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    Arquivo: Edição de 30-12-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Luís Marques de Sousa e José Ferreira dos Santos

    Hoje divulgamos os dados biográficos de mais dois ilustres ermesindenses que se notabilizaram no período da 1ª República. Luís Augusto Marques de Sousa foi figura de grande destaque em Ermesinde, Valongo e no Porto, onde fundou e dirigiu o Centro Comercial do Porto, no período da 1ª República. Recusou-se a aceitar o convite para deputado mas fez parte do 1º executivo republicano da Câmara de Valongo, como seu Vice-Presidente. José Ferreira dos Santos teve uma adolescência atribulada, dividida entre Portugal e a França. Fixando-se definitivamente em Portugal após o desencadear do 1º conflito mundial, aqui serviu, como dirigente, várias colectividades ermesindenses, tendo fundado mesmo, durante a 1ª República, o Centro Musical e Recreativo de Ermesinde.

    Igreja paroquial de São Lourenço D' Asmes
    Igreja paroquial de São Lourenço D' Asmes
    Estimadíssimo em Ermesinde, onde residiu a maior parte da sua vida, Luís Marques de Sousa foi um dos mais prestigiados comerciantes do Porto, nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX.

    Quando se implantou a República em Portugal fez parte da 1ª Comissão Municipal Republicana, como Vice--Presidente. O novo executivo camarário era ainda constituído pelas seguintes personalidades: Dr. Joaquim Maia Aguiar (Presidente da Comissão e Administrador); Vicente Moutinho de Ascensão, Jacinto Fernandes de Oliveira e Augusto Dias Marques de Oliveira (Vogais).

    Luís Augusto Marques de Sousa foi ainda um dos sócios fundadores da prestigiada agremiação “Centro Comercial do Porto”, cujas direcções serviu, quando foram presididas por outros comerciantes afamados como foram Ezequiel Vieira de Castro e Bernardino Azevedo Vareta. Em 1913, seria mesmo eleito, por unanimidade, para Presidente da Direcção do “Centro Comercial do Porto”. A sua gestão foi tão bem sucedida, que acabou por ser reeleito sucessivamente.

    No campo político chegou, por mais de uma vez, a ser convidado para se candidatar a Deputado pelo Porto, a Vereador para a Câmara do Porto e a Mesário da Santa Casa da Misericórdia, mas recusou todos estes convites.

    Dedicou-se por inteiro ao comércio, e durante mais de vinte anos foi o representante da importante empresa “Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela”.

    De esmerada educação e dono de notável eloquência que teria feito dele, sem dúvida, um político bem sucedido, Marques de Sousa mostrou-se sempre modesto e comedido, grande amigo da sua família e da sua terra.

    Marques de Sousa foi um dos ermesindenses que sempre pugnou pelo progresso de Ermesinde. A título de exemplo, refira-se que ele foi um dos que mais se preocupou com o prolongamento da linha do eléctrico, entre Águas Santas e Ermesinde, contribuindo com uma elevada quantia para a subscrição que então aqui se levou a efeito e cujo primeiro nome foi precisamente o seu.

    José Ferreira dos Santos nasceu em Ermesinde, no dia 1 de Outubro de 1897, e faleceu, também em Ermesinde, no dia 29 de Novembro de 1958, com 61 anos de idade.

    Foi baptizado no dia 10 de Outubro, 9 dias após o seu nascimento.

    No seu registo de baptismo, que tivemos oportunidade de consultar, consta o seguinte:

    «Aos dez dias do mez de Outubro do anno de mil oitocentos noventa e sete n’esta Egreja parochial de São Lourenço D’Asmes, concelho de Vallongo, Diocese do Porto baptisei solennemente um individuo do sexo masculino a quem dei o nome de José e que nasceu n’esta freguezia no logar d’Ermezinde ás tres horas da manhã do dia primeiro do mez de Outubro do anno de mil oitocentos noventa e sete filho legitimo de Domingos Ferreira dos Santos, e Albina Ferreira do Cazal, lavradores, naturaes elle d’esta freguezia de São Lourenço d’Asmes, concelho de Vallongo, e ella da de Aguas Santas, concelho da Maia, onde foram recebidos, e são parochianos d’esta d’Asmes, moradores no referido logar d’Ermezinde, neto paterno de Antonio Ferreira dos Santos e Maria Ferreira Pinto, e materno de Manuel Alves Paço e Maria Ferreira do Cazal. Foi padrinho José Ferreira do Valle, casado, trolha e madrinha Joana Mendes, casada, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar, se lavrou em duplicado este assento, que, depois de ser lido e conferido perante os Padrinhos comigo assignou o padrinho não assignando a madrinha por não saber escrever. / José Ferreira do Valle / O coadjutor P.e José da Silva Lima». Tem à margem uma nota referente ao seu casamento: «Casou com Maria Amélia Pereira dos Santos, no dia 6 de Maio de 1926, no Posto de Ermesinde de Registo de casamento, n.º 90 desta Conservatória. Valongo, 30 de Novembro de 1958. A Conservadora [assinatura ilegível]»; e outra referente ao seu falecimento: «Faleceu no dia 29 de corrente mês. Registo de óbito n.º 378 desta Conservatória. Valongo, 30 de Novembro de 1958. A Conservadora [assinatura ilegível]».

    Aos 12 anos, José Ferreira dos Santos entrou no Seminário da Formiga, que frequentou até à implantação da República. Depois, e em virtude dos problemas que se geraram entre a Igreja e o Estado, foi para França, onde frequentou o Seminário de Saint Pé de Bigorre, nas proximidades de Lourdes. Mais tarde, foi transferido para o Seminário de Chevilly-par-L'Hay, perto de Paris, como irmão auxiliar das missões.

    Porém, algum tempo depois deflagrou a Primeira Guerra Mundial, os alemães invadiram a França e o governo parisiense transformou o Seminário, onde se encontrava José Ferreira dos Santos, em Hospital Militar, não tendo ele outra alternativa senão regressar a Portugal, pelos seu próprios meios, contava então 17 anos.

    Abandonada a carreira religiosa, pelas complicações da Guerra na França, e pelo clima adverso em Portugal, entrou nos quadros do Banco Nacional Ultramarino, do Porto, ao tempo dirigido por um francês, que o admitiu em virtude dos seus bons conhecimentos da língua francesa. Trabalhou sempre na secção de correspondência, que chegou a chefiar. Reformou-se em 1950, por motivo de doença, pois fora atacado pela tuberculose. Cinco anos mais tarde sentindo-se curado, quis voltar a Lourdes, para matar saudades e talvez para agradecer a cura a Nossa Senhora. Contudo, a morte acabaria por o levar, ainda relativamente novo, em 1958, quando ainda poderia dar muito de si à terra onde nasceu e de que sempre se mostrou muito amigo.

    Juntamente com seus irmãos, sobretudo com Serafim Ferreira dos Santos, mostrou-se particularmente dinâmico, ao serviço de várias instituições de Ermesinde. Foi co-fundador, em 1916, do Centro Musical e Recreativo de Ermesinde (vocacionado para a música e canto religioso, mas também para o teatro); presidente da Comissão do Culto de Santa Rita; e ainda dirigente dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, da Casa do Povo, da Sopa dos Pobres, do Grupo 22 do Corpo Nacional de Escutas, do Ermesinde Sport Clube e da Confraria do Santíssimo Sacramento. Fez também parte da Comissão de Festas do Menino Jesus, do Grupo Coral de S. Lourenço e da Comissão de União dos Antigos Alunos da Formiga, exercendo, nos respectivos encontros anuais, as funções de esmerado fotógrafo.

    Este ilustre ermesindense, de quem haveria ainda muito a esperar, faleceu com apenas 61 anos, vítima de uma doença grave e foi a enterrar no dia 1 de Dezembro de 1958.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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