Deputado José Soeiro explicou a política do Bloco de Esquerda em sessão na Vila Beatriz
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Fotos URSULA ZANGGER |
O deputado bloquista José Soeiro esteve, na noite do passado sábado, 2 de Outubro, na Sala da Lareira da Vila Beatriz, para uma sessão em que procurou explicar a política do partido na presente conjuntura económica.
Elíseo Pinto Lopes, que foi candidato à presidência da Câmara pelo Bloco, também presente na mesa da sessão, iniciou as intervenções fazendo uma resenha das propostas do partido na política local e de qual o seu acolhimento.
Criticou a política assistencialista, de medidas avulsas, levada a cabo pela Câmara e, dados os condicionalismos financeiros que tolhem a edilidade, exprimiu temer «uma calamidade em termos de política social».
Seguiu-se-lhe no uso da palavra o deputado José Soeiro. Começando por referir a grafia da palavra crise em mandarim, composta pelos dois caracteres que significam “perigo” e “oportunidade”, o jovem deputado passou à análise das novas medidas propostas pelo Governo, o chamado PEC III.
Soeiro comentou que as medidas propostas pela OCDE só vêm agravar a crise social e que o apontado papão do FMI não serviu mais do que para parecerem inevitáveis as decisões agora tomadas pelo Governo.
Recusando que estas medidas fossem sequer aceitáveis, o deputado deu o exemplo da senhora de 76 anos que estava numa fila desde as seis da manhã para poder pedir uma senha e poder justificar o pequeno apoio que recebia para o pagamento da sua renda da casa.
Resumindo, o deputado apontou esta política como uma das maiores transferências directas de que há memória do rendimento dos salários para o capital, nomeadamente o capital financeiro.
E precisou, quanto à distribuição dos sacrifícios pedidos a “todos”: em 10 euros, 6 eram pagos pelos trabalhadores, 3 pela redução das despesas do Estado (grande parte resultante dos cortes nos serviços públicos e apoios sociais), e apenas 1 euro seria pago pelas empresas e pela banca.
E dando ainda mais exemplos de que as medidas tomadas representam uma escolha clara num dado sentido e não uma inevitabilidade, apontou que o congelamento das pensões representava um valor idêntico ao de um dos submarinos recentemente adquiridos.
Outro exemplo: o negócio da PT com a Vivo, no Brasil, só em mais-valias, tinha gerado 3 700 milhões de euros não sujeitos a imposto. O Bloco de Esquerda tinha proposto a taxação de 25% deste negócio, o que representaria cerca de 900 milhões de euros – o equivalente ao montante alcançado com o aumento dos 2% de IVA decidido pelo Governo.
José Soeiro lembrou ainda o montante de 12 mil milhões de euros todos os anos transferidos para off--shores e apontando um outro exemplo significativo, revelou que a empresa que exporta mais em Portugal pôde declarar que tem quatro funcionários (!) e não paga impostos!
Instalou-se a ideia de que o horror económico era a única solução para a crise económica, contestou. Mas isto podia ser de outra forma, apontou o deputado, criticando que a crise gerada pelo capital financeiro tivesse que ser paga pelos trabalhadores e os excluídos.
O ano 2010 foi designado como o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, precisamente o ano em que se agravam as políticas de exclusão social!
E passando à crítica do saber de dezenas de especialistas económicos, perguntou: Para que servem estes economistas que não querem saber o que é que isto implica em termos de condições de vida das pessoas?
Quem é que elegeu os mercados financeiros, que pôem e dispõem das nossas vidas, e porque é que um Governo (eleito) só responde perante os mercados financeiros?
Como é que os mercados financeiros ameaçam os países – explicou o deputado –?,porque o Banco Central Europeu não empresta dinheiro aos países, mas só aos bancos privados (a 1% de juros). Os bancos privados, por sua vez, criam agências privadas de rating intrinsecamente ligadas (todas elas) à banca e ao capital financeiro.
Os bancos depois emprestam a Portugal, mas agora a 6,6% de juros! O Bloco de Esquerda defendeu que o Banco Central Europeu passasse a emprestar dinheiro directamente aos países.
Passando depois à crítica da Direcção socialista, José Soeiro acusou este Governo de já não representar qualquer ideia de social-democracia.
A CANDIDATURA
DE ALEGRE
E, respondendo a algumas questões de militantes presentes, repudiou qualquer ideia de quanto pior melhor. Quanto pior as pessoas se sentirem tanto menos serão capazes de reagir.
Compete ao Bloco de Esquerda e aos movimentos sociais a mobilização das vontades, defendeu o deputado, que introduziu depois, também em resposta a algumas questões dos militantes, as razões do apoio do Bloco de Esquerda à candidatura presidencial de Manuel Alegre.
Fazendo questão de frisar bem que Manuel Alegre não é nem seria do Bloco de Esquerda (BE), e que haveria sempre diferenças com ele, era preciso também reconhecer que o BE tinha com ele muitas convergências pontuais. Por exemplo, Manuel Alegre, embora ligado ao PS, tinha protestado contra as medidas do PEC III, falando da necessidade de uma política de emprego e contra o perigo da recessão.
O BE tinha, assim, que mostrar-se como uma forte alternativa à base tradicional do Partido Socialista, descontente com a política do Governo actual.
O Bloco teria somado esquerda à esquerda, ao contrário do partido Comunista Português, que nunca revelou capacidade de ir buscar esta base do PS.
Esta era a responsabilidade histórica do Bloco de Esquerda e, também por isso, era tão importante o apoio à candidatura de Manuel Alegre, na realidade não desejada pelo partido Socialista, que tinha posto no terreno as candidaturas de Defensor Moura e Fernando Nobre, acusou Soeiro.
Por:
LC
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