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    Arquivo: Edição de 13-04-2012

    SECÇÃO: Crónicas


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    Jardins da nossa vida!

    Hoje tivemos a visita do João e do Luís, que quando chegam nos dão um beijinho de bom dia e um abraço tão carregadinho de ternura que às vezes penso ser uma magia própria das crianças. Largado o abraço, que se parece muito com um laço, apontaram para o bilhetinho que temos colado numa das paredes do gabinete e que nos foi deixado há tempos atrás como despedida. Apreciadores que somos destes gestos, guardamos mais este bilhetinho na nossa coleção de “talismãs” que nos vão sendo deixados pelas crianças que por aqui passam.

    Mais dois jovens miúdos que são visita habitual do nosso gabinete de trabalho e é bom ouvi-los, é bom sentir a alegria e a irreverência de crianças enquanto trabalhamos porque eles sempre nos vão dar a sensação de que vale a pena mudar um pedacinho do mundo quanto mais não seja, por eles.

    Convivermos com meninos e meninas é quase como viajar por dentro do livro “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry, o autor da célebre frase: «Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».

    E nós somos bafejados pela sorte por termos crianças aqui no nosso Centro de Animação, porque também são elas que nos vão inspirando e “calibrando” os “estados de espírito”. A influência de crianças é de tal forma intensa que os seus simples desenhos são fonte de inspiração até para as etiquetas das pastas que foram recentemente criadas para normalizar o arquivo no gabinete da Direção.

    Há tempos atrás, quando vi a azáfama na organização desta tarefa, retrocedi a 1991, quando comecei a receber formação em melhoria contínua, que me levou ao Kaizen, participando ativamente como “owner” na divulgação e aplicação da metodologia 5S – Seiri, Organização; Seiton-Arrumação; Seiso-Limpeza, Seiketsu-Padronização, Shitsuke-Autodisciplina.

    Foto GL
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    Sendo esta metodologia de fácil aplicação e que ajuda a mudar o ambiente e a melhorar o método de trabalho a baixo custo, e ao falar de retrocesso, falo de balanço, falo de regresso ao passado, quando, no meu Portefólio Reflexivo de Aprendizagem, precisei de voltar à minha infância e perceber que o conceito de qualidade, rigor e disciplina já vem dos primórdios dos tempos e que acabam por nos influenciar desde tenra idade.

    Constatei isso quando referi que, até aos 5 anos, morei numa casa que estava localizada junto a um lavadouro público, onde era profissão corrente da época ser lavadeira, e eu adorava estar junto dessas grandes mulheres que me encaixavam no seu meio e me cediam um caixotinho de madeira para eu me ajoelhar e lavar com elas as peças mais pequeninas. Ensinaram-me uma tarefa que penso nunca esqueci: a arte de ensaboar, esfregar, enxaguar e torcer a roupa.

    Será da lembrança de muitas pessoas que lavadeira que se prezasse e também mulher e dona de casa deveria conhecer a técnica de estender a roupa, que era organizada por cores e também normalizada por “secções” – roupa de cama, atoalhados, roupa interior, meias aparelhadas, etc., e desta técnica se avaliava a qualidade de desempenho, e era normal passarmos por zonas mais descampadas ou quintais cheios de roupa muito bem estendida – o brio e o orgulho de um trabalho bem feito, espelhado naquelas cordas.

    Neste registo de infância passei para os terrenos de cultivo que nós fazíamos em família e desde muito pequenos. Éramos nove pessoas, precisávamos de obter da terra parte do nosso sustento. Também isto é uma experiência gratificante porque, pelo nível de exigência do meu pai, tínhamos que alinhar muito bem os regos da batata e isso era garantido com a ajuda do fio norte, que era esticado ao longo do rego para nos orientar, e a batata era colocada através de uma bitola de madeira ou ramo seco que nos garantia o espaçamento ideal na sua plantação.

    Também aqui o cultivo era feito por secções e ciclos de produtividade, conforme a época do ano e ainda hoje o quintal do meu pai, que tem 79 anos, se parece com um jardim, organizado e normalizado por talhões, por espécies, por ciclos – o orgulho de um bom semeador que também ainda agora se orienta pelo “Seringador”, o almanaque que já vem do tempo dos seus antepassados e porque já é editado há 147 anos.

    Lógico que quando fazemos isso durante muitos anos, como foi o meu caso, acabamos por interiorizar este conceito e aplicamo-lo intuitivamente na nossa vida, ainda mais que esta disciplina começa em nossa casa e vem já da nossa infância, como pude perceber ao longo da minha aprendizagem através do meu percurso de vida, e aqui basta-nos olhar para a organização de uma despensa, de uma cozinha ou até de um simples roupeiro, onde tudo é guardado por grupos de alimentos, por datas, por secções e até por estações do ano.

    Indo mais além, podemos lembrar as famosas plantações de tulipas, normalmente seccionadas por cores e que dão um aspeto visual fabuloso e seguramente fácil de organizar quando houver necessidade na sua colheita, facilitando a tarefa de quem o faz, encurtando muito o tempo necessário ao desempenho para esta tarefa.

    Exatamente o mesmo que me faz olhar para aquelas etiquetas, para aquelas pastas de que – estou certa – vão levar a uma maior facilidade na procura da informação, e a um menor gasto de tempo, a um melhor aspeto visual e a uma maior otimização de espaço.

    É bom voltarmos com coisas boas do passado e eu fico feliz por haver no presente conceitos que não se esquecem e sempre vão fazer parte da nossa disciplina: rigor, qualidade, gosto pelo trabalho bem feito – o jardim da nossa vida, neste caso colorido por desenhos de meninos!

    Por: Glória Leitão

     

     

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