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    Arquivo: Edição de 30-03-2011

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde

    Esta localidade conhecia, nos finais do século XIX e no princípio do século XX, condições óptimas para enveredar pelo caminho da industrialização: dispunha de duas linhas ferroviárias (do Douro e do Minho), situava-se próxima da importante e dinâmica cidade do Porto e nela residiam personalidades de carácter suficientemente enérgico para se envolverem em investimentos no sector secundário. A fábrica de que hoje vamos falar foi uma das mais emblemáticas cuja fundação e direcção se ficou a dever a grandes republicanos.

    Fachada da Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde
    Fachada da Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde
    A Fábrica de Fiação e Tecidos de Sá (Ermesinde) é, efectivamente, um bom exemplo deste tipo de unidades fabris que então se fixou em Ermesinde.

    Fundada nos princípios do século XX, no lugar de Sá, logo se afirmou como uma das mais importantes unidades industriais de Ermesinde, pela sua vastidão, instalações, quantidade de operários e, sobretudo, pela qualidade e perfeição dos seus artigos de então: panos crus, panos famílias e cotins.

    A referida unidade fabril é uma das mais antigas da cidade. Segundo algumas fontes, esta fábrica terá arrancado a laboração com 255 trabalhadores, dos quais 155 eram homens e os restantes, mulheres. Esteve em laboração quase um século. Terá sido no ano 1928, que o conhecido industrial portuense, Manuel Pinto de Azevedo, a terá adquirido juntamente com a Fábrica de Tecidos Aliança, de Rio Tinto.

    O seu primeiro sócio gerente foi o ilustre ermesindense e convicto republicano Amadeu Vilar. Homem enérgico, foi autarca (Regedor, Presidente da Junta e Administrador do Concelho de Valongo) e empresário. Com objectivos eminentemente sociais, fundou uma padaria na fábrica destinada exclusivamente ao fornecimento de pão aos operários e criou também uma cooperativa de consumo, onde eles poderiam abastecer-se dos géneros de primeira necessidade, a preços muito mais baixos que os do circuito comercial normal. Foi por sua iniciativa que se fez uma primeira ampliação da fábrica para melhor corresponder ao aumento da produção que se ia registando de ano para ano, e que se criou uma cantina, mais uma vez destinada aos operários.

    Sucedeu-lhe na gerência desta importante unidade fabril o também ilustre ermesindense Luís Soares.

    No seu tempo a fábrica ganhou uma tal dimensão e valor, que as doze Companhias Seguradoras da Empresa tinham sede em Londres e o pagamento dos respectivos prémios era feito em libras esterlinas, através de cheque. As Seguradoras que em 1947 garantiam, colectivamente, a responsabilidade de um pagamento de 163 000 libras a esta unidade fabril, em caso de incêndio ou queda de raio, eram as seguintes: World Marine, Garantia, Legal & General, Caledonian, Guardian, Tranquilidade, Eagle Star, Legal Insurance, Phoenix, Alliance, Palatine e Royal Insurance.

    A lista descritiva que constava do contrato do Seguro, discriminava os seguintes elementos: edifício principal; pára-raios no edifício principal; átrio; consultório médico; casa do porteiro; dobragem e armazém de tecidos; escritório da gerência; depósito de acessórios; escritório da fábrica; depósito de fio, acessórios e lubrificantes, oficina de electricista e de solaineiro; tecelagem (220 teares); fiação; preparação da tecelagem; gomagem; preparação da fiação; depósito de algodão; refrigeração; cabine de transformação; força motriz; caldeiras; arrecadação; forja; serralharia; tinturaria e depósito de farinha para gomas; carpintaria; extracção de água e soldadura a autogénio; armazém de sucata; bomba de incêndio; depósito de tintas; arrecadação; depósito de desperdícios; sentinas e balneário; lavatórios; moagem; depósito da moagem; depósito de óleos e gasolina; habitação, cozinha e refeitório; e chaminé das caldeiras.

    Por este importante documento que descobrimos na Biblioteca Nacional (Lisboa), foi possível saber também os especiais cuidados que eram tidos pela administração da fábrica para evitar os incêndios que, como sabemos, ainda em tempos muito próximos ali ocorriam com alguma frequência, apesar dos edifícios serem construídos, já na década de quarenta, de pedra e cal, cobertos de telhas e vidro e com pisos de cimento. Efectivamente, a Fábrica de Fiação e Tecidos dispunha de uma moto-bomba com motor de quatro cilindros, acoplada a uma bomba centrífuga de incêndio, mangueiras, agulhetas, escadas, acessórios e extintores químicos; no terreno da fábrica existem três poços privativos da mesma, e dentro da fábrica existiam bocas de incêndio com as competentes mangueiras, alimentadas por uma bomba a vapor. A iluminação já era eléctrica em toda a fábrica, a limpeza geral era feita semanalmente e as secções mais perigosas estavam isoladas das restantes secções da fábrica, com dois guarda-fogos e porta de ferro.

    Em 1966 foram aprovados os novos Estatutos da Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde, SARL, e publicados no Diário do Governo, n.º 188, 3ª série, de 13 de Agosto de 1966, onde, de acordo com o artigo 4º, o seu principal objectivo é a «fiação e tecelagem de algodão e outras fibras têxteis».

    Em Maio de 1964, nova declaração e lista discriminativa para 13 Companhias de Seguros, ainda sediadas em Londres, mas agora com valores fixados em escudos. As Seguradoras assumiam colectivamente uma responsabilidade avaliada em 22 mil e 500 contos, a que correspondia um prémio anual de 77 463$20.

    Presentemente a Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde já se encontra desactivada, mas seria bom que se encontrasse uma solução que passasse pela preservação do histórico edifício, ou pelo menos da sua fachada, e se tivesse como modelo o mesmo que se fez com a antiga Fábrica de Cerâmica, junto à Estação.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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