerca de mil!

    Referiu depois a paixão com que a comunidade de Sobrado discute a festa. E enquanto o fizer, a festa vai viver.

    E referiu depois a questão da ética, que no início do texto apontámos.

    SEGUNDO DIA

    O segundo dia contaria com a presença do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que destacou o seu gosto em estar pessoalmente nesta Conferência e apresentou a disponibilidade total da Secretaria de Estado da Cultura em apoiar em tudo aquilo que a Equipa Científica da Candidatura precisasse no processo de defesa do reconhecimento da Bugiada e Mouriscada de Sobrado como património cultural imaterial da Humanidade.

    Destaque também, neste segundo dia, para a intervenção de Paulo Lima, coordenador da equipa Científica da Candidatura da Bugiada e Mouriscada, que afirmou a inviolabilidade da tradição cultural de Sobrado, tranquilizando todos os sobradenses e tornando claro que as mais valias seriam sempre exteriores à festa, por exemplo na sua visibilidade, na acessibilidade, na capacidade e qualidade de acolhimento dos visitantes.

    Intervieram ainda Hélder Ferreira, da Progestur, que abordou o tema da Influência da Bugiada e Mouriscada no Projeto da Máscara Ibérica, Sofia Ferreira, administradora delegada da Touring Cultural e Paisagístico City e Short Breaks, que falou sobre “Turismo, Cultura e Oportunidades – o Caso da Bugiada e Mouriscada”, Miguel Areosa Rodrigues, diretor de Serviços e Bens Culturais da Direção Regional de Cultura do Norte, que falou sobre “Património Imaterial e Papel das Instituições Públicas de Salvaguarda” e ainda Jacinta Oliveira, vogal do Conselho de Administração da Fundação Inatel, que abordou o tema “A Fundação Inatel na Defesa e Preservação da Identidade Nacional”.

    Por: LC

     

     

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