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    Arquivo: Edição de 30-07-2010

    SECÇÃO: Crónicas


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    O meu Santo António

    Claro, vou escrever sobre o meu Santo António de quando era pequenino. Porquê? Apenas duas razões fortes:

    É na infância que temos a aquisição de conhecimentos em maior grau: eficiência e retenção na memória; as Festas de Santo António (Vila Real) serem o máximo das romarias e feiras.

    Não admira, pois, haver tantos comunicadores ou escritores a evocarem os tempos em que eram crianças. Um exemplo: Miguel Torga narra a ida ao Bazar dos Três Vinténs, em Vila Real, onde os pais lhe deram uma prenda, por ter ficado distinto no exame da 4ª Classe, feito em Sabrosa e comemorado em S. Martinho de Anta.

    Não é preciso, sabendo das potencialidades das crianças, chegar ao exagero de começar a “treinar” um atleta olímpico ou um músico aos dois, três anos! Mas, em abono da verdade, a carta de curso duma licenciatura começa no Pré-Escolar e na idade dos porquês. Portanto, o mérito do/a Educador(a) de Infância é maior do que do Professor Universitário. Os Jardins Escolares (deviam ser obrigatórios) são mais valiosos (em bem social) do que muitas Universidades. O Analfabetismo e a iliteracia foram, e ainda são, as causas seculares do atraso da nossa sociedade.

    As festas de Santo António duravam dias. Criança de Roalde, divertia-me ao ver passar a gente festiva, na ida e vinda. A situação privilegiada da aldeia dava passagem a muitos romeiros e feirantes de Além-Douro (Tabuaço ou S. João da Pesqueira). Via o pai, montado no cavalo ajaezado, e a mãe (ia a pé) dizerem adeus, no fundo do povo. Iam para Vila Real e ficavam hospedados na Pensão da Cardoa, cujo edifício era do avô Monteiro, solicitador na cidade.

    No regresso dos pais é que era a grande festa. As prendas chegavam! Os brinquedos, as fatiotas novas e os chapéus de palha (!) iam aparecer para distribuição aos quatro filhos da casa, enquanto a tia Maria ouvia falar das bandas de música, marcha luminosa, foguetes de lágrimas e números de circo. A ansiedade era tal que as tropelias ouvidas dos famosos palhaços Irmãos Campos deixavam de interessar. Óh!, as prendas chegavam: a flauta e a ocarina (cuco) de barro, pintados de tons garridos, davam sons! Até a carroça de lata tinha um cavalinho!... E o chapéu de palha? Não tive. Calhou-me um de pano branco, de rebordo até às orelhas, como agora usam os garotos na praia. O odiado quico passou a talismã. Era o único no povoado.

    As compras davam para o ano. Os animais adquiridos adoptavam bem a nova Terra. Só meia dúzia de ovelhas de lã merina, com o calor, desapareceram da Fonte do Monte, sendo encontradas , dias depois, nos montes de Fonteita!

    Vivi o Santo António com intensidade, enquanto aluno do liceu. Começava por ver a montagem das barracas, ir às verbenas do Jardim da Carreira e ao Circo, não esquecendo o Poço da Morte! Apesar de ser analfabeto musical, não faltava aos concertos da banda de Mateus (Velha) ou da de Revelhe de Fafe. E os treinos e corridas de motos e automóveis? Era um ferrinho! Os heróis não eram o Casimiro de Oliveira ou o Vasco Sameiro, era o Antoninho do Talho, mesmo que o seu Mercedes vermelho desistisse na corrida!

    Ao politeísmo grego ou romano, aprendido no liceu, opunha os meus santos, começando pelo S. Roque e Santa Maria Madalena, venerados na capela de Roalde. Conforme os preceitos religiosos vinham: Senhora da Saúde (Sousel); Senhora da Piedade (Sanfins do Douro); Senhora da Pena (Mouçós); Santa Eufémia de Cristo (Parada do Bispo-Bagauste), onde fui, com a avó Mãezinha, assim chamada por ser viúva e viver com minha mãe, cumprir promessa pela salvação de um porco.

    Os Santos do Olimpo eram dois : Nossa Senhora da Azinheira da capela do alto da Serra abençoava e o Senhor Jesus da Ermida de Provesende protegia os trabalhos agrícolas e conseguia fazer chover nas grandes estiagens! Quando desterrado, para o efeito, da sua Ermida para a Igreja de Provesende, como aluno da Escola da Terra, e ia na procissão, caíram os primeiros pingos de chuva!

    Por: Gil Monteiro

     

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