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    Arquivo: Edição de 15-04-2011

    SECÇÃO: Destaque


    25 de Abril próximo: “A Voz de Ermesinde” adopta (adota) o Acordo Ortográfico

    Após um período de debate e reflexão interno e do lançamento do tema em inquérito aberto e nas páginas do fórum, reunidos e ponderados os argumentos contra e a favor, “A Voz de Ermesinde” decidiu adoptar como norma da sua grafia o Acordo Ortográfico de 1990, a partir do seu próximo número, a publicar a seguir ao 25 de Abril, considerando também ser esse uma espécie de sinal simbólico a dar aos seus leitores.

    O Acordo Ortográfico entrará em vigor nas nossas escolas no início do ano lectivo de 2011/2012. No Brasil está em vigor desde 2009. São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau já o ratificaram, só faltando ainda a ratificação de Angola e Moçambique.

    Jardins suspensos de Babilónia, Gravura de Maarten Van Heemskerck (1498 - 1574)
    Jardins suspensos de Babilónia, Gravura de Maarten Van Heemskerck (1498 - 1574)
    Várias vezes abordou o jornal “A Voz de Ermesinde” nas suas páginas, sobretudo através dos textos de Nuno Afonso, a questão do novo Acordo Ortográfico. Os seus argumentos mereceram alguma resistência, no que respeita à questão de que «o novo acordo ortográfico beneficia apenas outros países de língua portuguesa... Brasil, por exemplo» (texto de leitor, identificado como Manuel, no Fórum Digital), ou de que a mudança seria demasiado repentina (argumento na discussão interna adiantado por Filipe Cerqueira): «Até ao 12º Ano fui educado a escrever "à maneira antiga", em que existem as consoantes mudas. Só neste ano de escolaridade é que, "de repente", o Ministério mostrou vontade que todos os alunos passassem a escrever de outra forma, com mudanças em algumas palavras, práctica por exemplo, e na utilização de algumas denominações sobre sintaxe, ou seja, como nos referirmos às partes integrantes de uma frase/oração (...)».

    Outra questão ainda é a da forçada simplificação (ainda Filipe Cerqueira): «(...) Diz-se que é para melhor compreensão da língua falada, maior aproximação das outras nações de língua portuguesa. Só não compreendo como é que os Ingleses não se lembraram disto mais cedo, eles que têm palavras como "colo(u)r" (...)».

    Já A. Álvaro Sousa levanta mais questões, algumas delas invocando mesmo as questões controversas que atravessaram a História: «(...) a) É uma pena que o português de Portugal ceda às variações introduzidas no Brasil pela via da imigração, defendidas pelos modernistas de 1922; b) É lastimoso invocar que a uniformização é feita em nome de uma maior quantidade de pessoas que a adoptarão, esquecendo que o inglês de Inglaterra não é rigorosamente o inglês dos Estados Unidos da América e, nem por isso, uns e outros até hoje se lembraram de alterar as respectivas grafias, nem se conhecem queixas de dificuldade de comunicação entre estes dois povos pelo facto de haver diferenças; c) Mais de lamentar é o facto de os brasileiros apenas terem de proceder a alterações da ordem do 0,5%, enquanto que as modificações da nossa grafia triplicarão aquela percentagem (1,6%); Pelo nosso lado, deveríamos ter pouca pressa em acelerar as alterações e aproveitar todo o tempo concedido de 6 anos para ver o que os outros países irão fazer; Quanto à atitude a tomar pela "A Voz de Ermesinde", já se percebeu a minha opinião: deveríamos adoptar a nova grafia, mas apenas no primeiro número do ano de 2015 se, até lá, não houver qualquer modificação ao actualmente estabelecido pelos Estados (...)».

    No mesmo Fórum Digital, Nuno Afonso escreveu: «O Acordo foi assinado em 1990, aprovado na Assembleia da República no ano seguinte e vai sendo posto em prática aos poucos. Há órgãos de Comunicação Social que já adoptaram a nova ortografia há mais de um ano. Nas escolas deverá ser obrigatoriamente "ensinado" a partir do próximo ano lectivo. Parece-me um tanto inútil esta discussão. A minha opinião ficou expressa nas crónicas que publiquei neste jornal a 28/02//10, a 15//03/10 e a 30//03/10 [todos eles se podem ainda encontrar nos referidos jornais, na redacção de “A Voz de Ermesinde”, ou na net, em http://www.avozdeermesinde.com/index.asp?idEdicao=184 e o mesmo para 185 e 186.

    Sou a favor e tenho a certeza de que o tempo me dará razão. A maioria das opiniões contra o Acordo parte de pressupostos incorrectos, como confusões com a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário), conceito de propriedade em relação à Língua, nacionalismo deslocado e quejandos. Como dizia Voltaire no século XVIII, "não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito que tens de dizê-lo". Por mim, que sou professor de Língua Portuguesa,entendo que o acordo deveria ter sido discutido, aprovado e ratificado há mais de um século. Talvez se tivessem evitado prejuízos irreversíveis para um idioma dos mais falados (e escritos) no mundo, como seja a fractura do idioma português em dois ou até mais no futuro».

    ENCONTROS

    E DESENCONTROS

    De facto, a Língua Portuguesa teve uma escrita de cariz etimológico só até aos finais do século XIX.

    Alguns dos argumentos contra o actual acordo insistem precisamente na necessidade de conservar essa fidelidade, apontando até exemplos – no caso da queda das consoantes mudas, a alteração que mais polémica tem provocado –, de palavras que, em várias línguas conservam o c antes do t, que agora irá cair, como em acteur (Francês), actor (Espanhol), actor (Inglês), Akteur (Alemão), fiéis ao Latim actor, ao contrário do Português do Acordo Ortográfico, ator.

    Mas na verdade, não foi o Acordo Ortográfico que impôs essa diferenciação, ela foi-nos trazida pela prória vivacidade e especificidade da Língua Portuguesa (falada), que ao contrário de todas as outras referidas, não pronuncia o referido c, antes do t. O Acordo não faz mais do que consagrar essa especificidade da nossa Língua, que não é como as outras... e tal não é por culpa do Acordo.

    Um outro argumento é o da subalternidade de Portugal ao Brasil na definição da grafia da sua Língua comum, o Português, mas também nisto temos que ser justos e imparciais, se é verdade que agora, uma parte pequena dos falantes de Português (nós, Portugueses) altera mais a sua grafia do que outros (no caso a esmagadora maioria dos falantes, porque a Língua já não é só nossa, mas de todos os que a falam), no passado, nem sempre foi assim e foram os Portugueses que, até unilateralmente, impuseram modificações, como aconteceu em 1911, com a Primeira Reforma Ortográfica introduzida pela República, na tentativa de uniformizar e simplificar a Língua (embora o Brasil também tivesse introduzido simplificações em 1907).

    De resto, acordos e tentativas de acordo não são de hoje, e sempre se entendeu o seu interesse. Em 1915 a Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a sua escrita com a portuguesa; mas volta atrás em 1915.

    Em 1924 começa a discutir--se uma grafia comum e, em 1929, em consonância, a Academia Brasileira de Letras altera as regras da escrita. Em 1931 é aprovado o primeiro Acordo Ortográfico, no sentido de simplificar e aproximar as duas grafias, mas o acordo não vai ser posto em prática, embora se chegue, em 1943 a um Formulário Ortográfico resultante de uma Convenção.

    Em 1945 um novo Acordo Ortográfico entra em vigor em Portugal, mas o Governo brasileiro não o ratifica. Contudo, em 1971, o Brasil promulga diversas alterações que reduzem as suas divergências de grafia para com Portugal.

    Um novo projecto de acordo é elaborado em 1975 pela Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, mas a proposta dos estudiosos e filólogos esbarra com a recusa dos políticos.

    E finalmente, em 1990, depois de um acordo falhado em 1986, a Academia de Ciências de Lisboa convoca um novo encontro e as academias portuguesa e brasileira elaboram a base do actual Acordo Ortográfico.

    AS PRINCIPAIS

    ALTERAÇÕES

    1) Para além da queda das consoantes mudas (como na referida palavra actor/ator), como já dissemos, a alteração mais contestada, o Acordo altera:

    2) O número de letras no alfabeto, que agora passa a ser de 26 (introdução de w, k e y, que aliás surgiam já em muitas palavras aceites na nossa comunicação comum);

    3) A escrita com minúscula dos dias da semana, meses, pontos cardeais (dantes escreviam-se os meses com maiúscula mas os dias da semana com minúscula!, havendo agora uma maior coerência);

    4) A não acentuação gráfica de palavras – nos verbos da segunda conjugação, terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou conjuntivo, como em creem, deem, leem, veem, reveem; – nas formas acentuadas do verbo arguir (a grafia brasileira perde o trema); – nas palavras graves com ditongo oi, como em asteroide, heroico, jiboia (mas antes já não se acentuavam comboio e dezoito, por exemplo!, outra questão de introdução de um princípio coerente; – nas palavras graves homógrafas, como em para (parar) e para (preposição) pelo (pelar) e pelo (substantivo).

    5) A supressão do hífen nas palavras compostas – nas palavras com prefixo terminado em vogal e elemento seguinte começado por r ou s, como em autorrádio, contrarelógio, semirreta; na ligação da preposição de com formas monossilábicas do verbo haver, como em hei de, hás de; nas palavras com prefixo terminado em vogal e elemento começado por vogal diferente, como em autoestrada, plurianual, infraestrutura.

    Mas continuando a usar-se o hífen – nas palavras com prefixo terminado em vogal e elemento seguinte começado pela mesma vogal, como em contra-almirante, micro-ondas; e nas palavras que designam espécies da fauna e flora, como couve--flor, boi-almiscarado.

    6) A possibilidade de dupla grafia – nos casos em que as palavras se pronunciam diferentemente no caso das consoantes mudas, como em contactar (Portugal) e contatar (Brasil) ou contracetivo (Portugal) e contraceptivo (Brasil); – nos verbos regulares da primeira conjugação, em que a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo se acentua, ao contrário da primeira pessoa do plural do presente do indicativo (andámos, andamos; passeámos, passeamos), em Portugal, ao passo que no Brasil não há diferença de escrita (andamos, andamos; passeamos, passeamos); – a primeira pessoa do plurar do presente do conjuntivo no verbo dar, que na forma portuguesa se distingue da primeira pessa do plural do pretérito perfeito do indicativo (demos, dêmos), distinção gráfica que não existe na forma brasileira.

    Claro que também parecem existir algumas inconsistências, pelo menos elas são aparentes, como em pôr (verbo) e por (preposição), que continuam a grafar--se de forma diferente e – estamos em crer – mais cedo ou mais tarde as diferenciações verbais no Português de Portugal também acabarão por cair.

    Provavelmente, nos primeiros tempos de utilização da norma do Acordo “A Voz de Ermesinde” cometerá alguns erros, pelo que apelamos desde já à benevolência e à atenção dos leitores, a quem pedimos que no-los assinalem e ajudem. Mas faremos – isso prometemos – um esforço para ser correctos (isto é, a partir do próximo número de “A Voz de Ermesinde” deveremos dizer que faremos «um esforço para ser corretos»).

    Por: LC

     

     

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