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    Arquivo: Edição de 17-01-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    CRÓNICAS DE LISBOA

    Os Humanos e os “Bichos”

    Está a circular na internet uma petição contra o abate do cão, arraçado de pitbull, que há dias, em Beja, atacou um menino de 18 meses e que acabou por falecer, no hospital em Lisboa, devido aos ferimentos. O menino foi atacado em casa, pelo cão chamado Zico e que pertencia a um tio da criança que vivia na mesma casa com os pais e os avós da vítima. O avô do menino disse que não encontra explicação para o sucedido, porque o cão era meigo e sempre conviveu com crianças e acrescentou que, em nove anos de vida, o animal nunca tinha atacado ou feito mal a alguém. Disseram algumas pessoas conhecedoras do caso, o avô já teria sido atacado, pelo menos duas vezes, pelo cão, com necessidades de assistência médica.

    A lei obriga ao abate do animal, mas algumas dezenas de milhares de portugueses estão contra o cumprimento da lei: “Contra o abate do pitbull ‘Zico’ e de todos os outros ‘Zicos’”, é o nome da petição dirigida ao canil de Beja e respetiva veterinária municipal. “Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem, etc., então também não o façam com os animais. Eles também merecem uma segunda oportunidade!”, acrescentam os promotores da petição. Perante as notícias deste triste acontecimento, com a perda duma criança, bem como o destaque dado pela imprensa (incluindo a TV), a subsequente petição veio por a nu algumas das “loucuras” desta era digital e das “redes sociais”, e cada vez mais sem “tino”, que usa e abusa das petições públicas, descredibilizando um meio democrático que deveria ser utilizado em situações de verdadeiro interesse coletivo, mesmo que seja restrito a um universo local ou de classe. Mais uma vez me lembrei dum lema que muita gente gosta de citar: “Quanto mais conheço os humanos, mais gosto dos animais!”. É uma “queixa” que fazem muitos daqueles que “amam” os animais mais do que os humanos. Mas, se estivermos atentos aos “queixosos” não teremos dificuldades em verificar que poderá haver algo de “bicho” em muitos daqueles que se refugiam neste lema para “justificarem” as suas dificuldades no relacionamento com pessoas. Comparar os humanos com os animais pode indiciar alguma forma de “doença”, porque um animal, por muito útil e amoroso que seja e há exemplos inacreditáveis nos caninos e noutras espécies, é sempre um animal.

    Confesso que fico muito preocupado com esta “onda peticionária”, em torno dum cão que terá (digo terá, porque parece que a morte do menino poderá ter outras causas) atacado, com efeitos mortais, uma criança inocente, mas sem paralelo em muitas situações “inacreditáveis” que existem na nossa sociedade, por exemplo, os sem-abrigo, droga, violência e maus tratos nas crianças, abandono de idosos pelos próprios familiares, etc., etc.. Estas sim são “vergonhas” que nos deveriam mobilizar para a sua denúncia e o seu combate e prioritariamente em relação aos animais. Se repararmos, e apesar do abate de cães que utilizaram contra humanos a sua verdadeira e genuína agressividade, por mais domesticados e socializados que estejam, há muitos humanos no nosso país que “têm uma vida abaixo de cão”, aqui com o significado de indignidade humana. Triste e que me leva a adotar aquele lema: “Quanto mais conheço os humanos, mais gosto dos animais!”, mas com significado inverso, isto é, animais que serão mais “humanos” do que os “bichos” seus donos. Exemplos? Permito-me citar apenas alguns que presenciei ou participei em que os cães são “humanos” e os humanos são “cães”.

    Desde:

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    I) Um cão-guia dum vizinho e a sua nobre e abnegada dedicação;

    II) Um cão que “ferrou” os dentes no meu filho, então adolescente, e lhe rasgou, apenas felizmente, os calções na coxa quando ele ia apanhar a bola no jardim e cuja dona respondeu que o cão teria “pensado” que o rapaz a iria atacar!

    III) Um vizinho com quem me cruzei no jardim, quando ele passeava os seus dois “canitos” e indagando-me sobre o meu estado de saúde, me disse: «Ah, este também tem problemas de estômago» – referia-se a um dos dos seus cães comparando-o comigo!

    IV) Ou ainda muita gente, alguns de “mau aspecto”, que se passeiam e ostentam um “cão da moda”, isto é, cães de “raça perigosa”. Aliás, ter um “cão de marca” é hoje uma forma de ostentação e, em muitas situações, uma alternativa aos humanos. Diria até que são uma “alternativa” à maternidade e paternidade. Milhares sabem o nome do cão (Zico), mas muito poucos o nome da criança (Dinis). Sintomático e na linha de que a vítima é sempre secundária!

    Independentemente da necessidade de reforçar a legislação apropriada para “bichos” e “humanos” e que facilite a coabitação e convivência, é preocupante que muita gente sinta e faça mais pelos animais do que sente e faz pelas pessoas. Doença? Os “experts” que analisem estes comportamentos, porque, pessoalmente, me fico pelos factos constatados e de que este é apenas mais um.

    Por: Serafim Marques

     

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