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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-01-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Onze mil e quatrocentos

    O mês de janeiro está passado e eu quase me esquecia de registos importantes que não queria nem devia deixar passar em claro, ainda mais sendo coisas que para mim fazem todo o sentido – não cruzar braços e lutar para conquistar aquilo em que se acredita. Isso aconteceu com os nossos jovens do COJ – Centro de Ocupação Juvenil (uma das valências da Associação Ermesinde Cidade Aberta), e que numa crónica de 15/02/2012 identificava como «… meninos e jovens, alegres e dinâmicos que têm uma cumplicidade gira com as suas cuidadoras, que estão atentas às suas traquinices e também às suas estratégias de distração para se desviarem da concentração que precisam de ter para fazer os seus TPC’s escolares…» . Referia também que me tinha sido permitir assistir a uma das feirinhas que organizaram ao ar livre para poderem obter fundos que queriam aplicar em seu benefício e conseguiram – em equipa, com o dinheiro que juntaram – assumir o custo da rede que foi necessária para vedar o quintal da “sua casa”.

    A par disso e se calhar também incentivados pelo seu esforço e perseverança as suas educadoras e auxiliares conseguiram que empresas amigas lhes oferecessem o relvado sintético, a sua colocação e ainda a rede para cobrir este seu pequeno campo que lhes serve agora para a prática de futebol e outras atividades desportivas e lúdicas que podem fazer neste espaço, em segurança e que está integrado na tal “casa” onde passam grande parte do seu tempo e que também ficou linda depois da obras de restauro com uma “mãozinha de ajuda” do Centro Social de Ermesinde e que se estão a estender aqui ao nosso Centro de Animação, nas Saibreiras, que está a ficar lindo pintado de cores alegres, como os nossos meninos.

    Depois, fazia também todo o sentido para mim, registar a fraqueza de um grande clube de futebol que tinha dispensado as suas atletas, no feminino, e isso enfraquecer-lhes-ia a moral se não se tivessem junto a outras guerreiras aqui no clube que é nosso vizinho, o CPN. Em equipa, transformaram-se mesmo em força e puderam festejar a sua grande conquista, em finais de 2012 – sagraram-se campeãs distritais de basquetebol e eu imaginei o “gozo” que esta vitória lhes tenha dado, provando o seu grande valor. Aquele troféu, que exibiram com orgulho e honra representa seguramente o empenho delas, o apoio e o amor das suas famílias, a qualidade de uma equipa técnica e toda a crença e a teimosia de um clube histórico da cidade de Ermesinde: o CPN, Clube de Propaganda da Natação – Todos de Parabéns!

    E ficaria assim, este registo se em época festiva não tivesse passado por uma loja da “Paupério”, uma empresa que se tem reinventado, não perecendo à crise e que eu associo às caixas de bolacha da minha infância e que, por sermos uma família numerosa não entrava na nossa lista de bens essenciais. Compravam-se sim nesta altura do ano para oferecer à nossa professora primária. Acho que ainda hoje lhe sinto o cheirinho que tentava absorver enquanto a transportava no caminho para a escola por forma a poder reter aquele odor a bolachinhas quando me separasse da caixa que confesso me custava entregar como a tal lembrança – o sinal de respeito que os pais tinham pelos professores e uma forma humilde de os compensar numa profissão que sempre foi difícil e que todos valorizam e respeitavam como uma autoridade de ensino.

    Foto GL
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    Dezembro continuava a surpreender-me e finalizo este apontamento com um registo impossível de guardar para mim mesma – o ar perplexo da nossa colega Sofia que irrompeu pelo gabinete e nos disse, ainda incrédula pela novidade que tinha acabado de receber: «– Acreditam que a minha amiga sempre conseguiu um emprego como administrativa?» – tinha mandado exatamente 11 400 currículos e num acertou e conseguiu um trabalho. Isto fez-me vir à lembrança a ideia que nunca me abandona – a vida sempre irá ser um bater de portas. Umas fecham-se e outras abrem-se. Os “Não” são iguais, os “Sim” também e aqui o que diverge é a roupagem com que nos camuflamos – comercial, gerente, administrativo, académico, etc., e até amigo, e até família.

    Em 30/10/2011 escrevia em JUICE que “teatro de vendas” é o teatro da vida porque a vida sempre será um teatro em que nós seremos sempre os atores principais e as pessoas a quem ouvia dizer «não sei se alguma vez eu conseguia fazer esse tipo de trabalho» não se terão mesmo dado conta que sempre fizemos isso, sempre vendemos algo na vida e até o tal favorzinho que em dado momento todos precisamos de pedir, quer tenha sido batendo à porta de uma casa, de um gabinete, de uma empresa, ou mesmo traduzido numa simples chamada telefónica. Neste “teatro” até o “Moliére” funciona, porque também existe dentro de nós, o tal “lá terá que ser” e avançamos, com a coragem igual ou até maior que o motivo que nos leva a pedir e que, para mim, também se reflete em três termos, as “três pancadas” da nossa motivação para o fazer:

    Insista, Persista, Nunca desista.

    Isto, mesmo que lhe digam que já é tarde e não vale a pena. A amiga da Sofia precisou muito destes três “condimentos” porque onze mil e quatrocentos currículos é um número de muito respeito, de muita coragem, de muita persistência e ainda bem que ela não desistiu!

    Por: Glória Leitão

     

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