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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-05-2010

    SECÇÃO: Cultura


    A UNIVERSIDADE SÉNIOR DE ERMESINDE À PROCURA DE…

    Guerra Junqueiro e a sua Casa-Museu

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Na primeira reunião geral de alunos da Universidade Sénior de Ermesinde, ficara estabelecido de que, para além das normais actividades lectivas que estão disponíveis, os alunos usufruirão de palestras, conferências, actividades de ar livre e de visitas guiadas a instituições culturais de reconhecido interesse.

    No ano em que se comemora o primeiro centenário da Implantação da República, pareceu oportuno promover uma visita à Casa-Museu Guerra Junqueiro, já que este foi uma figura grada do republicanismo português. Escritor, poeta, político e filósofo, incorrigível coleccionador de arte, Guerra Junqueiro foi uma das mais notáveis figuras da cultura do seu tempo. Frequentemente polémico, o autor de “A Velhice do Padre Eterno” deixou-nos, todavia, páginas de grande beleza, onde a ternura escorre com prodigalidade.

    Natural de Freixo de Espada-à-Cinta, filho de um lavrador abastado e negociante de fartos recursos, Abílio Guerra Junqueiro estudou primeiro em Bragança e depois em Coimbra, onde durante dois anos frequentou a Faculdade de Teologia da centenária Universidade da Lusa-Atenas.

    Desencantado, porém, com esta Faculdade, passou então à de Direito, que terminou com o grau de bacharel. Tinha 23 anos!

    Casado com D. Filomena Neves, de quem teve duas filhas, Maria Isabel e Júlia Francisca, residiu no Porto nas Ruas da Boavista e de Santa Catarina, sempre em casas de reduzidas dimensões para a sua ânsia de coleccionador inveterado.

    O diversificado e abundante espólio que deixou, quis sua filha Maria Isabel que fosse compartilhado pelas pessoas que têm pela Cultura especial predilecção e gosto.

    Foi isso que nos levou até à sua Casa-Museu!

    DE COMBOIO

    ATÉ S. BENTO

    A manhã de 17 de Abril acordou risonha, embora com algumas nuvens choronas a fazerem prever mais alguns aguaceiros, daqueles que nos têm mortificado durante os rigorosos meses de inverno.

    Às oito e quarenta e cinco, na moderna estação de Ermesinde, nota-se a presença de um grupo que chama a atenção pela boa disposição revelada: são os seniores da USE que responderam à chamada!

    Eram 08h58, quando embarcámos com destino a S. Bento. Porque todos os momentos são bons para recordar tempos idos, Carlos Faria aproveitou os magníficos painéis de Jorge Colaço, existentes no átrio da Estação de S. Bento para uma evocação dos episódios da História de Portugal ali tratados: Egas Moniz e os primórdios do Condado Portucalense, o Infante D. Henrique e a conquista de Ceuta, Aljubarrota e a consolidação da independência nacional.

    Já cá fora, olha-se para a vetusta Sé Catedral, primeiro baluarte do burgo portucalense. Sobe-se e faz-se uma vénia à figura imponente de Vímara Peres e deixa-se o olhar correr por aquele Porto-cascata deslumbrante, com as torres de mil igrejas a rasgarem os céus e a dizerem da razão desta nobre cidade ser hoje Património Mundial da Humanidade.

    DE PALÁCIO

    DE CÓNEGO

    A ALBERGUE

    DUM MUSEU…

    A imponente fachada barroca do número 15 da Rua de D. Hugo foi durante muito tempo atribuída a um famosíssimo arquitecto, Nicolau Nasoni de seu nome.

    Hoje são outras as certezas e o risco do palacete que temos na nossa frente é atribuído ao arquitecto português António Pereira, que foi coevo de Nasoni. Foi o Cónego da Sé do Porto, o Dr. Domingos Barbosa, quem o mandou construir em 1730 e nele viveu durante anos.

    Depois dele, outras ilustres famílias portuenses por ali passaram, como, por exemplo, os Freire de Andrade, até que, por herança, foi parar às mãos do Dr. Luís Augusto Pinto de Mesquita Carvalho, casado com a filha do escritor D. Maria Isabel. Começavam, assim, a estar reunidas as condições para, finalmente, dar expressão à vontade de Guerra Junqueiro de que as muitas, raras e ricas peças que, enquanto coleccionador compulsivo, ao longo dos anos armazenara dessem lugar a um museu e pudessem ser desfrutadas pelo Povo Português.

    D. Maria Isabel deu os primeiros passos…a Câmara Municipal do Porto aceitou o desafio e o compromisso de ali instalar um museu concretizou-se para gáudio de quem o quiser visitar!

    ESMIUÇANDO

    OS QUATRO

    CANTOS

    DA CASA…

    foto
    À entrada, recebe-nos uma guia muito jovem, simpática e bem informada: Bárbara Santos, de seu nome.

    Vai-nos falando do mobiliário que encontramos ainda na área residencial durante muitos anos ocupada pela doadora D. Maria Isabel Guerra Junqueiro, chama-nos a atenção para as diferenças que distinguem o mobiliário estilo D. Maria I do de D. João V e concentra a nossa atenção nas magníficas tapeçarias que forram as paredes, não só para tornarem mais confortáveis os espaços mas também para os enriquecerem visualmente. São de origem chinesa, magnificamente bordadas a seda e ouro! Uma preciosidade!

    Então aquela tapeçaria enorme, que nos envolve no verde exuberante da Amazónia, é verdadeiramente deslumbrante!

    Há até, entre nós, quem, entre aquela espessissíma “folhagem” queira descortinar novas figuras! Um regalo para os olhos…uma riqueza para o património!

    Ao entrarmos na sala das pratas, é tempo de nos deslumbrarmos com a arte dos ourives prateiros do nosso século XVIII: são cafeteiras de formas excepcionalmente elegantes, bules, travessas e lavandas, gomis e bacias de grande beleza, salvas de vários tamanhos e apurado trabalho dos nossos cinzeladores da prata!

    Numa vitrina, pudemos apreciar dois magníficos exemplares de alfaias litúrgicas: uma pixide finamente trabalhada e um cálice de celebração, ambas as peças em prata dourada.

    Como a tenda se quer nas mãos de quem a entenda, tivemos nós a sorte de ter no grupo o senhor Adérito Martins, ourives de profissão, que logo se disponibilizou para fazer com todos uma troca de saberes. A sua formação académica fora mesmo feita nesta área, pelo que, para si, não havia ali segredos.

    Explicou como, com o torno, se repuxava a prata e depois com mil punções se fazia o trabalho precioso que ali estava patente aos nossos olhos. Uma delícia!

    Passados à sala denominada Catedral, tivemos oportunidade de apreciar as variadíssimas imagens que a povoam, de Cristos sofredores aos “Anjos Músicos”, uma bela obra da Escola Francesa do século XV, em madeira.

    Ao terminarmos a visita, todos trazíamos nos olhos a beleza do que nos fora dado observar e a satisfação de uns momentos bem vividos e culturalmente muito ricos mais a simpatia da nossa guia Bárbara Santos, ansiosa por ver chegar o dia em que ,com a USE, rume connosco a Tormes, à descoberta de Eça.

    Nós não esquecemos que o prometido é devido!

    Por: Gabinete de Imprensa USE

     

     

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