SECÇÃO: Cultura

A realidade de um Portugal submisso ao poder alemão

Foto MANUEL VALDREZ

A ação desenrola-se num banco, que no dia do seu 15º aniversário espera a importante visita de um tal de doutor… Merkl! Este nome não nos larga… É um dia especial, mas não para todos. O hiperatarefado senhor Simplício há quatro dias que não vai a casa, não dorme, não come, sempre às voltas com as contas, e com o discurso que o diretor Pedro vai proferir aquando da visita da ilustre figura. No fundo, é um dia normal para Simplício, cujo trabalho da instituição financeira recai todo sobre os seus ombros. Mais descontraída aparece a secretária do banco, a quem nem os assaltantes parecem importunar ou sequer meter medo, até porque nada há para roubar no banco!!! As dificuldades, as preocupações, os problemas da instituição financeira são muitos, mas só o pobre do Simplício parece estar preocupado com isso, pois o diretor Pedro, figura máxima da instituição, quer é o discurso pronto para impressionar os alemães que estão a chegar para a festa, sem se preocupar muito com a mais do que previsível falência do banco que dirige, ruína para a qual ele muito contribuiu com as suas extravagantes “despesas de representação”. Festa que no entanto nem chega a acontecer, já que um telefonema da Alemanha altera todos os planos. O banco está em clara falência, os alemães salvam-no dessa mesma falência, mas com uma condição: que se despeçam todos os trabalhadores exceto o diretor Pedro, que na realidade seria aquele que menos mereceria a permanência na instituição.

Esta breve sinopse retrata “Aniversário do Banco”, uma peça que de forma cómica traça a atualidade de um Portugal cada vez mais familiarizado com bancos falidos, crise económica, desemprego, e… influência alemã. Visão da realidade transposta para o palco por um punhado de atores amadores cuja paixão pela arte de representar é por demais evidente, conforme aqui ficou mais uma vez vincado, o que se traduz com naturalidade numa representação bem conseguida. Bem merecidos foram pois os aplausos na hora de descer o pano, não sem antes os elementos da companhia prestarem uma homenagem ao recém-desaparecido José Marques, carismático associado da AACE que esteve sempre muito próximo da companhia Casca de Nós ao longo dos seus (já!) 10 anos de existência.

Ficha técnica

Título da obra: “Aniversário do Banco”;

Elenco: Adelaide Vicente, Bruno Sousa, Frederico Silvestre, Hermínia Carvalho, Justino Pinheiro, Fernanda Rodrigues, e Paulino Laranjeir;a

Dramaturgia/Encenação: Hugo Sousa;

Cenografia/Desenho de luz: Hugo Sousa;

Figurinos: O grupo;

Exposição cenográfica: João Chaves Sousa;

Operação de luz: José Manuel Cunha.

Operação de som: João Ferreira

Por: Miguel Barros