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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-05-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    A Capela de S. Silvestre esteve prestes a transformar-se em Escola

    Implantada a República, o poder local de Ermesinde intentou acabar com a Capela de S. Silvestre, alegando que a mesma estava num estado de abandono e ruína, fazendo muita falta uma escola. No final do ano de 1921, a Junta da Freguesia entrou na posse definitiva da Capela de S. Silvestre, em troca de 100$00. Contudo, organizou-se uma Comissão de Católicos que, com grandes dificuldades, conseguiu reaver este templo que, assim, se salvou.

    Foto ARQUIVO
    Foto ARQUIVO
    Tudo leva a crer que a Capela de S. Silvestre seja o mais antigo monumento de Ermesinde, ainda hoje existente, e há quem diga ter sido a primeira Igreja Matriz deste aglomerado populacional, que remonta ao tempo da nacionalidade.

    Há, no entanto, quem aponte os campos de Asmes (lugar da Fonte), como o primeiro local a ser povoado e onde se encontraria o seu primeiro templo religioso, sede de paróquia que hoje se sabe ser muito anterior ao século XVII.

    A Capela de S. Silvestre serviu – disso parece não restarem dúvidas – de Igreja Matriz à Paróquia de S. Lourenço de Asmes, conforme é revelado no Catálogo dos Bispos do Porto, em 1625, o que dá a este gracioso templo, pelo menos a bonita idade de 375 anos.

    Embora no lintel da entrada se encontre gravada a data de 1711, é de presumir que esta seja relativa a uma reconstrução deste templo, pois, embora sem certezas quanto a datas, não há dúvidas de que se trata de uma construção antiquíssima.

    O interessante templo, dos tempos em que Ermesinde era uma pequena aldeia rural dos arredores do Porto, com um recorte claramente românico, apresenta um alpendre anteposto à fachada principal, com três arcos em volta perfeita, um virado para a frente, e os outros dois no sentido Norte - Sul.

    Lá dentro a veneranda figura de S. Silvestre é o motivo da romaria que em Ermesinde se realiza quase todos os anos (ultimamente a sua realização tem sido intermitente), na altura em que a população se despede do antigo ano - 31 de Dezembro - e deseja, sob a bênção do santo padroeiro, um Novo Ano, sem fomes, sem doenças e sem guerras.

    Pequeno e acanhado nas suas dimensões, foi beneficiado, há relativamente poucos anos, com obras de restauro, e apresenta um aspecto muito cuidado e atractivo.

    NO PERÍODO

    DA PRIMEIRA

    REPÚBLICA

    A CAPELA

    DE S. SILVESTRE

    ESTEVE QUASE

    A DESAPARECER

    Já aqui tivemos oportunidade de referir o carácter anticlerical do regime republicano, pelo menos no período imediatamente a seguir à Revolução. De acordo com as actas da Junta da Freguesia, relativas a esse período, é possível concluir que a Capela de S. Silvestre esteve muito perto de desaparecer como Capela.

    Na sessão de 21 de Maio de 1911, o Presidente, Amadeu Sousa Vilar, reconhecendo a grande necessidade que havia de proteger as crianças pobres, lembrou a construção de uma creche e disse que podia ser aproveitado o terreno da Ermida, onde está a Capela de S. Silvestre, uma vez que a Capela estava num estado de completo abandono e já em ruínas.

    Este estado de abandono deve ter começado nos finais do século XIX, mais concretamente em 1892, quando o Adro da Capela de S. Silvestre foi cortado, pelo empreiteiro Domingos Marques Correia, ao construir a estrada de Ermesinde à Codiceira (via Alfena). Na altura, a Junta de Paróquia de S. Lourenço de Asmes recebeu da Direcção das Obras Públicas 38 mil réis pela expropriação do terreno retirado ao recinto da Capela.

    Na década de 1920, a Junta da Freguesia entra na posse definitiva da Capela de S. Silvestre, em troca de 100$00, tendo o Pároco sido obrigado a entregar a chave da mesma. A Junta destinou a Capela a escola primária.

    Sobre este assunto, a acta da Junta da Freguesia de 31 de Dezembro de 1921, regista o seguinte: «O cidadão presidente deu conhecimento de que, por decreto de 28 do corrente, publicado no Diario do Governo n.º 264 – 1ª serie, da mesma data, foi cedida, com o n.º 7950, a esta Junta a ermida de S. Silvestre, mediante o preço de 100$00, e a titulo definitivo, para construção duma escola. A cedencia caduca se fôr dado destino diverso á ermida, ou se as obras de adaptação não começarem no praso dum ano, a contar da data deste decreto. Em consequencia foi incluido no orçamento do futuro ano a verba precisa para pagamento da ermida e ainda a quantia de 500$00 para inicio da grande subscrição a abrir para a edificação da escola. Foi mais resolvido nomear-se uma comissão composta dum representante da Junta, que será o Presidente desta, ficando o mesmo encarregado de indicar os restantes membros, que serão submetidos a sanção da Junta.

    Foi ainda resolvido autorisar o cidadão presidente a assinar, em nome desta Junta, o contracto de cedencia e a efectuar o respectivo pagamento».

    Dois meses depois (Fevereiro de 1922), uma Comissão ofereceu à Junta uma porção de terreno contíguo ao que a Câmara possuía no lugar da Travagem, com a mesma superfície do da Capela, para aí ser construída a escola, com a condição da Capela de S. Silvestre não ser demolida. A Junta não aceitou a oferta, por não ver nela qualquer vantagem, e constituiu a Comissão encarregada da construção da Escola, que tinha os seguintes elementos: Inspector Escolar; Fábricas de Cerâmica e de Fiação e Tecidos; o Presidente e o Secretário da Junta.

    Depois de vários episódios que seria fastidioso enumerar aqui, a Capela “salvou-se” precisamente num dos dias em que habitualmente se celebra a festa a S. Silvestre – dia 28 de Dezembro. Nesse dia, do ano 1922, houve uma reunião conclusiva, de que a acta da Junta de Freguesia de 31 de Dezembro de 1922, faz menção:

    «Em resultado das demarches realizadas pela Comissão de Catholicos que ha muitos mêses tratava de oferecer a esta Junta um terreno em troca da ermida de S. Silvestre, e numa reunião efectuada no dia 28 do mês corrente, a que assistiram também os vogais desta Junta, cidadãos Artur Olimpio Fernandes e Augusto Antonio da Silva, fôra resolvido aceitar a proposta que a mesma Comissão fez de entregar á Junta, pelo menos, superficie igual de terreno que ocupa a ermida junto ao terreno que a Camara deste concelho já possue no logar do Souto, ou, no caso de impossibilidade de tal compra, a entrega da importancia correspondente a 5 escudos por m2 da superficie a adquirir. Que como resultado deste acôrdo, apresentava um oficio assinado pelo cidadão Manuel da Silva Baltazar Brites, no qual toma a responsabilidade do cumprimento do acôrdo.

    Esta deliberação foi aprovada.

    Mais informou o cidadão presidente que o cidadão Henrique Moreira Bessa tomará a responsabilidade de fazer cem carretos, pelo menos, de pedra para o edificio da escola a construir: Em virtude desta resolução foram entregues ao paroco da freguesia as chaves da Ermida».

    ARROLAMENTO

    DOS BENS

    EXISTENTES

    NA CAPELA

    DE S. SILVESTRE

    EM 1911

    O texto oficial referente ao arrolamento da Capela de S. Silvestre, exarado por ordem do Governo Provisório republicano, na sequência da aprovação da Lei da Separação das Igrejas do Estado é do seguinte teor:

    «Aos dois dias do mês de Agosto de anno de mil novecentos e onze, n’esta freguesia de Ermesinde, e no edificio da Capella denominada de São Silvestre, do logar da Ermida, onde compareceu o cidadão Dr. Joaquim da Maia Aguiar, administrador d’este Concelho, e bem assim o cidadão Amadeu Ferreira de Sousa Villar presidente da Junta de Parochia, indicado previamente pela Camara Municipal do referido Concelho, comigo Joaquim de Carvalho Costa Camões, secretario de finanças e da Commissão Concelhia de inventario, para os fins consignados no artigo 62 da lei da Separação das Egrejas do Estado; e assim principiamos o arrollamento e inventario da forma seguinte:

    Uma pequena capela no logar da Ermida que confina de todos os lados com o Adro, tendo dentro um altar e uma imagem de São Silvestre».

    Esta última afirmação, foi riscada no dia 28 de Dezembro do ano 1921, com a seguinte nota escrita por cima: «Cedida, a título definitivo à Junta de Freguesia, para construção de uma escola pela quantia de 100$00».

    Contudo, como acima se viu, um ano exacto depois, ou seja no dia 28 de Dezembro de 1922, a Junta de Freguesia concordou com a proposta que lhe foi feita por uma Comissão de Católicos e entregou a chave da Capela ao Pároco de Ermesinde.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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