Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 29-02-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 10-05-2013

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    E os pais têm a palavra

    Março teve um dia em que são lembrados os pais e em maio segue-se com a justa homenagem às mães, somente aqui diverge um entendimento diferente em pessoas que ao abrigo da mesma fé consideram o 8 de dezembro como o verdadeiro Dia da Mãe. Abstraindo-me de comentários e discussões que possam gerar estas considerações, eu escolhi este apontamento para homenagear, em conjunto, o pai e a mãe dos 365 dias que o ano tem.

    Faço-o usando o respeito que me mereceu a luta de uns pais que conheço no sentido de devolverem ao filho mais velho o direito de “ser” reproduzindo (com a respetiva autorização) uma carta que recentemente enviaram para uma escola do meu País e em que a “omissão” de nomes é mais do que compreensível porque falamos, sobretudo, de crianças.

    «A todos os Professores

    Gostaria de partilhar convosco que felizmente os resultados do meu filho começam a ser positivos, acabou o período apenas com uma negativa. Digo com uma negativa, não porque isso seja o mais importante para mim, até porque tenho dois filhos e o mais novo é um excelente aluno, que facilmente alcança resultados positivos, por essa razão em casa digo muitas vezes que não quero meninos perfeitos mas meninos felizes, também por isso valorizo o esforço e não os resultados por si só, pois foi assim que fui educada.

    foto
    Sinto-me por isso uma privilegiada por ter dois filhos saudáveis e faço tudo como qualquer mãe para que sejam felizes, educados, íntegros e justos, isso será uma boa base em qualquer profissão que escolham, além de que a minha experiência profissional mostra que, em maioria, não são os melhores alunos que têm mais sucesso profissional.

    O mais velho quis sair da escola onde estudava, e nós pais, não o apoiamos de ânimo leve, até porque não incentivamos desistências. Analisámos todas as hipóteses, mas ele estava acima de tudo desesperado e desiludido com ele mesmo. Ele, que para quem o conhece é sempre tão bem disposto, com capacidades como qualquer miúdo da idade dele, apenas com uma autoestima e confiança baixa. O porquê de tanta deceção nesta idade que deveria ser de sonhos e projetos?

    Nunca percebi muito bem, até porque quando me fazem sentir que não sou capaz, eu sou capaz disso e muito mais, mas não somos todos iguais e aí está a beleza da Vida. Mas fico contente e orgulhosa de (como pais), termos cedido e apoiado esta decisão do nosso filho mais velho, que está mais feliz do que nunca, e acima de tudo independente. Já estuda sozinho e até os trabalhos (que são muitos), faz sozinho. Está a desenvolver a sua autoconfiança e autoestima a uma velocidade fantástica.

    Apenas vos conto um episódio tão simples e que faz por vezes uma grande diferença: a atual professora de Desenho disse que queria ficar com um desenho dele que estava excelente e era o melhor da turma, se ele não se importava de lho dar, diz ele:«Ó mãe, até pensei que era o de outro colega com o meu nome!», e eu disse-lhe: «Porque não haveria de ser o teu? Tu és capaz!». Até os olhos cintilavam. Pensei: Fantástico, como é que uma coisa tão simples é capaz de nos fazer acreditar que somos capazes de tudo!

    Tenho realmente pena que esta realidade tenha um preço e não seja de acesso livre a todos, principalmente para os que não se acham suficientemente bons. Com tudo isto, o meu filho deixou professores fantásticos na escola que teve que ficar para trás (e provavelmente alguns que tenho a certeza que inconscientemente, por atitudes ou algumas palavras, o discriminaram por não ter os mesmos resultados que os outros). Por isso, louvo a vossa profissão, que por vezes é tão ingrata porque trabalham com o futuro e sonhos de seres humanos, alguns mais suscetíveis à avaliação que fazem deles.

    Peço desculpa pelo desabafo, mas não acho que seja uma queixa na DREN que repõe o que se tira a uma pessoa, até porque tenho a certeza que se algum professor o fez foi por falta de sensibilidade ou de jeito e não propositado, no entanto acho que devia esclarecer alguns motivos desta desistência do meu filho. Com isto gostaria de rematar com uma citação de Fernando Pessoa, que acho se encaixa na perfeição no meu filho e no juízo de alguns: «Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito».

    A todos os Professores, desejamos muitos sucessos pessoais e profissionais e muita Saúde!»

    Depois disto, limito-me a acrescentar o privilégio que tenho de conhecer uma menina que também encaixava neste estereótipo de crianças e a vida transformou numa ainda jovem, mas já grande Mulher, que não pode ouvir dizer que alguma criança é “burra”. Revolta-se e diz: «Ninguém é burro, se calhar não lhe sabem apanhar o jeito». Tem tanta razão que basta olhar para ela, um exemplo disso. Um dia li: «Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina!». Eu dou os parabéns aos que sabem ensinar, aos que querem aprender a ensinar e aos pais que não se destituem do seu papel de pais.

    Por: Glória Leitão

     

    Outras Notícias

    · Tempo do tempo

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].