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    Arquivo: Edição de 24-01-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Papas e bolos

    Em 30/11/2011, numa crónica usava umas simples linhas, escritas por José Saramago – «…Acho que na sociedade atual nos falta Filosofia, falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar e, parece-me que sem ideias não vamos a parte nenhuma…». Tarde, poderia dizer-se mas sempre a tempo, percebi que gosto do trabalho “de pensar “, perceber o porquê das coisas, corrigir e mudar de rota se isso me fizer sentido. A minha atenção tem-se prendido com o que tenho ouvido dizer: foi o consumismo que nos conduziu a esta crise, fomentado pelos grandes interesses financeiros que nos comandam – a banca e todos os seus pares, todas aquelas pessoas que sobrevivem dela, os que a sustentam e os que criam os seus negócios para a fortalecer e/ou ainda os que erraram nos cálculos.

    Eu concordo que sim, foi aliciante gastar muito do que era apelativo, tudo era apelativo e mesmo nos negócios tudo parecia também fácil, demasiado fácil até pela sedução que havia pelo consumo aos consumidores. Também se terá tornado igualmente apelativo para quem aprendeu a ganhar muito, faturar muito. Sempre tenho ouvido dizer que “quem não chora, não mama”. Se calhar, terão sido os que sempre se foram lamentando ao longo do tempo que se foram governando ao longo dos anos com os “sem cabeça”. Claro que agora lhes apontam o dedo porque acrescentaram à sua inteligente cautela o benefício de “gozar” e deleitarem-se por ver afundar os consumistas que iam encher a gaveta das suas máquinas registadoras, muitas vezes se calhar, pensando que estavam a ajudar o seu “negócio”. Esta forma errada de estar daria também a falsa sensação de estatuto, de nos sentirmos importantes, conhecidos, cumprimentados e pensando nós que até estimados.

    Foto GL
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    Agora “caiu o pano”, está tudo assustado, mas pouca gente se estará a dar ao trabalho de pensar. Ninguém se deu conta que o elo da “máquina consumista”, quebrou e como “baratas tontas” ninguém sabe como a pôr a funcionar e a produzir em slow. Também ainda ninguém estará a fazer o “mea culpa” antes pelo contrário, estaremos ainda “anestesiados” e o tempo da fartura – que já terminou – deu lugar ao tempo de escassez que, para muitos de nós, está a ser utilizado para olharmos para o “outro”, que nós já vemos nu há muito tempo. Não nos estamos a dar conta que já outros estão a ver que nós, “os reis (os tais omnipotentes), também já vamos nus. O povo diz que “com papas e bolos se enganam os tolos”. Neste caso, tolos terão sido os que gastaram o que podiam e não podiam em prejuízo de si mesmos e dos outros, mas também terão sido tolos os que se projetaram pensando que iam passar a vida a ganhar com eles. A dívida soberana foi uma contribuição de todos, gerada por aqueles que atiraram a pedra e esconderam a mão, os que sempre fizeram como Pilatos e os que caíram no laço que lhes foram estendendo e puxando, no tempo devido e, se calhar, pelos mesmos “donos da crise”, os que a fabricaram e agora mais estarão a ganhar com ela.

    Felizmente que também se está a assistir a um grupo significativo de pessoas que já percebeu o que aconteceu – que “TODOS terão morto a galinha dos ovos de ouro” e já estão a aguçar o engenho para tornar viáveis os seus pequenos negócios, apoiando-se nas medidas que existem e outros que já criaram as suas medidas low cost, que lhes permitam manter-se de pé e atravessar esta “maré negra”. Dou como o rosto desse mesmo exemplo o caso da D.ª Madalena, que tem feito de tudo para dar a volta à crise e isso inclui a parceria que estabeleceu com uma instituição de solidariedade social cedendo um espaço que não estava a ser utilizado para que lá fosse instalado um “Bazar de Natal”. Esta oportunidade permitia-nos comprar coisas novas e usadas (agora em moda), a preços simbólicos. O apuro revertia para pessoas carenciadas além de que, desta forma, também atraía gente que se juntava à sua simpatia e tomaria lá um cafezinho, em que ficasse o hábito de voltar e ficar cliente da casa.

    Nesta partilha de reflexões eu já não direi para que se olhe para o que digo, ou até para o que eu faça mas, no mínimo, pode ser que José Saramago, o homem a quem o mundo reconheceu o valor suficiente para lhe ser atribuído um prémio Nobel, mereça a credibilidade suficiente para nos convencer a termos o trabalho de pensar. Isto, porque não será também por acaso que um dia destes ouvia num programa de televisão que as empresas já estão a admitir filósofos, aqueles que têm o hábito de pensar, porque o ser humano dos dígitos já foi à exaustão e agora devem andar atrás do seu coração porque o homem sempre será preciso para ligar a máquina. Eu assumo que “tola” terei sido, mas assumo também que “tola” quero ser ao acreditar numa frase de Henry Ford – «Podem tirar-me as minhas fábricas, queimar os meus prédios, mas se me derem o meu pessoal eu construirei de novo todos os meus negócios». Vai ter que haver sempre um amanhã, mesmo que alguns donos da crise digam que agora se vão embora. Acredito que alguém ficará para edificar de novo, mesmo que alicerçado em cima de escombros.

    Por: Glória Leitão

     

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