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    Arquivo: Edição de 10-10-2010

    SECÇÃO: Arte Nona


    A Fórmula da Felicidade

    Editada pela Kingpin Books, “A Fórmula da Felicidade” – obra em dois tomos da autoria de Nuno Duarte (argumento) e Osvaldo Medina (desenho) – viu o seu primeiro número ser nomeado, conforme ostenta a capa do segundo volume, para os Prémios Nacionais de Banda Desenhada atribuídos no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora em 2009, nas categorias de Melhor Álbum, Melhor Argumento e Melhor Desenho.

    Õ segundo volume agora editado, com data de Março de 2010, vem confirmar a sua qualidade em termos de argumento e de desenho. O experimentado argumentista conta no seu curriculum, por exemplo. Quanto a Osvaldo Medina, cabo-verdiano de nacionalidade, é o autor de “Mucha”, obra também já editada pela Kingpin Books, mas num registo de terror, a preto e branco.

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    A estória – cujas personagens são desenhados com formas antropomórficas de diversos animais – passa-se algures, no espaço de uma cidade, que podia muito bem ser Lisboa, no campo, que podia muito bem ser o Alentejo, ou nos subterrâneos habitados de uma cidade, à imagem das entranhas dantesca de Nova Iorque. Só que aqui, e à semelhança de muitas outras distopias, o lugar infernal do subterrâneo é, afinal, lugar de resistência e redenção.

    No prefácio que escreveu para o livro – “No tempo em que os animais falavam” –, Filipe Homem Fonseca escreve: «O tempo em que os animais falavam é hoje (...). Porque os animais deste livro são do mais humano que me foi dado conhecer, embrenhados numa busca que é a do nosso quotidiano, a da felicidade, que é mais fácil procurar quando pensamos resumir-se a uma fórmula, a algo imutável e transcendente que, mesmo assim, é sinónimo da nossa individualidade, da concretização de objectivos muito nossos, que nos distinguem da manada (...)».

    O herói da estória é Victor, tornado uma personagem mediática a partir do momento em que, num rasgo de iluminada inspiração, descobriu a fórmula matemática da felicidade.

    Mas, ao invés de crescer em autonomia, Victor torna-se o joguete daqueles que o usam, como vedeta e chamariz, para a sua própria manipulação de massas.

    Frágil, sozinho, em busca das suas raízes familiares, rejeitado pelo pai quando o encontra, ele não passa de um pobre diabo, de um anti-herói, mesmo que todos se curvem à sua passagem, mesmo que as mulheres o sirvam ou finjam servir.

    E é fora dos holofotes que se reencontra.

    Além do argumento muito interessante de Nuno Duarte, destaque-se o desenho de Osvaldo Medina, muito expressivo na representação das atitudes e reacções humanizadas das várias personagens que vão roubando as formas a leões, hienas, cabras, ratos, linces, tigres, sapos, gorilas, cães e gatos, etc., etc., etc., em que consegue o notável compromisso de, sem lhes roubar a identidade zoológica, lhes emprestar uma riqueza de emoções, sentimentos e poses de facto muito expressivas, pertinentes e conformes com a narrativa.

    As cores aguareladas são de Gisela Martins (com Ana Freitas, Patrícia Furtado, Sara Ferreira e Filipe Teixeira) sobre a pena de Osvaldo Medina, a legendagem, design e edição da responabilidade de Mário Freitas. As cores da capa são de Jorge Coelho.

    Sem que possamos considerá-la uma obra--prima, reconhecemos aqui um exemplar conjunto de competências e talentos que não são vulgares na Banda Desenhada portuguesa (cremos que Osvaldo Medina, cabo-verdiano nascido em Angola, mas cuja vida decorre desde pequeno em Portugal, não se ofenderá com esta referência a um panorama nacional “português”.

    Quanto a Nuno Duarte, e para além de outras áreas da escrita e guionismo (já referimos o “Inimigo Público”, mas ressalte-se ainda “Manobras de Diversão”, “Bocage” e “Liberdade 21”), também na área da criação gráfica narrativa tem créditos firmados, tendo sido autor de séries de animação como “Anjinho da Guarda” e “Turno da Noite”, e autor de argumentos para BD como “Paris Morreu”, ou ainda em antologias como “Quebra Queixo – Technorama”, “Mutate and Survive” e “Mesinha de Cabeceira Popular”.

    De parabéns a Kingpin Books, que já publicou, além das referidas “A Fórmula da Felicidade” e “Mucha” (David Soares/Osvaldo Medina//M. Freitas, “Tx Comics” (Cameron Stewart/K. Kerschl/R. Pérez) e ainda várias edições de “C.A.O.S.” e de “Super Pig”.

    Por: LC

     

     

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