MOSTRA DE TEATRO AMADOR DO CONCELHO DE VALONGO - 2012
Nova apresentação da “Bailarina...” no encerramento da Mostra de Teatro Amador
|
Foto ARQUIVO URSULA ZANGGER |
Apresentada no Fórum Cultural de Ermesinde, no passado dia 27 de março, a peça “A Bailarina Vai às Compras” encerrou a Mostra de Teatro Amador de Valongo 2012. A sala estava cheia para a apresentação do consagrado espetáculo da companhia profissional ENTREtanto TEATRO, quer para assistir à ótima atuação de Júnior Sampaio (também responsável, a par com Quico Cadaval, do texto e da dramaturgia), quer para estar presente na cerimónia de entrega dos prémios que a Câmara Municipal de Valongo distribuiu aos grupos de teatro amador que participaram este ano.
Quem é a bailarina? As opiniões podem facilmente divergir – um poeta, um artista, um homem que dança pelos corredores do supermercado como quem cala, com a sua loucura, a loucura de um mundo que o despreza e se recusa a compreendê-lo? Ou antes uma mulher frustrada com as escolhas da sua vida, com problemas de alcoolismo, droga e uma patologia séria ligada ao consumismo crónico, como forma de esbater na alma todas as dúvidas e tristezas do seu atribulado percurso de vida? Um incompreendido ou alguém que se recusa a compreender? Vítima das circunstâncias ou das próprias prerrogativas?
A própria obra, que se inicia num tom jocoso e termina numa espécie de apoteose libertadora (sim, claro, mas com que fim?, com que meio?, com que explicação além da recusa de explicação – o sentido e o sentimento como fontes egoístas de autojustificação é talvez a temática mais imperativa ao longo da obra) acabou por confundir a plateia. Nas alturas de maior cadência, em que o ritmo do drama caminhava nervosamente para a epifania da personagem única da peça, a Bailarina (ou Bailarino?) despontava, em espetadores mais desatentos, reações análogas àquelas que ativara no início da peça. Será que é a peça que exige uma maior argúcia? Sim, claro, mas é também o espírito que reside na personagem (a que o texto da obra foi sempre fiel, preservando uma lúcida compatibilidade entre os momentos de loucura e de clarividência) que causa o riso e um incompreendido divertimento ao espetador que não consegue ver que ali, naquele momento, já não se joga a comédia vivida de um homem, mas antes a tragédia desesperante de uma mulher.
Por:
Manuel Rezende
|