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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-03-2010

    SECÇÃO: Editorial


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    Domingo de Páscoa

    Acordávamos cedo, uma hora antes das cruzes saírem já estávamos todos à entrada da casa. Nesse dia estreava sempre um vestido e uns sapatos, toda vaidosa estendia flores na frente da casa e alisava vezes sem conta a “cama” da cruz constituída por três toalhas, duas de linho e renda e uma de cambraia bordada, duas almofadas uma de renda e uma também de cambraia a condizer com a toalha.

    Tudo era tratado com muito cuidado para não se estragar, eram tecidos muito delicados e herdados pela minha avó de um tio padre que ela acompanhou desde pequena.

    Ouviam-se as campainhas no largo da igreja, era uma excitação, primeiro o meu avô e mais tarde o meu pai, de fato escuro e gravata aguardavam na rua a chegada do compasso.

    Os miúdos da vizinhança corriam até ao largo da igreja e iam trazendo as novidades:

    – Este ano é o senhor abade que vem para o largo da estação!

    Para a Cancela vai um padre novo…

    Até que estouravam os foguetes, agora é que vão mesmo sair – dizia o meu irmão mais velho.

    A minha avó, sempre muito atenta, queria os netos junto dela e ficava muito preocupada com o Manel, que ficava deslumbrado com os foguetes e enquanto eles não parassem de estourar não ouvia nem via ninguém.

    A mesa era outra tentação, nesse dia mal tomávamos o pequeno-almoço, porque depois da passagem do compasso esperava-nos mesa farta de doces, chocolates e amêndoas.

    A Páscoa era pretexto para reuniões familiares, para visitar vizinhos e amigos.

    Hoje a Páscoa perdeu o seu encanto festivo, as ruas já não cheiram a alecrim e rosmaninho, esperamos pela Páscoa para aproveitar uns dias de descanso, quem puder…

    Esta necessidade de correr, correr, convencidos de que agarramos o tempo, só serve para perder o que de mais profundo tem a vida.

    Saber ver, ouvir, sentir os cheiros, a alegria e a tristeza, dá-nos uma paz e uma força, é como que carregar baterias. A criatividade, a concentração saem reforçadas e, ao contrário do que muitos pensam, produzimos mais e melhor.

    Aceito que sou muito rural, mas dou-me bem com isso, preciso de flores muitas flores, de sentir a Primavera com a sua força de renovação que me dá alento para continuar.

    A Páscoa é essa força, essa vontade de vencer que se espera com ansiedade, ficou-me de criança essa necessidade de festa de encanto que se encontra nas coisas mais pequenas, num simples sorriso, num abraço…

    O conforto e a energia que se adquire nos encontros familiares e de amigos ajudam a ter mais presente os que partiram e a acreditar que vale a pena continuar nesta luta, porque há sempre uma Páscoa independentemente das nossas crenças e convicções.

    A Páscoa é a Primavera das nossas vidas.

    Por: Fernanda Lage

     

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