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    Arquivo: Edição de 28-02-2011

    SECÇÃO: Editorial


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    Festejar para lembrar

    Comemora-se no próximo dia 8 de Março o dia Internacional da Mulher, dia que assinala a luta das mulheres pela redução do horário de trabalho e por melhores salários.

    As mulheres tinham chegado ao mundo do trabalho das indústrias criadas pela revolução industrial, muito mal tratadas com horários de trabalho de 16 horas e salários que chegavam a ser equivalentes a um terço do mesmo trabalho executado por homens, mas mesmo assim com força para lutar.

    Porque hoje já adquirirmos alguns dos direitos básicos em termos de igualdade de género é bom lembrar que muitas mulheres ao longo dos anos lutaram por eles.

    O aparecimento de movimentos feministas na Europa, com especial enfoque em França, depressa se espalhou pelo resto da Europa e Portugal não foi excepção.

    Por cá, em 1897, é constituída a Federação Socialista do Sexo Feminino. Daí até aos nossos dias foram surgindo lutas e organizações onde por vezes se equaciona o “feminismo”.

    Manuela Tavares, fundadora da UMAR, considera que o “feminismo” ainda hoje assusta e arrasta consigo toda uma carga considerada por muitos negativos e radical. Na verdade «o “feminismo” esconde um mosaico de situações diferentes, muito afastadas de um conjunto homogéneo, sendo que a aparente comunhão de ideologias sob a bandeira do feminismo esconde a variedade de feminismos». (1)

    Em Portugal as mulheres estiveram e estão em todas as frentes de luta pela liberdade, democracia e igualdade.

    É curioso verificar como a luta das mulheres em períodos de ausência de liberdade se organiza em torno dos problemas gerais do país, como durante a luta antifascista dos anos 50 e 60.

    Lembro aqui Maria Lamas, jornalista incansável, que percorreu este país e analisou como ninguém a vida da mulher portuguesa da sua época, e o seu livro “As Mulheres do meu País”: «As mulheres estão sempre à frente de todos os protestos, desde que pressintam a ameaça de um agravamento nas condições já tão precárias do seu viver. Elas sabem quanto lhes custa o granjeio do seu pão. E exprimem-se nesses casos com firmeza, um desassombro que transfigura». (2)

    Os anos 60 foram um marco importante na emancipação da mulher, mas tudo chegou tardiamente a Portugal. No entanto as mulheres envolveram-se em várias lutas, entre elas as estudantis, pela primeira vez foram parar aos calabouços da PIDE grupos de raparigas estudantes. «(…) Cerca de 90 raparigas são presas. Um número surpreendente dado que poucas são as que têm autorização para sair à noite (…). Encerradas em espaços exíguos, com um buraco no chão a servir de sanita e uma só torneira, as estudantes são obrigadas a deitar-se em turnos para poder descansar». (3)

    Nos anos 70 o Movimento Democrático de Mulheres lança no dia 8 de Março um protesto contra a Guerra Colonial. Helena Neves, então dirigente do MDM escreve sobre essa época:

    «As mulheres estão fartas. Fartas de agitar os brancos lenços no cais, de amortalhar de negro os corpos jovens ansiosos, pulsando desejo. Fartas das linhas transparentes, dos horizontes solitários da terra e do mar, dos dias e das noites. Fartas das esperas e dos choros. Fartas da insegurança, do medo». (4)

    Em 1972 são publicadas as “Novas Cartas Portuguesas”, que foram confiscadas pela PIDE. Todo este processo criou grande polémica no país e no estrangeiro. Hoje as “Novas Cartas Portuguesas” são objecto de estudo nas universidades.

    O 25 de Abril abriu as portas à participação da mulher, «as mulheres operárias adquiriram uma cidadania no trabalho, até aí desconhecida». (5)

    Sugiram novas organizações e as mulheres envolveram--se nas lutas sociais e politicas, e continuam activas contras a exploração da mulher, reivindicando os seus direitos.

    Hoje as mulheres estão presentes na política, nas empresas, no ensino superior, nas chefias de empresas e organizações, no poder local, mas ainda há uma longa caminhada por percorrer.

    (1) Anne Cova, citação de Manuela Tavares em “Feminismos”.

    (2) Lamas, 2002:26, citada por Manuela Tavares em “Feminismos”.

    (3) Lourenço, Costa, Pena, 2001:62-63, citado por Manuela Tavares em “Feminismos”.

    (4) Helena Neves, citada por Manuela Tavares em “Feminismos”.

    (5) Maria de Lourdes Pintasilgo, citada por Manuela Tavares em “Feminismos”.

    Por: Fernanda Lage

     

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