Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 30-03-2010

    SECÇÃO: Cultura


    Uma viagem no tempo

    Ágorarte promoveu visita à Quinta de Villar d’Allen onde se respiram ainda os ares bucólicos do Romantismo

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    A Ágorarte proporcionou aos seus sócios e amigos uma visita à Quinta de Vilar d’Allen, no Porto. O grupo constituído por três dezenas de pessoas foi acompanhado por José Alberto Allen, um dos herdeiros da propriedade, que conserva religiosamente o património, a arte de bem receber e o bom gosto dos ambientes requintados do Romantismo. Tudo isso, herdado de seu trisavô João Allen e de quantos lhe sucederam.

    Datam dos fins do século XVII e princípios do século XVIII os primeiros registos que se conhecem dessa herdade, actualmente uma das raras sobreviventes de um numeroso grupo de quintas que circundavam a cidade do Porto. Algumas instalaram-se no Vale de Campanhã ou Campanhã de Baixo, provavelmente porque as extensas zonas verdes que por ali existiam, férteis e abundantes em água favoreciam a actividade agrícola que durante séculos foi o esteio económico dessa zona, então periférica, da cidade do Porto.

    REFAZER

    A NATUREZA

    A Quinta de Villar d’Allen, situada ao fundo da Rua do Freixo, foi comprada em 1795, como referiu José Allen, por seis contos de reis (uma fortuna para a época) por um abastado industrial de curtumes, de seu nome Simões, que ali residiu e instalou a sua actividade. Em 1838 foi legada em testamento à Misericórdia e um ano mais tarde, adquirida em hasta pública por João Allen, negociante inglês de vinho do Porto.

    Bacharel em Artes por uma Universidade dos Estados Unidos para onde partira com apenas 12 anos de idade, João Allen provavelmente influenciado pelas novas ideias e pelo gosto das criações paisagísticas, valorizou a casa, transformando-a numa residência de Verão típica do Romantismo do século XIX.

    Para além do palacete de arquitectura austera, visível a quem passa na estrada que liga o Porto a Valbom, deparamos com um jardim ornamentado segundo uma criação romântica. É patente o gosto por uma natureza inventada mas disciplinada, como esclareceu o anfitrião José Allen, logo no início da visita.

    Caminhos assimétricos e sinuosos marcam todo o conjunto. Tudo se mantém, aliás, como fora originariamente imaginado e projectado por João Allen e continuado por seu filho Alfredo Allen.

    PAISAGENS

    REINVENTADAS

    foto

    Tal como o seu progenitor, Alfredo Allen que, para além da sua forte paixão pelo coleccionismo de artes era também botânico e paisagista por formação, acabaria por ampliar o projecto de seu pai ao comprar as vizinhas quintas da Vessada e de Vila Verde.

    Alfredo Allen viria então a transformar a paisagem da quinta, predominantemente agrícola, num belo jardim, onde os caminhos, entre lagos, ribeiros e cascatas, parecem ter sido rasgados pela natureza. Em determinados espaços estratégicos, algumas esculturas e fogaréus e um lindo chafariz que pertenceu ao Convento de Monchique passaram a embelezar este autêntico bosque que mais parece saído de um conto de fadas.

    São inúmeras e fazem parte de um inventário quase inquantificável as raras variedades arbóreas e florais, aqui e ali classificadas com notações científicas, as quais vão sendo explicadas e apresentadas por José Allen ao grupo de visitantes, com um contido mas justificado orgulho. Tanto ele como a esposa são afinal os responsáveis pela conservação da quinta e pelos viveiros que ali mantêm e que despertam o encantamento de quem por ali passa, sobretudo pelas suas famosas camélias.

    Dos espécimes mais raros e que não deixam dúvidas quanto à influência de Alfredo Allen na transformação daquele espaço, destacam-se uma imponente araucária Bidwill plantada em 1862. Importada da Austrália esta árvore de formato esguio e com uma copa arredondada no topo tem 50 metros e é geralmente apontada como uma das mais altas do Norte do País.

    Um interessante grupo de palmeiras “chilensis”, assim designadas por serem originárias do Chile e muito raras em Portugal, são igualmente marcas deixadas por Alfredo Allen que foi também um dos responsáveis pelos projectos dos jardins da Cordoaria e do Palácio de Cristal.

    Depois, as glicínias, as magnólias e as madressilvas com os seus perfumes e cores exuberantes preenchem este refúgio portuense que vale a pena conhecer.

    Por: Álvaro Mendonça

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].